*Por Vagner Fernandes
O “Melhores do Ano”, premiação anual comandada por Luciano Huck, que consagra a produção audiovisual da TV brasileira, teve o seu ponto alto neste domingo ao homenagear o apresentador Silvio Santos, que morreu aos 93 anos, em agosto. Patrícia Abravanel, sucessora do pai nos principais programas com que Silvio Santos liderou a audiência aos domingos por décadas, entrou ao vivo no palco dos Estúdios Globo, para receber das mãos de Huck o troféu especial “Melhor dos Melhores” pelo legado do fundador do SBT. Em um feito inédito, Globo e SBT realizaram a transmissão simultânea do encontro.
Muitos dos que estavam na plateia não devem saber que Silvio Santos teve um programa na TV Paulista, que foi adquirida por Roberto Marinho, no início da década de 60. O “Programa Silvio Santos“, então, passou a ser transmitido pela TV Globo entre 1965 e 1976. O líder de audiência chegou a interpretar a si mesmo na novela global “Pigmaleão 70”. Em 14 de maio de 1976, às 21h, entrou no ar o canal Studio Silvio Santos Cinema e Televisão Ltda., a TVS, que, posteriormente, viria a ser SBT.
“É meu pai mais uma vez fazendo História ao nos unir. Obrigado a todos e a Paulo Marinho, que nos recebeu pessoalmente em nossa chegada aqui”, disse Patrícia, que foi ao evento acompanhada pela irmã Daniela Beyruti, presidente do SBT.
Paulo Marinho é diretor-presidente da Globo e um dos herdeiros de Roberto Marinho (1904-2003), outro grande empresário da Comunicação no país, que por anos rivalizou com Silvio Santos pela audiência, mas mantinham uma relação afetuosa. Segundo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que foi diretor da Globo, Silvio Santos teria emprestado dinheiro a Roberto Marinho quando ele comprou a TV Paulista. Com perfis diferentes, as duas emissoras sempre estiveram no front na luta por telespectadores. Mas Silvio ganhava em popularidade midiática. Ele era um showman.
O “Melhores do Ano” é um prêmio cujos vencedores são escolhidos pelo público. Teria mais credibilidade se o júri fosse composto por críticos e especialistas em televisão. Mas, a fim de gerar engajamento nas redes, igualmente ao Prêmio Multishow, a votação é aberta para quem deseja participar da “brincadeira”. Como no Prêmio Multishow, os resultados nem sempre refletem com fidedignidade o vencedor. Daphne Bozaski, a Lupita de “Família é Tudo”, recebeu a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante. É óbvio que ela não foi melhor que Edvana Carvalho, a Inácia de “Renascer”, e tampouco que Drica Moraes, a Joyce de “Volta por Cima”. Mas o personagem caiu nas graças do público adolescente. Talvez seja esse o motivo do resultado.
Outro resultado questionável foi o de Melhor Atriz de Série. Marjorie Estiano abocanhou o prêmio pela atuação em “Fim”. Apesar de sempre extraordinária, Marjorie não brilhou tanto quanto Belize Pombal em “Justiça 2” ou Letícia Colin, impecável na segunda temporada de “Os Outros” ao interpretar uma evangélica que se envolve com um miliciano.
Mas fato é que nesta edição de 2024, houve mais acertos do que esquivos na premiação. Foram justas as escolhas de “Justiça 2” como Melhor Série, de Juan Paiva como Melhor Ator de Série” por “Justiça 2” e de Andrea Beltrão como Melhor Atriz de Novela por sua Zefa em “No Rancho Fundo”. Os prêmios de Vladimir Brichta (Ator Coadjuvante), que brilhou com o Egídio de “Renascer“, e de Chay Suede (Ator de Novela) por sua entrega ao Mavi de “Mania de você” eram esperados. Mas “Renascer”, novela que amargou queda de audiência, perderia facilmente para “No Rancho Fundo” no caso de avaliação por um júri especializado no quesito “Melhor Novela“. E Paulo Vieira, como Melhor Humorista, soou como o mais do mesmo. Os seus concorrentes eram Fábio Porchat e Tatá Werneck. O núcleo humorístico da Globo sofreu um grande corte e Paulo é, atualmente, a figura em mais evidência da emissora, entrando nos horários em que a maioria do público está acordado. Os programas de Porchat e Tatá são exibidos mais tarde.
O “Melhores do Ano” é um prêmio que celebra a produção da emissora, opostamente ao extinto Troféu Imprensa, criado por Silvio Santos, que não só era mais democrático ao premiar talentos e produções de todas as concorrentes, como também mais criterioso, pois que os vencedores traduziam o olhar de especialistas. O Troféu Imprensa faz falta, assim como temos muitos hiatos em contar com prêmios que não dependam dos likes de ativistas de redes sociais. Um Moliére, extinto há 30 anos por falta de patrocínio, seria muito bem-vindo novamente. As premiações brasileiras converteram-se em piadas de muito mau gosto. Não se leva a sério aqui, como nos Estados Unidos e na Europa, as seleções daqueles que, de fato, brilharam no ano. Prêmio, cujos vencedores são eleitos pelo público, é tão somente a entrega de um cartão de crédito sem limites para fãs clubes, indício da globalização emburrecedora e da incompreensão dos criadores e patrocinadores dessas premiações que só atendem às expectativas da idiotia cibernética.
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