*por Luísa Giraldo
Aclamada pela crítica e pela audiência, “Garota do Momento” é a trama de sucesso da vez. A novela, produzida pela TV Globo, é o primeiro projeto da atriz Mariana Sena, de 29 anos, desde a pausa abrupta na carreira no ano passado, quando descobriu uma gravidez. De volta às telas, a artista dá vida a jovem Glorinha, melhor amiga da protagonista, Beatriz (Duda Santos). A personagem está conquistando o público com a sensibilidade e didática ao lidar com temáticas como machismo e racismo no final dos anos 50.
A atriz paulista relembra que, pouco tempo após o parto, foi convidada à integrar o elenco da novela. Não foi um processo fácil. “O retorno foi caótico. Era tanta informação. Quando fui chamada para fazer a novela, ela tinha apenas três meses. Achava que era cedo. Tinha a sensação de não estar pronta. Ainda saímos de São Paulo e tivemos que nos mudar para o Rio de Janeiro”.
Mariana destaca a importância de sua rede de apoio, as familiares mais próximas e o “namorido” (junção carinhosa das palavras “namorado” e “marido”), o ator Elzio Vieira, de 30 anos, que é pai da pequena Ayomi, de 1 ano e 1 mês. Essas pessoas também a ajudaram a lidar com a pressão e os medos após sair de um projeto por conta da gravidez.
“Estava no meio de ‘Guerreiras do Sol’ quando descobri que estava grávida. Tive que sair da série porque era muito risco. Tinha que me jogar toda hora no chão e cavalgar. Era uma loucura. Me afastei e tive medo de não voltar. Pensei que minha carreira tinha acabado”, desabafa a artista. A atriz confessa ter pensado que “o processo da volta ia demorar depois de ter filhos”. “Sabemos como o mercado funciona”, lamenta.
Voltar tão rapidamente acabou sendo algo positivo. Voltei no momento certo. Sou muito ‘workaholic’. Estava sentindo falta do meu trabalho. E isso estava afetando o meu psicológico – Mariana Sena
’Não pensava em ser mãe’
Embora Ayomi tenha “transformado o significado de vida” de Mariana Sena, a atriz reconhece que não acreditava na possibilidade de ter um filho. Ela é portadora da endometriose. O útero é revestido pelo endométrio, um tipo de tecido que é afetado diretamente pelos hormônios, engrossando sua espessura e sendo expelido do corpo conforme o ciclo menstrual da mulher. O endométrio é o que permite, por exemplo, que o óvulo se instale ali para que possa ser fecundado pelo espermatozoide, gerando uma gravidez. Quando esse tecido cresce fora do útero, em regiões da cavidade abdominal, como os ovários e a bexiga, a paciente é diagnosticada com endometriose.
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Mariana Sena teve que sair de um projeto audiovisual para viver a maternidade (Divulgação)
“A gravidez foi um efeito surpresa na minha vida. Sempre tive endometriose. Tratava a doença sem nem pensar na possibilidade de ter filhos, apenas para parar de sentir cólicas. Quando descobri que estava grávida, foi um susto. Demorou até a minha cabeça entender que o meu corpo estava conseguindo segurar uma gravidez. Tinha medo de perdê-la a qualquer momento”, recorda.
Apesar de meses sentindo tensão e medo, ela avalia que a gravidez foi tranquila e “super saudável”. A presença de Elzio torna, até hoje, o processo mais leve. “Não consigo me imaginar como mãe solo. A minha família é muito grande. Mesmo se fosse, não saberia o que é ‘ser solo’. A minha família tem essa característica do cuidado. O pai da minha filha é importante e faz grande parte. Ele é minha dupla. Tentamos fazer 50-50. Mas nunca é. É 40-60, 30-70. Depende do dia”.
Impacto da maternidade na vida profissional
Envolvida em projetos audiovisuais desde 2020, Mariana Sena sempre viu o trabalho como aspecto estruturante de sua vida. A chegada de Ayomi permitiu que reavaliasse a importância que dava à profissão em detrimento a outros momentos, valores e pessoas.
A maternidade me transformou, me fez entender que o trabalho não era mais o centro da minha vida. Antes, tudo era pautado nele. O trabalho ocupava 100% do meu tempo e dos meus desejos. Todos os meus sonhos estavam vinculado a ele— Mariana Sena
Mariana também viveu uma transformação nos afazeres do dia a dia. “Antes, tinha uma rotina com disponibilidade. Hoje, não existe mais. É tudo cronometrado. A cabeça de mãe não para. Do momento que acordo até o que vou dormir, faço logísticas. Só depois que Ayo dorme, à noite, que consigo sentar e me preparar para estudar”, explica ela.
Muitas vezes, a rotina é maçante para Mariana ao conciliar os afazeres domésticos, os cuidados da bebê, os estudos e as gravações. Ainda assim, há espaço para reflexões sobre a autocobrança.
Sempre me cobrei bastante. A maternidade, como foi uma gravidez não planejada, foi uma mudança muito repentina na minha vida. Não tinha o desejo de ser mãe. Tive que lidar com tudo isso. Quando ela apareceu, foi tudo muito mágico. A minha vida mudou. Mas é aquilo: ‘Nasce uma filha, nasce uma mãe’ e ‘nasce uma mãe, nasce uma autocobrança’ – Mariana Sena
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Mariana Sena cuida da pequena Ayomi enquanto concilia a vida como atriz (Divulgação)
Intérprete de Glorinha, a atriz entende que a “cabeça da mãe é enlouquecedora, já que não cala a boca”. Ela demorou bastante a se adaptar com a inquietação da maternidade.
A minha cabeça não para. É o dia inteiro pensando na bebê, no que tenho que fazer, no que ela precisa. Além dessa voz na cabeça, a autocobrança diz que não fiz o suficiente, principalmente a partir do momento que voltei a trabalhar. Ficava o dia inteiro com ela e, do nada, com o trabalho, comecei a passar dez horas longe. Gerava culpa. Me comparava com outras mães. Pensava “será que deveria ter ficado mais tempo sem trabalhar para me dedicar a ela? “. A gente tem que lidar com a autocobrança a todo momento. Não sei se acaba um dia. — Mariana Sena.
Aprendizados da maternidade
A maternidade, definitivamente, não é um mar de rosas. No entanto, há aspectos sensíveis, belos e profundamente transformadores nesse processo. Esse é um das reflexões de Mariana Sena. A jovem se tornou multitarefa, aprendeu a regular as emoções e ativar o lado mais “racional”.
“Sempre fui uma pessoa chorona. Antigamente, ao invés de resolver um problema, parava e chorava loucamente. Agora, não. Hoje, tenho um lado racional que sobrepõe o emocional. Influencia 100% no meu trabalho, até na entrega para as personagens. Antes, me cobrava como atriz de maneira diferente ao achar que não era suficiente para tal etapa dos personagens. Agora, penso que ‘se estou aqui, tenho que dar conta’. Então, procuro maneiras e ferramentas isso. Essa foi uma maturidade interessante da maternidade. A mãe tem uma sensação de poder ‘resolver tudo'”, identifica, orgulhosa do crescimento pessoal.
Momento da Glorinha
A atriz Mariana Sena reconhece que, depois de muitos pedidos do público, finalmente está chegando o momento de contar a história de Glorinha, em “Garota do Momento”. Ela confessa estar ansiosa pela reação dos fãs.
Penso que ‘se estou aqui, tenho que dar conta’. Procuro maneiras e ferramentas isso. Essa foi uma maturidade interessante da maternidade. — Mariana Sena
“O que eu mais recebo nas redes são pessoas querendo saber a história da Glorinha, do passado dela. Estamos chegando em um momento em que vai vir à tona. Ela tem uma história fortíssima”.
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Mariana Sena dá vida à jovem Glorinha, personagem que reflete sobre racismo nos anos 50
A artista continua a reflexão por Glorinha ao revelar que a personagem foi uma “paixão construída ao longo do tempo”.
“Estou me apaixonando cada vez mais pela Glorinha. Quando aceitei o papel, achava legal. Descobri mais sobre ela e, pela primeira vez, comecei a rever coisas da minha vida por causa de uma personagem. Vou levar a Glorinha comigo. E a Glorinha também terá um pouco da Mariana”, finaliza ela.
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