“Fiquem em casa. Esse pesadelo vai passar e sairemos dele mais fortes e mais unidos”, pede Kelzy Ecard


A atriz vive Genu, a melhor amiga da personagem de Lola (Gloria Pires) em “Éramos Seis”, que está na reta final. Com quase três décadas dedicadas ao ofício e em seu segundo papel de destaque na Rede Globo, Kelzy celebra o bom momento: “Algo que mudou substancialmente foi o fato de ser reconhecida com mais frequência, as relações sociais se alteram um pouco em função disso. Minhas finanças agradecem também, apesar de trabalhar há quase três décadas sem parar. Sempre vivi correndo atrás do prejuízo, como se diz. E estou aprendendo muito nessa experiência audiovisual e ampliando meu repertório, minha visão profissional”

*Por Brunna Condini

Em seu segundo grande papel na TV, Kelzy Ecard, a Genu, de “Éramos Seis”, comemora a personagem que foi a amiga mais leal de Lola, a protagonista vivida por Glória Pires. Da grade de novelas da Rede Globo, a das 18h terá seu final como previsto, na próxima segunda-feira. Por conta da pandemia do Coronavírus, as outras produções tiveram suas gravações interrompidas: no horário das 21h está sendo exibida “Fina Estampa“, e a partir do dia 30, no horário das 19h, entrará “Totalmente Demais“, ambas em reprises compactas. Kelzy celebra o fechamento do ciclo, embora tenha saído do set direto para o isolamento. “Estávamos com uma frente muito boa e gravamos tudo que foi planejado. Então, chegaremos ao final da história com tudo que tinha sido previsto”, conta Kelzy. “Fazer a Genu foi uma aventura extraordinária! O desfecho dela é muito amoroso e divertido, como eu esperava que fosse”, diz sobre a personagem que gosta de uma boa fofoca e é casada com Virgulino (Kiko Mascarenhas).

“Fazer a Genu foi uma aventura extraordinária! O desfecho dela é muito amoroso e divertido, como eu esperava que fosse” (Raquel Cunha/Globo)

Kelzy diz que a identificação com Glória Pires e a amizade entre as duas, existe além dos Estúdios Globo. “Olha, falar do que mais admiro nela daria uma tese de 500 páginas (risos). Sério! A Glória é uma das pessoas mais especiais que já encontrei na vida. Ela é toda amor e generosidade. Para minha sorte ficamos amigas. Além da atriz deslumbrante que ela é, de conhecer o ofício como poucas, de entender televisão como ninguém, ela tem sempre um olhar atento e carinhoso com os colegas e com a equipe. Se preocupa mesmo com todos e tem uma paz e uma tranquilidade que contagiam o set. Uma estrela, na melhor acepção da palavra. Estrela guia!”, declara Kelzy, que também está na série “Spectrus”, na Netflix.

Kelzy ao lado de Glória e do elenco, em uma das cenas finais da novela: “Glória é toda amor e generosidade” (Paulo Belote/Globo)

Recém-saída da agitação dos sets de gravação, a mãe de Pedro, 16 anos, fala sobre a nova rotina, em total afastamento social. “Eu e meu filho estamos realmente respeitando a quarentena. Não temos ido à rua, fazemos pedidos de mantimentos e comida em pequenos estabelecimentos perto de casa e higienizamos tudo. No mais, estamos lendo, ouvindo e fazendo música, cozinhando, vendo TV, arrumando as nossas coisas, nos ocupando com afeto para manter a positividade, que também é fundamental nesse momento”.

“Eu e meu filho estamos nos ocupando com afeto para manter a positividade, que também é fundamental nesse momento” (Foto: Jorge Bispo)

O que está planejando para os próximos dias dessa “quarentena”? Acredita que tudo isso vai passar logo? “Acho que só se todos os que tiverem o privilégio de ficar em casa respeitarem o isolamento. Saí da maratona de gravações direto para a quarentena. Não estava planejando viajar por agora, vou retomar projetos antigos, escrever, ler e pintar um pouco, ficar bastante com meu filho, estudar piano, um monte de coisas que em um processo intenso, como é uma novela, a gente não consegue fazer”, observa. “Sei que isso é um privilégio, e se todos que puderem, respeitarem a pausa, estaremos protegendo a nós e também a todos aqueles que não podem parar, como os profissionais da área médica, por exemplo. Aliás, uma salva de palmas para eles”.

A atriz contabiliza quase três décadas de trabalho no teatro, com prêmios na bagagem como o Shell, o APTR, e o Troféu Nelson Rodrigues, entre outros, mas foi em 2018, com a sofrida Nice de “Segundo Sol”, que Kelzy ficou conhecida do grande público. A TV a descobriu há duas novelas (risos). Como a vida se transformou depois disso? “Algo que mudou substancialmente foi o fato de ser reconhecida com mais frequência, as relações sociais se alteram um pouco em função disso. Minhas finanças agradecem também, apesar de trabalhar há quase três décadas sem parar. Sempre vivi correndo atrás do prejuízo, como se diz. E estou aprendendo muito nessa experiência audiovisual e ampliando meu repertório, minha visão profissional. Está sendo sensacional!”. E revela seu papel dos sonhos na TV: “Uma grande vilã”.

Kelzy Ecard diz que sonha em viver um grande vilã na TV (Foto: jorge Bispo)

Acha que demorou a fazer TV por não ter tido mais espaço para atrizes com o seu perfil no últimos anos? A TV ficou mais diversa, inclusiva? “Não posso dizer que foi por isso, estou “fora dos padrões” há uns 10 anos e sou atriz há 27. Mas tenho percebido que o audiovisual está ampliando o leque de escolhas e o critério artístico, que de fato é o mais importante, toma à frente. Estar mais inclusivo é fantástico! E ainda pode ser muito mais, o que será incrível, por ampliar o espectro de histórias a serem contadas. Todos nós ganhamos com isso, artistas e público”, opina.

A sua grande personagem de estreia em novelas, a Nice, vivia um relacionamento abusivo. Através dela você deu voz para o tema e muitas mulheres se identificaram. É verdade que até hoje a procuram para contar suas histórias? “Sim, até hoje recebo mensagens sobre a Nice. Muita gente se identificou com a situação abusiva que ela vivia, ainda uma realidade para muitas mulheres, infelizmente. E o fato dela ter dado a volta por cima foi muito especial para a personagem e para quem, de alguma maneira, se espelhou nela”.

“Tenho percebido que o audiovisual está ampliando o leque de escolhas e o critério artístico, que de fato é o mais importante, toma a frente” (João Cotta/ Globo)

Aos 54 anos, Kelzy contabiliza os aprendizados do autoconhecimento e da maturidade. “Realmente percebo o valor da vida em todos os momentos. E também sou mais paciente comigo e com os outros”, compartilha. “E tem coisas que aprendi com meus pais que nunca abandono: o valor da palavra dada, a arte de se colocar no lugar do outro e o poder da solidariedade”.

E comenta sobre os planos antes do Coronavírus. “Eu ia começar a ensaiar uma peça no meio de abril para estrear no fim de junho, mas por causa da pandemia, acho que teremos que adiar. Tenho contrato com a Globo até o fim de novembro e como adoro trabalhar, de verdade, estou torcendo para ser escalada logo em outra produção. Vamos ver. Por enquanto, quero aproveitar essa pausa forçada e descansar muito, ler, escrever meus projetos, pintar, cantar, curtir meu filho, cozinhar”.

Kelzy também aproveita para fazer um apelo aos leitores: “Se você tem o privilégio de ficar em casa, fique, proteja-se e proteja o próximo. Seja solidário com quem não pode ficar. Use esse tempo da melhor forma possível. E compartilhe amor. Esse pesadelo vai passar e sairemos dele mais fortes e mais unidos”.

“Se você tem o privilégio de ficar em casa, fique, proteja-se e proteja o próximo. Seja solidário com quem não pode ficar” (Foto: Jorge Bispo)