Em ‘Sintonia’, da Netflix, Gabriela Mag diz: “Uso minha voz para coisas que vão além de vender produtos”


A atriz mineira está na terceira temporada da série campeã de audiência na Netflix e, no cinema, com o filme “Coisa Pública”. Gabriela começou nas redes como influenciadora e enxerga visibilidade como instrumento: “Tenho dever de me posicionar sobre política e pautas feministas

Gabriela Mag fala sobre 'Sintonia' da Netflix e projetos com cunho social (Pedro Argueles)

Gabriela Mag fala sobre ‘Sintonia’ da Netflix e projetos com cunho social (Pedro Argueles)

*Por Brunna Condini

A atriz mineira Gabriela Mag está na terceira temporada de ‘Sintonia‘, uma das produções brasileiras mais populares da Netflix. A série chegou ao top 1 das mais vistas do canal de streaming. No elenco desde a segunda temporada, Gabriela faz Tally, que tem um relacionamento com Doni (Jottapê), um dos protagonistas da trama. A personagem é uma influenciadora digital que evita o posicionamento em temas sociais polêmicos para cuidar da imagem. “Nesse ponto somos bem diferentes, nem me sinto confortável em me rotular como ‘influenciadora’, acho que isso não cabe a mim, e sim ao público. E é, na verdade, só uma consequência de um trabalho com propósitos”, analisa ela, que começou a carreira também na internet, aos 17 anos. Foi a renda como influenciadora que possibilitou que Gabriela investisse na carreira de atriz.

“No meu processo de criação, sinto o dever de usar o meu alcance para me posicionar acerca de temas sociais, políticos, como mulher e artista, principalmente em pautas feministas. Comecei na internet muito jovem e posso dizer que lá no início, ainda não entendia o tamanho da responsabilidade de ‘influenciar’, de usar minha voz para coisas que vão muito além de vender produtos que prometem mudar a vida de quem está do outro lado ou ser vista como uma figura perfeita. Assim, falo das minhas vulnerabilidades, me posiciono diante de injustiças, e claro, também falo de produtos: mas dos que confio e insiro no meu dia a dia, não dos milagrosos”.

Gabriela Mag está na terceira temporada de 'Sintonia' da Netflix (Divulgação)

Gabriela Mag está na terceira temporada de ‘Sintonia’ da Netflix (Divulgação)

Com apenas 22 anos, ela pontua a revolução de conceitos e posicionamentos que sua geração vem fazendo e fala sobre o que desejam: “Queremos respeito. Respeito e liberdade. Tenho também muito orgulho das mentes e corações abertos das crianças que vieram depois de mim. Para elas, o preconceito não é o caminho mais simples, e sim a informação. Gostaria que os mais velhos ouvissem melhor os jovens”.

Eu quero fazer coisas lindas, mesmo que ninguém ligue. Mesmo que incomode. Mesmo que doa. Eu quero fazer cinema – Gabriela Mag, atriz

Gabriela Mag em dose dupla em produções no audiovisual (Foto: Pedro Argueles)

Gabriela Mag em dose dupla em produções no audiovisual (Foto: Pedro Argueles)

E recorda as escolhas que desde o princípio precisaram ser determinantes para chegar aqui. “O sonho de ser atriz e atuar sempre esteve em mim, porque sempre gostei de assistir muito as produções e me imaginar ali. Mas nunca foi algo real para mim. Vim de Itaúna, interior de Minas Gerais, minha família esperava que eu fizesse medicina e morasse para sempre lá. E quase fiz isso, até que comecei meus trabalhos nas redes sociais, e isso me possibilitou me sustentar bem cedo. Com isso, pude vir para São Paulo me dedicar aos estudos e fazer o que eu queria. Foi quando esse trabalho se tornou possível para mim. Mudei para São Paulo, fiz vários cursos e pude realizar meu sonho”, recorda.

Nas telonas

Gabriela também está no elenco de ‘Coisa Pública‘, longa que estreou esse mês, fazendo uma personagem totalmente oposta, mas que toca em questões sociais importantes. A trama se passa em uma república estudantil, lugar em que sete jovens compartilham suas vidas de uma forma aparentemente comum. Uma festa, entretanto, traz um evento que derrubará qualquer máscara social mantida até então. “Faço uma jovem muito religiosa, que se agarra aos dogmas da igreja para ser ‘perdoada’ e se livrar  de uma culpa constante pelos seus desejos, e escondendo o que sente.  Além disso, pune as pessoas ao redor também, quando há uma conduta diferente do que a igreja prega. Meu desejo como atriz, ser humano e ser político, é que todo o sofrimento que Mayara carrega nos faça refletir sobre o que de fato é o amor e a fé, e o que é fanatismo religioso, que muitas vezes acaba julgando e aprisionando muitos integrantes da comunidade LGBTQIAP+, por exemplo”, pontua.

“O próprio título do filme já diz muito: ‘coisa pública’ é o significado da expressão latina ‘Res Pública’. E o filme todo se passa justamente em um único lugar: uma república, nesse caso, estudantil. Assim se estabelece uma analogia em que essa casa é o Brasil, e os moradores carregam e escondem, até certo momento do longa, diversos preconceitos e até hipocrisias estruturais que a sociedade costuma muitas vezes fingir não enxergar ou carregar: como o racismo, o machismo e a homofobia”, completa.

A atriz Gabriela Mag no filme 'Coisa Pública' (Reprodução)

A atriz Gabriela Mag no filme ‘Coisa Pública’ (Reprodução)

“Eu quero fazer coisas lindas, mesmo que ninguém ligue. Mesmo que incomode. Mesmo que doa. Eu quero fazer cinema. Cinema que faça a diferença. Ainda em 2022, nesse ano de eleições, espero que o filme ‘Coisa Pública’ seja uma experiência que balance todos os seus sentidos. Mesmo que você esteja se esforçando para tapar seus olhos de todas as nossas hipocrisias. O Brasil é racista. Machista. Homofóbico. Intolerante. Fanático… dói ouvir isso? Espero que sim, isso me traria esperança”, escreveu recentemente em seu Instagram, falando sobre o longa-metragem de André Borelli.

E comenta sobre a importância das escolhas neste ano de eleições: “Gostaria de ver os jovens votando – e isso é algo que apoiei também através das minhas redes sociais. E também gostaria de poder ver vigorar uma escolha em que todo o povo se sinta representado, incluindo a comunidade LGBTQIA+, as mulheres, a diversidade religiosa, e todas as pessoas”.

"Quero fazer coisas lindas, mesmo que ninguém ligue. Mesmo que incomode. Mesmo que doa. Eu quero fazer cinema. Cinema que faça a diferença" (Foto: Pedro Arguelles)

“Quero fazer coisas lindas, mesmo que ninguém ligue. Mesmo que incomode. Mesmo que doa. Eu quero fazer cinema. Cinema que faça a diferença” (Foto: Pedro Arguelles)

Ela avalia ainda, que o filme foi o trabalho que mais bateu fundo no que acredita. “Abomino qualquer discurso de ódio, qualquer ato de violência e tudo que exclua alguém. Sempre que eu puder usar minha arte para criticar e transformar o meio, e principalmente o país em que vivo, dando voz a quem é sempre calado, me sentirei muito realizada e tentarei fazer isso com todo o respeito que essas pessoas merecem”, diz Gabriela, que também pode ser vista na série da Record ‘Todas as Garotas em mim’.

“O ator é um ser político, não dá para ser diferente. Mas além de atriz, como criadora de conteúdo digital, sempre sinto um chamado e uso minhas redes para me posicionar, principalmente em causas feministas, dividindo minhas próprias experiências: muitas vezes através de vídeos que carregam pitadas de humor, ironia e até cores que acabam prendendo a atenção de outras mulheres jovens, de pessoas que sabem pouco sobre o assunto ou que infelizmente, de outra forma, não se interessariam pelo tema”.

"Espero que logo as pessoas possam me ver atuando em inglês e espanhol e me experimentando nessas outras indústrias" (Foto: Pedro Arguelles)

“Espero que logo as pessoas possam me ver atuando em inglês e espanhol e me experimentando nessas outras indústrias” (Foto: Pedro Arguelles)

Mesmo com a pouca idade, Gabriela sabe bem o que quer: “Minha paixão é o cinema, sou muito jovem e ainda tenho muito o que aprender. Quero estudar para ser uma atriz cada vez melhor e consolidar minha carreira aqui no Brasil. Estudar e atuar fora também são planos muito reais e espero que logo as pessoas possam me ver atuando em inglês e espanhol e me experimentando nessas outras indústrias”.