“Já me reinventei algumas vezes e continuo me reinventando, renascendo”, diz Isabel Fillardis


Para a atriz, falar abertamente sobre questões ligadas ao racismo ajuda a abrir os olhos para o preconceito em um país como o Brasil. “Tenho consciência da importância do meu trabalho, de onde estou e do lugar que ocupo. Meu desejo é continuar contribuindo, sendo um bom exemplo para muitas outras meninas e mulheres”, diz

*Por Simone Gondim

Não se deixe enganar pelo riso fácil de Isabel Fillardis. Por trás dele existe uma mulher poderosa, que encara as dificuldades e não tem medo de se reinventar. Mãe de três filhos – Analuz, Jamal e Kalel – ela criou a ONG Força do Bem, responsável por montar o primeiro banco de dados de pessoas com deficiência no Brasil, atualizado constantemente. “A Força do Bem foi criada muito em cima da vivência com meu filho Jamal, das experiências que vivi, das dores e das dificuldades”, conta Isabel (Jamal tem Síndrome de West, um tipo raro de epilepsia que causa atraso no desenvolvimento). “O banco de dados ficou à disposição do Ministério Público do Trabalho, por conta do sistema de cotas para a inclusão da pessoa com deficiência. Foi um trabalho feito com muito amor, com a minha alma, para que essas pessoas fossem notadas e pudéssemos criar políticas públicas para elas. As coisas vêm vindo a passos lentos, mas estão caminhando”, acrescenta.

 

Uma das primeiras atrizes negras no Brasil a estrelar campanhas de beleza – foi o rosto do lançamento da linha de sabonetes Lux Skincare Pérola Negra e uma das embaixatrizes da campanha Imédia Excellence 50 anos, da L’Oreal – Isabel reconhece que seu trabalho é importante para fazer com que outras mulheres e meninas negras se vejam representadas nas artes e na publicidade. “De uns tempos para cá, muito por conta das redes sociais, houve um despertar do povo negro, um empoderamento sobre a própria história. Foram vários aspectos que contribuíram para que o Brasil se reconhecesse racista. Por isso, é importante representar, saber se colocar e falar dessas questões”, ressalta ela. “Tenho consciência da importância do meu trabalho, de onde estou e do lugar que ocupo. Meu desejo é continuar contribuindo, sendo um bom exemplo para muitas outras meninas e mulheres”, completa.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Em sua mais recente novela, “Topíssima”, da Record, Isabel Fillardis interpretava a médica Vera, bastante engajada nas questões de saúde pública. A atriz lamenta que, para muitas pessoas, ainda seja uma surpresa ver uma negra fazendo o papel de uma profissional de sucesso. “A televisão ainda não está acostumada a retratar isso. Mas a gente precisa mostrar, porque esses profissionais existem e são renomados. Conheço vários médicos negros, por exemplo”, diz ela. “Tenho em comum com a Vera a dedicação. A dedicação e a disciplina a fizeram chegar lá. A diferença entre nós é a seriedade. Ela é muito séria, não sorri. E eu já sou essa pessoa alegre, que vive sorrindo. Mesmo na dificuldade eu estou sorrindo”, afirma.

Feliz por ter desfilado no Salgueiro, escola carioca que levou para a Sapucaí a história de Benjamin de Oliveira, o primeiro palhaço negro do Brasil, Isabel lembra que se identificou com a capacidade que ele tinha de se reinventar. “Benjamin foi um dos pioneiros no sentido de levar o teatro para dentro da lona de um circo. Ele se reinventou muitas vezes e isso é algo que me toca muito, porque eu continuo me reinventando, renascendo. Todas as pessoas que passaram por esses momentos na vida se identificam”, explica.

“Mesmo na dificuldade eu estou sorrindo”, confessa a atriz (Foto: Reprodução Instagram)

Um desses momentos de reinvenção pode ser visto na internet, no canal “O diário de bordo de mãe”, no IGTV (Instagram). É lá que Isabel fala de um de seus trabalhos mais importantes: a maternidade. “Em matéria de criar filhos, não existe difícil ou fácil. Existe complexidade. Estamos falando de seres humanos, seres imperfeitos, e que a gente está aqui para ser uma mola modeladora abaixo de Deus, digamos assim”, teoriza. “É uma viagem encantadora e complexa. Se perguntar para mim qual é o trabalho mais difícil da vida, digo que é criar filho. Porque não é matemático. Você está lidando com um ser que tem caráter, espírito, quereres e vontades. Seu papel é ajudá-lo a fazer as melhores escolhas e ser uma pessoa do bem. No mundo de hoje, não é nada fácil. Criar filhos é um empreendimento”, garante.

E tudo indica que tenha chegado a hora de mais uma transformação na carreira da atriz. Depois de assinar a coprodução artística do longa-metragem “Love, rock & blues”, no qual também interpretava Maria e contracenava com a filha, Analuz, Isabel Fillardis quer investir no trabalho atrás das câmeras. “Foi algo inusitado para mim, mas adorei fazer. Poder opinar na luz, no figurino e no trabalho artístico dos outros atores foi muito interessante”, confessa. “Venho desenvolvendo esse meu lado diretora. Tenho estudado, feito curso em direção de dramaturgia. Já dirigi um videoclipe, também, fazendo a parte artística e estando na frente das câmeras. Tendo uma equipe bacana, que funcione bem, a gente consegue fazer as duas funções. Acho que esse é o meu futuro”, aposta.