Comida di Buteco chega à saideira e consagra o primeiro bar de comunidade como o grande campeão de 2016. Vem saber!


Pela primeira vez nas cinco regiões do país, o campeão do Rio vai concorrer ao título de melhor boteco do Brasil

Salada de feijão fradinho acompanhada de lula, camarão, peixe e mexilhão. Sim, leitor, essa foi a receita campeã do Comida di Buteco 2016 do Rio de Janeiro. O petisco, criado por David Bispo do Bar do David, o primeiro boteco de comunidade campeão do concurso, foi o mais votado entre os 46 bares que disputavam o festival neste ano. O HT, que não perde uma, marcou presença na final do concurso que rolou no Rio Scenarium, no Centro do Rio, e conta todos os detalhes. Adiantamos que teve menu degustação de dez petiscos participantes e muito samba. Desde já, alertamos que há fotos provocativas nesta matéria. Portanto, caso esteja com fome, querido leitor, se prepare. Vambora!

Petisco campeão do Comida di Buteco 2016 (Foto: Divulgação)

Petisco campeão do Comida di Buteco 2016 (Foto: Divulgação)

Direto do Chapéu Mangueira, no Leme, David Bispo, autor do petisco “Ressurgência” disse ao HT que o fato do campeão desse ano ser de uma comunidade traz visibilidade para todos os estabelecimentos espalhados pelos morros da cidade. “Todas as favelas estão representadas pelo Bar do David. Isso traz muito reconhecimento para o comércio dos morros, além de gerar empregos dentro da nossa comunidade. Para a gente, isso foi um diferencial muito grande, me sinto realizado em poder transformar vidas. O nome do meu prato se chama ressurgência, justamente, por esse panorama das comunidades. Em um primeiro momento, a favela era o patinho feio da cidade. E agora, ela surge como ponto turístico. Isso para mim é ressurgência, e significa muito”, afirmou o campeão que irá representar o Rio de Janeiro, pela primeira vez, nacionalmente no concurso.

David Bispo, autor do prato campeão, ao lado dos organizadores do evento durante a premiação (Foto: Divulgação)

David Bispo, autor do prato campeão, ao lado dos organizadores do evento durante a premiação (Foto: Divulgação)

Em 2016, após o Comida di Buteco marcar presença nas cinco regiões do país, em mais de 20 cidades e com cerca de 500 bares participando, o concurso irá eleger o melhor boteco do Brasil. Em entrevista ao HT, a gerente regional do Comida, Cristina Schirmer, conhecida como Crica pelos botequeiros, explicou que três jurados irão percorrer os 20 bares campeões de cada cidade para, no dia 5 de julho, no Rio de Janeiro, anunciarem o estabelecimento mais votado para o título nacional. Segundo ela, o festival que surgiu em 2000 em Belo Horizonte com apenas dez bares participando, tem como missão, principalmente, proporcionar o crescimento desses pequenos negócios através da valorização da comida de raiz.

“O concurso tem uma missão muito importante que é transformar vidas através da cozinha de raiz. Significa que, quando o Comida di Buteco convida um bar para participar, o dono do estabelecimento não paga nada por isso. Quando o pequeno empresário entra, ele é, muitas vezes, um mero desconhecido, que só os vizinhos de bairro o conhecem. E, com o concurso e a mídia que nós oferecemos, o público passa a frequentar mais esses bares. Nós buscamos transformar esses negócios, para que eles sejam conhecidos e que isso modifique as suas vidas”, disse ela, que afirmou, ainda, que o lucro dos bares durante o concurso varia de 30% a 200%. U-au, hein?

Concurso premiou os cinco melhores colocados (Foto: Divulgação)

Concurso premiou os cinco melhores colocados (Foto: Divulgação)

Outra novidade desse ano foi que não houve um tema ou ingrediente obrigatório para os bares participantes seguirem. No entanto, de forma inclusive estratégica, a produção do evento estipulou o valor máximo de R$ 25,90 para todos os pratos do Comida di Buteco. Apesar da crise econômica que o país passa, o balanço do concurso é que o resultado desse ano, em números de pessoas que foram aos bares, foi superior ao de 2015. Como os botequeiros disseram ao HT, há um lema no concurso que diz que no Comida di Buteco não há crise. “Sumiu a crise. De repente, as pessoas foram para os bares comer e votar. O movimento do público com esse concurso mostrou que, mesmo com a situação econômica do país, as pessoas não deixaram de ir aos bares comer, beber e participar”, disse a gerente regional do Comida di Buteco.

"Delação Premiada" ficou em segundo lugar no Comida di Buteco de 2016 (Foto: Divulgação)

“Delação Premiada” ficou em segundo lugar no Comida di Buteco de 2016 (Foto: Divulgação)

E foi exatamente isso que o vice-campeão Paulete, do bar Colarinho Branco, em Nova Iguaçu – em 2016 também foi a primeira vez que a Baixada Fluminense foi incluída no concurso do Rio de Janeiro –, nos contou. Com o petisco “Delação Premiada”, que eram carnes de porco envolvidas com queijo provolone, bacon e empanadas com queijo parmesão, ele afirmou que o lucro teve que ser deixado de lado para que garantisse a qualidade do prato. “O custo dele, de quando foi criado para a época do concurso, teve um salto muito grande. Eu achei muito legal e concordo com essa política que eles adotaram. Antes, eu via abusos por parte dos botecos e um certo oportunismo. Em um ano de crise, foi a decisão mais acertada. Nós tivemos que fazer um ajuste no preço original para continuar servindo, em função do limite estipulado. Mas o grande barato era apresentar um produto diferenciado e elaborado”, disse Paulete, que é irmão da chef Kátia Barbosa, criadora dos famosos bolinhos de feijoada.

Paulete, do bar Colarinho Branco, foi o vice-campeão (Foto: Divulgação)

Paulete, do bar Colarinho Branco, foi o vice-campeão (Foto: Divulgação)

O dono do bar Art Chopp, da Taquara, Diogo Freitas, que ficou em terceiro lugar com uma receita cheia de queijo e acompanhada de uma cachacinha, em homenagem ao sangue mineiro que tem, segue a mesma opinião do vice-campeão em relação à crise. Calma, o que é isso? “A crise está na cabeça de cada um, e na nossa nunca esteve. No Comida di Buteco não tem crise, não existe isso. A nossa maior dificuldade não foi no preço do petisco, foi em atender à demanda. Em um mês normal, a gente recebe entre 5 e 6 mil clientes. Durante o concurso, recebemos 20 mil pessoas”, completou o criador do “Bolinho à Mineira”.

Representantes do Art Chopp, terceiro colocado do concurso (Foto: Divulgação)

Representantes do Art Chopp, terceiro colocado do concurso (Foto: Divulgação)

Caso tenha se animado a virar um botequeiro e participar do concurso, o HT esclarece as regras. Segundo Crica, a gerente regional que nos colocou por dentro de todos os detalhes e critérios, para participar, não adianta ser bar grande e renomado. O Comida di Buteco busca, realmente, aquela birosca que tem no seu bairro e todo mundo conhece, sabe? “Para participar, o boteco precisa ser familiar ou com até dois sócios, mas o dono precisa estar à frente do negocio. A alma do boteco é o dono, que tem que estar lá todo dia. Então, não pode ser rede, franquia ou o dono ter mais de dois estabelecimentos. Nós sempre procuramos bares em que o dono está por trás do funcionamento e que vive daquilo diariamente. Essa é a nossa pegada. Além disso, claro, tem que ter cozinha, comida boa e o mínimo de higiene”, explicou.

Tira-gosto em homenagem à familia mineira apresentado pelo Art Chopp, da Taquara (Foto: Divulgação)

Tira-gosto em homenagem à familia mineira apresentado pelo Art Chopp, da Taquara (Foto: Divulgação)

E por falar em higiene, o Comida di Buteco recebe o apoio do SindRio, o Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do município do Rio. Em conversa com o HT, o presidente Pedro de Lamare, disse que o sindicato disponibiliza informações técnicas e consultoria de higiene alimentar para garantir o padrão nos bares. E que, inclusive, levou o Superintendente de Vigilância Sanitária do Rio de Janeiro para uma visita às cozinhas dos botecos participantes. O que ele achou por lá? “O superintendente ficou encantado com o que viu. Com essas medidas, nós passamos a fazer com que esses pequenos negócios passem a ter uma consciência maior de questões técnicas do setor. E quando você leva o chefe da vigilância sanitária, você faz uma inclusão desse setor em outro estágio”, pontuou o presidente da SindRio. Vai um chopp aí?