Giuseppe Oristânio também critica questão de direito autoral em reprises e a falta de escalação de atores maduros


O ator com uma carreira de mais de 50 anos, viu no último mês entrar no Globoplay a primeira temporada de “Malhação”, que contou com ele como o protagonista maduro. Ele celebra as reprises, mas pondera algo importante: “Temos uma luta importante que é o recebimento de direitos autorais para a reexibição em diversas plataformas de trabalhos mais antigos pelos quais não recebemos muita coisa, ou pouco, ou nada”. Giuseppe Oristânio continua inovando e desafiando os limites do entretenimento: celebra seu papel em “Meninas Não Choram”, disponível na Netflix, se prepara para a última temporada de “Doidas e Santas”, além de estar encerrando as gravações na série “Rainha da Pérsia”, superprodução a Record. OGuiuseppe destaca os desafios do etarismo na indústria, critica a falta de papéis autênticos para artistas mais velhos, defendendo a necessidade de aliar juventude e experiência : “Uma crítica que faço às escalações é colocar uma avó de 45 anos e uma filha de 35…”, diz

*por Vítor Antunes

Anos de uma carreira vitoriosa, ainda que plena de novidades. Giuseppe Oristânio transita com maestria entre os terrenos da novidade e do já conhecido, surpreendendo não apenas ao seu público, mas a si também. Prestes a voltar ao teatro na última temporada de “Doidas e Santas“, montagem bem-sucedida de Martha Medeiros,protagonizada por Cissa Guimarães –  numa encenação que ficará por um mês no Rio de Janeiro, no Teatro PRio, o ator também está próximo de encerrar as gravações da série “Rainha da Pérsia“, super produção da Record. Paralelamente a isso fará a turnê nacional de “Doidas” em consonância com a de “Pormenor de Ausência“, que fala sobre os últimos anos de Guimarães Rosa, cuja primeira parada vai ser em Congonhas (MG). “Depois das turnês, ficarei viajando e dublando, o que é uma novidade para mim. Estou dublando muito, inclusive com Júlia Oristânio, minha filha”. Com 50 e tantos anos apenas de carreira, Giuseppe lida com bom humor com a maturidade. “Encaro a maturidade com dor no joelho, mas me sinto em plena forma, ainda que mais velho, com rugas, com papo e barriga, mas gosto muito de mim assim. Demorei 52 anos de carreira aprendendo lentamente sobre os meandros dessa profissão. Porém, como pessoa 60+, noto um problema sério que é o etarismo. Parece que não existimos mais”.

No último ano, Giuseppe Oristânio estreou seu primeiro filme comercial, “Meninas Não Choram“, que trata sobre uma menina jogadora de futebol que se descobre convivendo com o câncer. “Foi uma experiência maravilhosa. O filme já teve uma versão americana, francesa e agora tem uma versão brasileira. Está entre os mais vistos da Netflix. Espero que a partir dele seja mais chamado para fazer outros”. Esse não é o único de seus projetos no streaming. No último mês entrou na Globoplay a primeira temporada de “Malhação”, que contou com ele como o protagonista maduro. Ele celebra as reprises, mas pondera algo importante:

Fico feliz com o resultado do que vejo e o sucesso que fizemos. Temos uma luta importante que é o recebimento de direitos autorais para a reexibição em diversas plataformas de trabalhos mais antigos pelos quais não recebemos muita coisa, ou pouco, ou nada. Não nos reverte nosso quinhão e é uma luta para fazer com que recebamos. Acho que seria no mínimo simpático reverter para nós – Giuseppe Oristânio

E ele prossegue: “Uma crítica que faço às escalações é colocar uma avó de 45 anos e uma filha de 35… As pessoas são muito jovens para os papéis que fazem. Não que eu tenha algo contra a juventude, mas é preciso que ela se alie à experiência. A meu ver, uma das razões do arrefecimento da audiência é que a dona de casa não acredita no que vê. As artes cênicas são fundamentadas na verdade, e quando o público não enxerga verdade, abandona a obra”.

Gosto de ver atores profissionais em cena, mas é preciso colocar as pessoas nos lugares que lhes cabem. Não vale tudo em nome da falta de rugas, pois a falta de rugas traz também uma falta de experiência – Giuseppe Oristânio

Um dos temas de “Doidas e Santas“, é, justamente, o avanço da mulher na sociedade em favor de seus sonhos e desafios. Reflexo de uma mudança da sociedade. “O mundo está mudando, a situação geral está mudando, assim como os paradigmas sociais que se transformaram bastante, o empoderamento feminino, que é muito positivo, a inteligência artificial surgindo, a TV a cabo e o streaming que fragmentam a audiência, os livros perdendo espaço, e a TV tentando se adaptar. Tudo isso se reflete na sociedade, que passa junto por todas as ferramentas que oferecem tanto para o bem quanto para o mal. Talvez tenha mudado de patamar por ser drástica, mas sempre aconteceram ao longo do tempo”, diz ele, casado com a modelo Silvana, com quem está há 43 anos.

Giuseppe Oristânio em “Rainha da Pérsia”. Novela da Record vem tendo bons resultados na emissora (Foto: Divulgação/Record)

A DOIDA, A SANTA E A PERSA

Quando “Doidas e Santas” estreou era 2010. A sociedade mudou muito de lá para cá, mas segundo Giuseppe, “a peça não envelheceu. A única coisa que mudou foi que tiramos um telefone fixo e colocamos um celular. Fora isso, a problemática permanece: as relações continuam apresentando conflitos, felicidades e dramas iguais ao longo da História”. Inclusive, em se falando de História, mais um trabalho épico está no ar, “A Rainha da Pérsia“. É uma novidade fazer um trabalho assim? “Já fiz vários bíblicos. Estou familiarizado com a linguagem e encaro como outro trabalho. O que me surpreende é a grandiosidade do processo. Fiquei mais de um mês em Marrakech e já fiz muitas produções na Record. Esta é a maior superprodução: são vários estúdios, cidades cenográficas, tudo muito grandioso, muita gente, roupa, figurino. No Marrocos, gravamos com a mesma equipe de “Game of Thrones” e o resultado visual é muito legal”. Esta é a quarta vez que Giuseppe encena essa história bíblica e na Record, é a terceira. Em 1998, ele fez “A História de Ester” e depois, em 2010, a mesma história – vivendo outro personagem, porém. Na juventude também, na Hebraica, em São Paulo.

Giuseppe Oristânio em “Pormenor de Ausência” (foto: Divulgação)

Muito se diz que as novelas e a televisão estão fadadas ao fracasso e ao fim, especialmente por conta de a relação das pessoas com o veículo e o formato haver mudado. Para Giuseppe haverá apenas uma transformação. “Eu acho que tudo está passando por transformações. A gente vê esses remakes que vêm sendo feitos, tentando resgatar ou buscar um sucesso que não existe mais. A quantidade de plataformas e canais que existe hoje fragmentou tudo tanto que até a Globo, que tem muita audiência, a viu ser reduzida a níveis assustadores. Todos estão buscando novas maneiras de fazer a coisa acontecer”.

Eu não acredito no fim da novela, porque temos um público que ainda tem como grande fonte de entretenimento a televisão, seja aberta ou por cabo e streaming. Vão continuar consumindo novelas com mais ou menos capítulos ou minisséries, mas a teledramaturgia vai estar presente na vida das pessoas. Pelo contrário, acho que o excesso de tecnologia pode fortalecer o teatro, porque ele não precisa de nada disso para sobreviver e está para morrer há anos – Giuseppe Oristânio

Giuseppe Oristanio em “Meninas não Choram” (Foto: Divulgação)

Pai de três filhos, o ator finaliza dizendo o quanto a paternidade lhe foi transformadora: “O saldo que fecha eu não sei ainda, estou fechando contas para saber. O primeiro é um orgulho ter conseguido trazê-los aqui com dignidade. Isso me deixa feliz porque tiveram oportunidades que pouca gente tem e isso é muito legal. É muito bom vê-los investigando o mundo, fazendo coisas novas e os relacionamentos deles. Agora ajo como observador e ajudo só o que é necessário e cada vez menos”. O tempo passa, ensina, nem sempre acarinha, mas exige acima de tudo, coragem.