Os índios vão invadir a próxima novela da Globo, “Novo Mundo”. Na trama, que estreia em março, Chay Suede, Rodrigo Simas, Giullia Buscacio, Allan Souza Lima e Jurema Reis viverão personagens indígenas na história que conta as origens da colonização do Brasil a Independência do país. Para isso, o grupo de atores mergulhou fundo na cultura e nas tradições dos povos indígenas tupiniquins. Por cinco dias, Chay, Rodrigo, Giullia, Allan e Jurema conviveram com os índios da Aldeia Parkatejê, em Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do Pará.
Por lá, o elenco da trama de Alessandro Marzo e Thereza Falcão conheceu a realidade deste povo e puderam fazer um laboratório completo para os próximos personagens. Em entrevista ao HT, Allan Souza Lima nos contou dos cinco dias mergulhados no universo dos Parketejês. Ele, que vai viver um cacique em “Novo Mundo”, disse que, desde o primeiro momento, se inseriu naquela vivência e fez parte de corpo e alma do dia-a-dia da aldeia. “Apesar de lá até ter sinal de telefone, mesmo que ruim, eu e os outros atores combinamos de ficar aquele período desligado do mundo dos brancos. Então, eu realmente fiquei muito inerte naquela experiência e pude viver de perto esse choque cultural. No primeiro dia, quando eles souberam que eu que ia fazer o cacique, já participei de uma corrida de tora e carreguei nas costas um tronco de 70 kg. Além dessa competição, também participei de rituais e outras disputas, como corrida com vara”, relembrou.
Um desses rituais, importantíssimo, por sinal, foi o batismo de Allan Souza Lima na cultura da Aldeia Parketejê. Ele, que voltou da tribo no sábado de manhã e revelou que ainda está em processo de absorção da experiência e apenas ontem saiu de casa pela primeira vez, foi batizado pelo próprio cacique do grupo. Allan agora é parte dos Parketejês e também pode ser chamado de Akroiarere Pajareteti Topramre. “Eu confesso que ainda estou tentando processar tudo o que eu vivi lá na tribo. Mas um dos momentos mais especiais foi quando eu fui batizado e me tornei um deles. O nome que eu recebi é referente ao que eles viram em mim. Os índios olham e analisam a pessoa e criam o nome a partir das percepções. Então, a partir do momento que o cacique confia em alguém, esse indivíduo já se torna parte da família”, explicou o ator que já tem planos para reencontrar os novos amigos. “Quando terminar a novela, eu quero voltar para a tribo por conta própria. Meu plano é ficar de dez a doze dias inerte naquela realidade e isolado da sociedade. Quando nós viemos, o cacique me disse que eu já faço parte daquele grupo e que posso voltar quando quiser. Ele até disse que me busca no aeroporto”, contou sem esconder a felicidade.
Em uma experiência tão rica e plural, Allan Souza Lima, que mesmo antes desta viagem já era amante e vivia a natureza de perto, nos disse o que aprendeu e destacou da rotina por lá. Apesar de não poder revelar muitos detalhes da vida íntima dos indígenas por um pedido da FUNAI, fundação que ampara e é responsável pelos índios brasileiros, o ator apontou duas percepções especiais ao HT. “O tempo para eles é algo muito precioso. Entre as atividades na tribo, não há aquela correria e pressa como nós temos aqui na sociedade branca. Eles fazem tudo com muita calma, analisando e respeitando a natureza. E não é porque eles não têm tarefas diárias como nós. Pelo contrário. Os índios caçam, plantam, fazem as comidas, praticam rituais… Fora isso, a coletividade também me impressionou muito. Eles estão sempre pensando no outro e no resultado do grupo”, disse.
Outra ideia que foi quebrada nestes dias na Aldeia Parketejê foi a do isolamento indígena. Embora a tribo não abra mão de suas tradições milenares, Allan Souza Lima contou que os índios são antenados e alguns já possuem até conta no Instagram. “Quando nós chegamos, eles estavam, inclusive, discutindo sobre a questão da FUNAI. Por mais que eles vivam em aldeia, todos juntos seguindo a sua cultura, tem alguns índios que trabalham na cidade, estudam, têm celular, usam internet, votam, sabem das questões políticas. Mas tudo isso sem deixar suas raízes”, contou Allan, que ressaltou que a modernidade e a vida na cidade grande está mais presente na vida dos jovens. “Alguns índios mais velhos não sabem nem falar português. Eles se comunicam apenas no dialeto dos próprios Paketejês”, completou em referência aos nativos que dizem ter entre 90 e 100 anos.
No entanto, nem tudo foi só maravilha e descoberta. Na verdade, a positividade e a satisfação esteve presente em todos os momentos. Mas Allan Souza Lima também passou por situações mais peculiares, digamos assim. Quando foi batizado, o ator seguiu o ritual e comeu uma iguaria local. “Eles me deram um jabuti enrolado na folha de bananeira para eu comer depois do meu batizado. Segundo eles, era o que o cacique anterior, que morreu há dois meses, mais gostava. Só que eu estava tão inserido naquela realidade e no espirito da tribo que nem pensei duas vezes: abri a folha, meti a mão e comi o jabuti”, relembrou Allan que contou o que achou. “Eles não temperam e nem cozinham como nós. Os índios simplesmente matam o animal, enrolam na folha, colocam na fogueira e comem. Não era ruim. Tinha um gosto de carne ensopada e era meio mole. Mas, no momento, eu confesso que nem pensei nisso”, revelou. E aí, vocês comeriam?
Apesar de as gravações de “Novo Mundo” já terem começado, já que a novela estreia em março, o núcleo indígena da trama ainda não iniciou as filmagens. Para as cenas como o cacique do folhetim que ainda não tem nome, o ator já sabe o que irá usar da experiência. “Tem um detalhe que eu reparei no cacique da Aldeia que é muito importante para o personagem. Na tribo, esta figura não é tratada como um líder ou como alguém que manda nos outros índios. O cacique é apenas um representante daquele grupo”, destacou.
Enquanto as gravações não começam, Allan Souza Lima permanece com as lembranças da viagem. Além das memórias, o ator trouxe da tribo do interior do Pará pinturas e presentes. Na pele, Allan estampa desenhos feitos com semente de jenipapo que devem permanecer pelos próximos dez dias. Na mala, o ator contou que trouxe algumas lembranças da tribo, como um arco com algumas flechas que ganhou após receber o batismo. “Alguns artigos que eu ganhei serão essenciais para a equipe de arte da novela usar e reproduzir”, destacou o ator que, por um pedido da Globo, não pode revelar detalhes e informações sobre o personagem e a novela “Novo Mundo”.
Assim como Allan Souza Lima não escondeu a gratidão, Rodrigo Simas, entre um registro e outro da experiência com a Aldeia Paketejê, agradeceu aos nativos pela recepção e acolhimento. “Difícil escolher uma foto que descreva o que vivemos essa semana. Só tenho a agradecer a família Paketejê por ter nos recebido com tanta generosidade e alegria”, disse Rodrigo que compartilhou do mesmo sentimento de gratidão da atriz Jurema Reis. “Foi intenso, profundo e cheio de amor. Obrigada amigos! Somos um”, agradeceu.
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