*Por Jeff Lessa
A relação do chef veneziano Alessandro Cucco com o Brasil começou com uma história de amor. Ele trabalhava em um hotel em Londres quando conheceu a brasileira Verônica. Apaixonou-se, veio atrás dela, casou-se e abriu um restaurante, o Luigi’s, que permanece firme e forte na Rua Senador Correa, em Laranjeiras, mas sem comando do italiano. De lá para cá – o “lá” foi o ano de 1988, quando essa história começou – ele teve um filho, separou-se de Verônica, abriu a Osteria dell Angolo (que fez imenso sucesso por 22 anos na esquina (“angolo”) de Paul Redfern com Prudente de Moraes, em Ipanema, lutou contra um problema de saúde e fechou a Osteria. Agora, o chef parte para uma nova empreitada: ele é consultor na Charles Lucky Osteria, que abriu quinta-feira (dia 22) com seu filho, Marco, no Casa & Gourmet Shopping, em Botafogo.
“Como não posso trabalhar pesado, sou o consultor do Marco. Não vou jogar fora 30 anos de experiência, porque tenho que pegar mais leve no trabalho”, diz o chef, que em maio inaugurou o Leone, na Rua Conde de Irajá, no Humaitá, dedicado à cozinha veneziana. “Meu filho vai tomar conta de tudo. É preciso ter dedicação integral, pois, se não ficar de olho a qualidade cai. Vai ser tranquilo para ele, que sempre respirou restaurante. Viveu na cozinha, desde cedo tinha gosto por comida, pela preparação dos pratos, já sabia os ingredientes de tudo”.
(Três curiosidades: Marco foi batizado assim em homenagem ao patrono de Veneza, São Marco. Leone é porque o restaurante fica perto do Largo dos Leões. E o Luigi’s recebeu o nome do pai do chef: “Ele me emprestou o dinheiro para essa empreitada no Brasil”, conta, rindo.)
Como filho de peixe, Marco, de 28 anos, também vai preparar cozinha veneziana em sua osteria (taberna, em português). “Toda a nossa cozinha é do Norte da Itália. Muita hortaliça do mar, muitos peixes. A culinária italiana é simples, mas com muito sabor e tradição. É regional e sazonal, ou seja, a gente usa o que encontra na estação”, conta Cucco. “Estamos focados nos frutos do mar. Vamos pesquisar peixes no mercado, sempre os mais frescos, bonitos e gostosos. Até hoje os pescadores me ligam oferecendo seus produtos. Se vou ao mercado e não está bom, não vendo. Mudo o cardápio. Temos um menu fixo com sugestões toda semana”.
Não vão faltar, também, os antepastos, as pastas e as bruschettas (de tomates frescos, manjericão e cogumelos), delícias que podem estrelar o menu o ano inteiro: “No Brasil, vocês têm tudo o ano todo. Frutas, verduras, absolutamente tudo pode ser encontrado ao longo das estações, que não são definidas. É muita fartura e, às vezes, a quantidade supera a qualidade. Mas aqui, eu aprendi que tem um período em que a manga é mais gostosa, em que a sardinha é mais apetitosa, também. Tem que usar nos momentos certos”.
Além de aprender com a prática a identificar essa sazonalidade dos ingredientes brasileiros, Alessandro Cucco contribuiu para a imensa evolução pela qual os restaurantes italianos passaram no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro. “Quando cheguei, praticava-se uma culinária dos anos 1800, dos imigrantes pobres que tinham vindo para o país em busca de uma vida melhor. A cozinha italiana ficou caracterizada no país pelas massas pesadas, pelo molho de tomate idem… Não foi pouco o que evoluiu, foi demais, muitíssimo”, entusiasma-se. “Para você ter uma ideia de como o desconhecimento era grande, tive um cliente que reclamou comigo porque eu usava queijo e tomate nos pratos! Disse que tudo era à base de queijo e tomate e que esses ingredientes não combinavam! Eu fiquei na minha, ouvindo a bronca”.
O chef conta que trabalhava dia e noite, pois tinha que preparar as massas em casa, além de não contar com boa mão de obra. “A importação era proibida, lembra? O sabor era de massa já passada, tínhamos que fazer nós mesmos. Os únicos azeites eram portugueses. Os vinhos… Tinha o Almadén e aqueles vinhos de garrafa azul alemães, Liebfraumïlch. Eram terríveis. Junte-se a isso que não havia bons cozinheiros no mercado, não eram formados por faculdades, nada. Eu precisava ensinar tudo desde o começo”.
Mas isso foi a long, long time ago, quando os bons restaurantes italianos da cidade atendiam pelos nomes de Le Streghe, Satyricon, e Arlecchino, entre pouquíssimos outros. “Eram caros e ficavam todos na Zona Sul. A cozinha italiana é feita para os amigos, é uma cozinha de companhia. O pior para o cliente é se reunir com os amigos e comer mal pagando caro. É por isso que não quero maître, cumim, garçom de luvas brancas, tudo isso encarece os custos. Estou sempre tentando fazer os preços mais baixos possíveis”, diz. “A receita é quanto mais simples melhor. E isso vale para os pratos, também. Não gosto de molhos elaborados, cremes, manteiga e reduções que mascaram o paladar dos ingredientes”.
Isso poderia ser uma indireta para a cozinha francesa, célebre por seus cremes, molhos etc? “De jeito nenhum! Depende. O Troigros faz uma comida excelente, que eu adoro. Ele faz uma cozinha francesa que não é típica, não bota molho em cima de molho, não usa manteiga, creme de leite”, elogia o chef. E a cozinha brasileira? “Também gosto muito. O feijão foi uma das melhores coisas que encontrei aqui”.
Mas não esperem encontrar feijão nas cozinhas comandadas por Alessandro Cucco.
SERVIÇO:
Charles Lucky Osteria
Casa & Gourmet Shopping: Rua General Severiano 97, Botafogo – 3518-4046
Cartões de crédito: Visa, MasterCard, Maestro, Amex, Elo e Alelo Refeição
Do meio-dia à meia-noite
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