Os números são incríveis. Em nove anos, 36.520 mudas de restinga foram replantadas por 2.000 crianças de escolas públicas do Rio em uma área de 10.513 m² entre as praias de Ipanema e Leblon. Os outros números são tristes e envergonham. Em quatro dias de Carnaval, tudo isso acabou por causa da falta de planejamento da órgãos governamentais e educação dos foliões cariocas. Esta é a realidade das dunas da orla da Zona Sul que ficaram completamente destruídas após a passagem dos blocos pelas praias de Ipanema e Leblon.
O projeto, que é uma iniciativa do Instituto E com apoio da Osklen e Havaianas, hoje se resume a areia pisada e cercas estragadas. “É como se tivessem levado meus bens. Foram três anos de concepção e nove colocando a mão na massa e trazendo crianças da rede pública para ensinar sobre a importância do replantio. Foram muitas noites perdidas de diversos colaboradores se dedicando à causa”, lamentou Duda Tedesco, que é responsável por traduzir o projeto de Oskar Metsavaht, diretor da Osklen, em atitude.
Para o colaborador do Instituto E, o sentimento que fica é de tristeza. E não pense que Duda é contra os blocos de Carnaval. Pelo contrário. De acordo com o colaborador do Instituto, o problema não é a festa. “Eu acho que as pessoas têm que curtir mesmo. Porém, a praia não é um lugar apropriado. Aquela é uma área de proteção ambiental constante. A grande questão disso tudo é que aquele não é um lugar que comporta um evento para tantas pessoas. É a mesma coisa de querermos colocar 20 mil pessoas em um quadrado de 10m². Não dá, a matemática não fecha”, disse Duda Tedesco que não acredita que tenha faltado proteção às dunas. “Mesmo se a gente tivesse colocado barras de ferro ali, as pessoas iam arrancar. E pior: iam tirar o ferro, jogar em cima da restinga e pisar de qualquer jeito. Até porque, se elas não invadem a área, elas que são pisoteadas”, apontou.
No entanto, bloco na praia de Ipanema, multidão e dunas de proteção ambiental são uma mistura de anos no Carnaval do Rio. Mas, de acordo com Duda Tedesco, antes a o cuidado era maior. “Tinha mais proteção e eu acho que o volume era menor. Eu não quero politizar porque este é um projeto que segue vivo há dez anos, ou seja, já passou por vários governos. Mas precisa-se entender que as praias de Ipanema e Leblon não comportam essa multidão”, reforçou o colaborador do Instituto E que acredita que a falta de educação da sociedade seja um problema, mas não a causa.
Como solução, Duda Tedesco acredita que o Carnaval de Rua do Rio deva seguir o mesmo caminho dos desfiles de escola de samba. Assim como a Marquês de Sapucaí fora criada para comportar os grandes carros e as multidões do componentes e espectadores, espaços amplos devem ser ocupados por estes grandes blocos. “É só colocar na Sapucaí, no Aterro do Flamengo, no Maracanã. Todos esses lugares são enormes e têm condições de receber um público de bloco tradicional. Inclusive, o Maracanã está fechado e nem vai sediar a final do Campeonato Carioca para fazerem show lá dentro. Por que não fazem bloco também?”, sugeriu.
O fato é que, entre falta de planejamento, educação e lamentações, o que resta é um trabalho destruído e um sentimento de falta de respeito à cidade e à natureza. “A gente tem que ir rumo à sustentabilidade da praia. Eu não estou aqui para falar se o poder público agiu certo ou errado. O meu trabalho é fazer com que a iniciativa privada continue reconhecendo a importância de ajudar o meio-ambiente como projetos duradouros. A Osklen e a Havaianas não fazem shows que depois que acabam, não deixam nada para o município”, comentou Duda Tedesco que garantiu que não vai desistir de seu sonho. “Eu estou há dez anos nisso e não vou largar agora. Meu trabalho de recuperação das dunas vai continuar. Agora vou ter que fazer vaquinhas virtuais para conseguir recursos para recuperar o que foi destruído porque as duas marcas não têm nada a ver com isso. Elas pagam para adotar as áreas e eu manter as dunas replantadas. É responsabilidade do Instituto E”, disse o colaborador Duda Tedesco.
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