Lellê, que atua em ‘Volta por Cima’, revela motivo de ter ficado 10 anos fora das novelas e promete álbum em 2025


A atriz e cantora faz seu retorno às novelas em ‘Volta por Cima’ trama das sete da Globo e exalta seu papel na história de Claudia Souto: ela é Silvia, uma jovem herdeira rica, personagem que foge dos esterótipos frequentes na escalação de atores negros. Nesta conversa, Lellê fala das escolhas nada óbvias, de inspirações na vida e na arte, reflete sobre essência do preconceito e do racismo, e anuncia que, em 2025, estará nas telas do cinema e, após o fim da novela em abril, vai se dedicar inteiramente a um novo projeto musical: “Vou lançar um álbum cheio de brasilidade, vou cantar até Alcione nele”. Vai ser um álbum de samba? “Aquela que cala (risos). O que posso dizer é que vai ter escancarado ‘Brasil’ nele, então vai ter samba”.

*Por Brunna Condini

De 2013, quando ainda era Lellezinha e integrou o grupo Dream Team do Passinho, para cá, muita coisa aconteceu na vida de Lellê. De cantora também tornou-se atriz, estreando em ‘Malhação Sonhos’, em 2014, e, agora, celebra seu retorno às novelas em ‘Volta por Cima‘ após 10 anos.Vivendo Silvinha na trama das sete da Globo, uma jovem herdeira rica, ela fala da personagem que foge dos esterótipos frequentes na escalação de atores negros e observa como o mercado se transformou, se tornando mais inclusivo e diverso. “Mas esse é um movimento que não pode parar. Temos que continuar trabalhando e entendendo nosso papel na sociedade, ocupando os espaços que desejamos. Acredito que quando a Silvia aparece na minha vida, é o resultado de um trabalho árduo que realizei na carreira durante anos, e também resultado do trabalho das que vieram antes de mim. Me inspirei na realeza pra viver essa personagem, já que não tinha como ter referências próximas, venho de uma família humilde, com uma realidade distante da Silvia. Tudo o que conquistei a vida foi com esforço, então me conectei com uma ancestralidade preta para potencializar isso dentro de mim”.

Embora completamente envolvida na carreira de atriz, Lellê não abandona sua paixão pela música. E anuncia, em primeira mão, que 2025 será dedicado a ela. “Vou lançar um álbum cheio de brasilidade, vou cantar até Alcione nele”. Vai ser um álbum de samba? “Aquela que cala (risos). O que posso dizer é que vai ter escancarado ‘Brasil’ nele, então vai ter samba”.

Fui criada por três mulheres muito incríveis (a mãe e as avós, seu pai faleceu quando ela era criança). Fui criada pra vencer. Sinto hoje, olhando pra minha carreira, que sou uma artista, mas é tudo sobre o que sou. Existe uma força em mim que só vai – Lellê

Lellê revela que 2025 será dedicado à música e ao lançamento de álbum cheio de brasilidade. Além disso, celebra a potência que vem da personagem em novela das sete (Foto: Guto Brown)

Lellê revela que 2025 será dedicado à música e ao lançamento de álbum cheio de brasilidade. Além disso, celebra a potência que vem da personagem em novela das sete (Foto: Guto Brown)

Acha que no mundo em que você estreou na TV existia mais racismo no audiovisual? “Sim, sinto uma diferença muito grande. Minha pausa também teve a ver com o desejo de não querer ficar em uma ‘caixinha’. Fiz personagens super interessantes como a Guta de ‘Malhação‘ e a Jennifer de ‘Totalmente Demais‘ (2015). Ainda assim, a Jennifer era uma menina do subúrbio, da favela, que gostava de funk, era atrevida, ousada. E depois disso, percebi uma movimentação para que eu fizesse mais personagens do tipo. O que também é maravilhoso, porque isso também é representatividade. Mas o povo preto não é só isso. Então, o fato de eu ter dado uma pausa na TV e ter ido para o cinema, onde tive uma abertura muito grande para viver personagens com outras vertentes, foi importante. Fui abrindo caminhos para mim mesma. E se pensamos no mundo há 10 anos, estamos falando de mais racismo, homofobia, tudo o que nega a existência de alguém. Por isso ter a oportunidade de abrir esse leque plural é fundamental”, diz ela, que acaba de filmar o longa ‘Funk‘, que estreia em 2025, do diretor Aly Muritiba, ao lado de Duda Santos, estrela de ‘Garota do Momento‘, trama das seis.

Lellê é a herdeira Silvinha em 'Volta por Cima' (Divulgação/Globo)

Lellê é a herdeira Silvinha em ‘Volta por Cima’ (Divulgação/Globo)

Sobre racismo e preconceito, a artista formula:

O maior problema que temos no Brasil é a falta de respeito às diferenças. Também falta que os brancos saiam um pouco do seu lugar de privilégio e pensem: o que é bom para o povo preto? O que é bom para os povos indígenas? Existe uma falta de acolhimento com as pessoas e culturas diferentes e precisamos combater isso. Gosto de quem sou e não aceito que me digam para ser outra pessoa – Lellê

"Fui abrindo caminhos para mim mesma. Tenho orgulho da história que cosntruí até aqui" (Foto: Guto Brown)

“Fui abrindo caminhos para mim mesma. Tenho orgulho da história que construí até aqui” (Foto: Guto Brown)

O que ela quer? Tudo!

Quando Lellê  fazia um grande sucesso no Dream Team do Passinho, grupo que a projetou, durante entrevista, ela estava prestes a seguir carreira solo e perguntei: o que você quer? “O que eu respondi?”, ela indagou. E contei: “Tudo! Você disse que queria tudo. E nunca iria deixar que te limitassem”. Lellê sempre soube o que queria. “Eu já ousada, hein? Imagina agora com 27 anos, quase 30? (risos). De fato tenho conquistado tudo o que sonho. Sou muito nova ainda e olho para trás tendo orgulho da carreira bonita que venho construindo. É um lugar de representatividade, claro, mas também de conquista, que construí andando com minhas próprias pernas”, afirma. “Estou na TV, no cinema, na música, nunca imaginei me realizar assim”.

Lellê anuncia novo albúm: "Vai ter muita brasilidade, até samba vai ter" (Reprodução/Instagram)

Lellê anuncia novo albúm: “Vai ter muita brasilidade, até samba vai ter” (Reprodução/Instagram)

Lellê continua ao rever seu trajeto até aqui: “E falo pessoalmente também, de ter tempo para estar com as pessoas que amo, fazer o que gosto, dormir na casa da vovó. A vida simples que também adoro. Inclusive, estou mais caseira. Vinha em uma pegada de só realizar, só realizar…agora, dei uma parada e entendi que já venho realizando muita coisa, posso ir mais devagar. Ainda tenho muitos desejos para concretizar, claro. Principalmente na música, com a minha carreira solo e o álbum que o público não para de me pedir, mas sem tanta velocidade”.

Estar mais caseira tem a ver com o coração, está amando alguém? ” Estou me amando e aberta também para amar outras pessoas (dá uma gargalhada)”. Mas está namorando? ” Hummm…posso dizer que estou aberta a isso”.

Sou muito fã da minha avó paterna, Maria José, que ensinou valores, que ajudou a me criar. São inspirações também a Tyla, que é uma novidade nesse novo momento do pop preto. E Alcione, que me inspira na hora escrever, compor. Como atriz, a Taís Araújo e a Roberta Rodrigues – Lellê