“Se um professor tivesse mesmo prestígio de um jogador de futebol seria incrível”, diz Jéssica Ellen


Na pele da combatente Camila, em “Amor de Mãe” a atriz fala de educação, arte e cultura no país, e também dos planos profissionais – como o desejo de fazer o programa Popstar – e também, aproveita o Dia Internacional da Mulher, neste domingo, 8 de março, para destacar a relevância da data, que marcou o início das lutas femininas por seus direitos. “Vivemos situações em espiral, então desejo consciência e respeito. O que queremos é igualdade de gênero, e que mais pessoas, homens e mulheres, tenham consciência que o feminismo ajuda a gente a entender e colocar isso em prática. E quando falamos de uma mulher negra, isso piora. Fomos resumidas a um corpo durante muito tempo, e não se olhava para um corpo negro com alguma atenção. Sempre fomos vistas como mulheres mais fortes. A fragilidade em uma mulher branca é mais aceitável, mas uma mulher negra também precisa ser enxergada, cuidada, compreendida nas suas fragilidades. Precisa de respeito, afeto e amor. E isso, todas as mulheres precisam e merecem”

*Por Brunna Condini

Jéssica Ellen, que vive Camila, a batalhadora filha de Lurdes (Regina Casé) em “Amor de Mãe”, confessa estar surpresa com a repercussão da personagem, que se tornou popular, e a mais buscada no google desde a estreia, segundo pesquisa encomendada pela colunista Patricia Kogut. “Não esperava esse sucesso todo e cresço muito também por estar ao lado de grandes atrizes. A Camila é especial, muito real. Tem esse propósito da educação, quer transformar os alunos. Só deste ser o mote dela, já fico emocionada. Mas me surpreende esse retorno todo, e me deixa muito feliz”, garante sobre o trabalho na trama, que tem como protagonistas Adriana Esteves e Taís Araújo, ao lado de Regina Casé.

“Não esperava esse sucesso todo e cresço muito também por estar ao lado de grandes atrizes. A Camila é especial, muito real” (Foto: João Cotta/Globo)

Camila tomou conta da vida de Jéssica mesmo. Tanto, que a atriz que tem gravado de segunda à sábado, deu essa entrevista no trajeto de casa para os Estúdios Globo. Mas ela não reclama, sabe que é uma grande oportunidade viver uma personagem como Camila, porta-voz de temas relevantes. “Recebo muitas mensagens, de professores de todo Brasil nas redes, e também, de estudantes que pretendem se tornar professores. Eles se reconhecem na Camila, e é muito bom poder dar voz para isso. Isso me emociona”, conta Jéssica, que na pele de Camila, vive a primeira de uma família a se formar na universidade. “Acho mesmo, que em nosso país, se um professor tivesse o mesmo prestígio de um jogador de futebol, seria incrível. O educador precisa ser valorizado”. E revela: “Para viver a Camila, me inspirei na Sueli Maria, que foi minha professora de história. Ela era supersensível, e inspirava muito os alunos, entendia necessidade de cada um deles. Ela me inspirou muito, para a personagem e na vida”.

“Acho mesmo, que em nosso país, se um professor tivesse o mesmo prestígio de um jogador de futebol, seria incrível. O educador precisa ser valorizado” (Foto: Isabella Teixeira/Globo)

Nascida e criada na comunidade da Rocinha, Zona Sul do Rio, Jéssica sabe o valor da educação, que também transformou sua vida, já que estudou em escolas públicas e teve bolsas de estudos em ONGs. “A situação da educação e da cultura no Brasil está cada vez mais triste. Como artista, cidadã, lamento muito. A arte e a educação são agentes de transformação. Em qualquer outro país onde a cultura é desenvolvida, temos melhores cidadãos. Mas tento me manter otimista, acho que a é única forma para nos catapultarmos para tempos melhores”, avalia. “Temos que pensar em como estamos educando nossas crianças. Um país não se constrói sozinho. Converso muito com meus primos, que são crianças, para trazer um olhar otimista. Essa ação faz diferença na formação deles”.

Jéssica é potente como Camila quando fala das suas convicções. “Também me identifico com a Camila, nesta relação familiar dela. Tenho muitos irmãos. E nesta relação que ela tem com o namorado, o Danilo (Chay Suede) que é um parceirão”, diz a atriz, que namora o ator Dan Ferreira, que esteve na mesma trama. “Namorar um ator é uma experiência nova, entendemos muito a profissão um do outro, tem compressão com a rotina”.

Com Dan Ferreira: “Namorar um ator é uma experiência nova, entendemos muito a profissão um do outro, tem compressão com a rotina” (Divulgação Globo)

Na trama de Manuela Dias, vão ao ar nesta sexta-feira, cenas de passagem de tempo, em que Thelma aparece prestes a dar à luz ao filho de Camila e Danilo. Teria aceitado, como a personagem, que sua sogra fosse barriga de aluguel? “Não sei. Me sinto muito nova ainda para pensar em filhos, então não consigo imaginar mesmo a situação”, diz Jéssica, aos 27 anos. “Mas acho que a Manuela pode ter usado esta história da barriga de aluguel, para revelar outros caminhos. Mas vamos sabendo à medida que gravamos”.

“Me sinto muito nova ainda para pensar em filhos” (Foto: Wendy Andrade)

Com personagens fortes no currículo com a usuária de drogas na série “Justiça”, e uma paciente em “Assédio”, a atriz contabiliza dez anos de carreira. “E são oito anos de Rede Globo. A nossa profissão não tem descanso nos transformamos o tempo todo. Sempre acho que não vou saber fazer. Nunca estamos prontos, e esse eterno aprendizado nos move. A Camila é sem dúvida, uma personagem que está marcando, mas todos os personagens anteriores que trouxeram até ela, todos são importantes”.

“Tenho um monte de sonhos. Depois de descansar, viajar, quero fazer o Popstar, e até quero conhecer a Beyoncé” (Foto: Wendy Andrade)

Também cantora e compositora, ela lançou um EP em 2018, o “Sankofa”, com sons da diversidade rítmica afro-brasileira, e revela que depois que a novela acabar, em maio, quer se dedicar mais à música. “Tenho um monte de sonhos. Depois de descansar, viajar, quero fazer o Popstar, e até quero conhecer a Beyoncé”.

Sobre o Popstar, já fizeram contato com você? “Nada. Essa sou eu jogando para  o universo, vai que rola? Acredito nisso. Quero fazer o programa, me emociono e amo cantar”.

Aproveitando o dia Internacional da Mulher, neste domingo, 8 de março, Jéssica faz questão de destacar a relevância da data, que marcou o início das lutas femininas por seus direitos. “Vivemos situações em espiral, então desejo consciência e respeito. O que queremos é igualdade de gênero, e que mais pessoas, homens e mulheres, tenham consciência que o feminismo ajuda a gente a entender e colocar isso em prática”, esclarece. “E quando falamos de uma mulher negra, isso piora. Fomos resumidas a um corpo durante muito tempo, e não se olhava para um corpo negro com alguma atenção. Sempre fomos vistas como mulheres mais fortes.  A fragilidade em uma mulher branca é mais aceitável, mas uma mulher negra também precisa ser enxergada, cuidada, compreendida nas suas fragilidades, por exemplo. Precisa de respeito, afeto e amor. E isso, todas as mulheres precisam e merecem”.

‘O que queremos é igualdade de gênero, e que mais pessoas, homens e mulheres, tenham consciência que o feminismo ajuda a gente a entender e colocar isso em prática” (Foto: Wendy Andrade)