Murilo Benício fala sobre reta final de Pantanal, a estreia do seu segundo longa como diretor e reprises na Globo


Após o término da trama das nove, o ator foca as energias em “Pérola”, longa que vai ser exibido na 24ª edição do Festival do Rio de Janeiro, entre os dias 6 e 16 de outubro. “Posso ajudar os atores no set, porque sei o que estão passando”, reflete o ator, que está na reprise de “A Favorita”, e que, a partir do dia 26, vai poder ser visto também nas tardes da Globo, em “Chocolate com Pimenta”. Ele lembra cenas icônicas gravadas em um curral de porcos

O desfecho de um dos mais controversos personagens da carreira de Murilo Benício, o Tenório, do remake de Pantanal, se aproxima com o término da novela previsto para 7 de outubro. Mas, os fãs do ator poderão rever trabalhos dele na TV. Afinal, Murilo estará em dose dupla nas tardes da Globo. Em A Favorita, de 2008, que já está no ar, e em Chocolate Com Pimenta, trama de 2003/2004, que volta a ser exibida a partir do próximo dia 26. “É engraçado, é bom saber o quanto eu já trabalhei para a Globo”, diverte-se ele, que estreou na emissora há quase 30 anos, com Fera Ferida, em 1993. No momento, completamente empolgado com o atual personagem, ressalta a relevância de Tenório que tem o machismo entre uma de suas características principais. “Pessoas como ele ainda existem, então, é importante falarmos sobre elas, que estão aí, que votam. É importante também a gente se olhar no espelho e se qualquer um se reconhecer como um Tenório, que repense muitas coisas. Nós viemos de uma educação machista. Cabe a gente se reeducar”, alertou no Domingão Com Huck, o ator que no final do ano vai lançar Pérola, seu segundo longa-metragem como diretor.

Murilo Benício, que se destaca em Pantanal, vai lançar este ano segundo filme como diretor (Foto: Reprodução Instagram/José Loreto)

No mesmo programa, ressaltou a importância da parceria com Isabel Teixeira, intérprete de Maria Bruaca, mulher de Tenório. “Ela me ajudou muito. Mesmo sabendo que estava interpretando um personagem, eu tinha dificuldade de dizer muitas falas. Quando comecei a falar ‘Bruaca’, aquilo me fazia mal. Aí, uma vez, ela sentou e falou assim: ‘Bruaca pode ter sido um apelido até desse homem estúpido, mas em um lugar de brincadeira do casal. Ela trouxe a possibilidade desse histórico, de há muitos anos ter sido engraçado, só que foi se transformando e virou outra coisa”, frisou.

Para a companheira de cena, Murilo, inclusive, rasgou em elogios: “Aconteceu algo mágico nessa novela. É muito bom deparar com uma grande atriz que já tem um caminho bonito no teatro”, observou ainda no programa dominical. Para Isabel, mandou ainda um recado, quando ela participou do Mais Você. “Como a gente se diverte! O que vai ser de nós quando acabar essa novela? Foi uma honra incrível, aprendi muito ao seu lado. Não precisa nem dizer que somos melhores amigos pra sempre.” Emocionada, Isabel devolveu de forma categórica e contundente: “Ele é um mestre no que faz.”

Murilo Benício, Isabel Teixeira e Júlia Dalavia, caracterizados como Tenório, Maria Bruaca e Guta, em Pantanal (Foto: Globo/Fábio Rocha)

Sobre o personagem e sua trajetória, Murilo destacou outra peculiaridade: “Diria que ele é um cara com valores completamente deturpados, de um caráter que muda conforme a situação. Um cara muito bronco, que não teve um pai ou uma mãe, uma pessoa que veio de uma realidade dura, um sobrevivente, que se tornou uma pessoa bruta, com valores questionáveis. E as coisas que faz para alcançar os objetivos são irreais”, ponderou ao analisar o personagem ao GShow.

“Tenório é um cara com valores completamente deturpados, de um caráter que muda conforme a situação”, analisa Murilo (Foto: Globo/João Miguel Júnior)

Na ocasião, recordou ainda que sentiu uma grande pressão ao ser convidado para fazer Pantanal. “Esta é uma novela que já existiu, que todo mundo conhece e tem muito carinho. Existia de certa forma uma expectativa grande por este remake. Eu não queria colocar mais expectativa”, lembrou ele, contando que por isso optou por não assistir a versão original, em exibição em 1990, quando foi produzida, porque estava morando fora do Brasil.

Viemos de uma educação machista. Cabe a gente se reeducar – Murilo Benício

E. diante das maldades do personagem, procurou em outros momentos dar um tom de humor. “Assim que recebi o texto da novela, pensei que queria trazer o público para gostar dele e causar uma reflexão. Se eu fizesse só o mau ia causar um distanciamento real com o público. Busquei um lugar de humor para ele para conquistar algum carinho com o público, porque quando ele fizesse algum absurdo causasse uma reflexão maior”, explicou no Mais Você.

LEMBRANÇAS DE “CHOCOLATE COM PIMENTA”

A carga dramática de Tenório é sem dúvida bem diferente de Danilo, o protagonista que ele interpretou em Chocolate Com Pimenta, escrita por Walcyr Carrasco. Isso fica bem claro quando recorda os desafios especiais para criar o personagem e a sequência de cenas que mais o marcou. Lembro de ter tentado dar um tom bem diferente do que se espera. Queria fazer um herói covarde e acho que consegui. Tinham cenas em que eu apanhava. O Danilo morria de medo de brigar”, diverte-se. Foi nesse clima que se estabeleceu as tais cenas.

“Cheguei em uma externa para gravar a parte da história em que o personagem do Marcello Novaes tinha que jogar o meu na lama. Não era um curral, mas era onde ficavam os porcos e eu estava com uma preguiça de fazer essa cena. Enfim, fizemos, fiquei todo sujo de lama, tive que tomar um banho no meio da externa, fui embora pra casa super mal-humorado. Essa cena fez tanto sucesso, que o Walcyr escreveu mais três dessas para mim”, recorda, às gargalhadas.

Mariana Ximenes, Murilo Benício e Priscila Fantin, em Chocolate com Pimenta, novela que vai ser reprisada a partir do dia 26 (Foto: TV Globo/Gianne Carvalho)

Assim, é com muita felicidade que recebeu a notícia da reprise. “Essa novela tem aquele lugar especial na minha memória. Foi muito gostosa de fazer, divertida, com a direção do Jorginho Fernando (1955-2019), em uma época em que eu estava fazendo muitos trabalhos com ele (Vira Lata e Ti Ti Ti  foram algumas das tramas em que estiveram juntos). A equipe era engraçada, as pessoas muito legais. Então, lembrar dessa novela é como abrir um álbum antigo de fotos”, frisa ele, que brilhou também em novelas como O Clone e Avenida Brasil. E completou: “Chocolate com Pimenta se passa nos anos de 1920, uma novela de época, superdelicada, sem ser ingênua. Só lembro de coisa boa.” Na trama, ele vive o jovem mais bonito e popular da fictícia cidade de Ventura que se apaixona por Ana Francisca (Mariana Ximenes), considerada o ‘patinho feio’ entre a turma da escola. Mas para esse romance dar certo, tiveram que superar as interferências da jovem mimada Olga (Priscila Fantin), que não aceitava perdê-lo para a rival.

SEGUNDO LONGA-METRAGEM COMO DIRETOR

Agora, com o término de Pantanal, o plano de Murilo Benício é fechar Pérola, seu segundo longa-metragem. O filme será exibido na 24ª edição do Festival do Rio de Janeiro, que vai ser realizada entre os dias 6 e 16 de outubro, e estreará na época do Natal. Esse projeto teve início em 2018, quando o ator lançou O Beijo no Asfalto, que marcou sua estreia como cineasta. Este segundo longa, baseado na peça homônima de Mauro Rasi (1949-2003), mostra as desventuras da personagem título, matriarca de uma família de Bauru, interpretada por Drica Moraes. A partir da morte de Pérola, o filho, Mauro retorna para sua antiga casa e momentos da família são revividos. Em parceria com Marcelo Saback, Adriana Falcão e Jô Abdu, Murilo também assina o roteiro.

“Trabalhando como diretor, fiquei com uma visão muito maior da profissão”, explica Murilo (Foto: TV Globo/João Miguel Júnior)

“Sei o que me falta, porque montei um filme. E aí começo a entender mais os diretores, a ter mais paciência. Fiquei com uma visão muito maior da profissão. Me amadureceu bastante. Acho que posso ajudar os atores no set, porque sei o que eles estão passando. A gente vê tanto diretor que não tem noção do universo do ator, então, isso eu posso trazer para eles”, refletiu ao GShow ao lançar o primeiro filme, a mais recente adaptação cinematográfica do texto clássico de Nelson Rodrigues (1912-1980).