*por Vítor Antunes
Nas aulas de Física no Ensino Médio, é ensinado que “apenas as temperaturas medidas em escala Kelvin preveem o zero absoluto”. Conceitos físicos à parte, a audiência da CNT é, talvez, a mais próxima a atingir o zero absoluto. No último ano foram raras as ocasiões em que a televisão atingiu 0,1 de média. Na maior parte do tempo, aponta 0,0. O dado mais recente ao qual tivemos acesso, da Kantar Ibope, aponta que a emissora é a 33ª mais vista, somando as TV’s aberta e fechada. A TV paranaense tem uma audiência centesinal: 0,03. Dados do Kantar Ibope Media de 2023 apontam uma diferença ainda mais profunda. A 52º posição, variando entre 0,02 e 0,06 pontos. Ato reflexo a isso, pouco há além dos telecultos e programas da Igreja Universal – que mantém financeiramente a emissora e a grade – assim como os anúncios do Governo Federal, exibidos depois das 22h.
Nos dias em que acompanhamos a CNT, o primeiro programa foi o CNT Jornal, um noticiário valente ante aos parcos recursos, que foi seguido do “CNT Esportes”. Este, por sua vez, é sucedido por outro telejornal, o “CNT News”. Este último tem uma duração estendida à noite, além de pontuar a programação da emissora com boletins a cada hora. Ao meio-dia há um boletim local – no caso, o que vimos foi o carioca “CNT Notícias RJ“. O Rio vem a ser a segunda emissora mais importante da rede depois da sede, em Curitiba. Fomos informados só haver um jornalista na capital fluminense. Acompanhando a programação da TV vimos, além deste, um correspondente cobrindo a editoria esportiva. O jornal é majoritarimente produzido com conteúdo enviado por telespectadores e/ou personagens. As passagens são gravadas dentro da própria emissora. Não há cinegrafistas para gravação em externa. Contatado, um dos funcionários da TV, confidenciou-nos que “havia aqui 3, 4 equipes no jornalismo. Chegamos a ter cerca de 60 funcionários. Hoje não há nada”.
Para jornalista ainda tem saída. Ele pode trabalhar com a internet, como assessor de imprensa….. E eu, que sou técnico? – Funcionário da CNT
Todo o jornalismo da casa é produzido ou no Rio ou de Curitiba. São Paulo a praça mais importante do país, para a CNT é uma mera retransmissora. Não há mais nenhum jornalista lá. A retransmissora da CNT no Rio Grande do Sul, inclusive, é localizada na Serra Gaúcha, na cidade de Caxias do Sul, e há uma profissional responsável pela praça, que é a geradora estadual da emissora. No ímpeto de conseguir mais telespectadores, o “CNT Esportes” faz sorteios do tipo: “Assista e concorra a um pix” – E ainda assim, o jornalístico não costuma ultrapassar a audiência residual.
SEM MEMÓRIA
A CNT foi inaugurada no final dos anos 70, como uma TV local, a TV Tropical, sendo retransmissora da Globo, e depois da Bandeirantes. Depois, mudou o seu nome para Rede OM, levando o nome de seu fundador, Oscar Martinez. OM também é abreviação para Organizações Martinez. Com a ruptura com a Band, a emissora iniciou uma trajetória ascendente como uma rede nacional, e em 1992 comprou a TV Corcovado, de posse do Sílvio Santos, e instalou-se em sua sede, na Rua General Padilha, às margens do Morro do Tuiuti, em São Cristóvão, Rio, onde está até hoje. No processo de estruturação como rede, a então OM contratou Galvão Bueno e Sérgio Mallandro. Ainda em 1992, a OM endividou-se, perdeu Galvão, que voltou para a Globo, além de outros grandes nomes.
Em 1993 a OM mudou o seu nome para o atual, CNT. Em 1996, a CNT fez uma parceria com a TV Gazeta de São Paulo, transformando-se em CNT-Gazeta. Nesta fase surgiu nacionalmente o apresentador Ratinho. Fez sucesso, em 1993 a transmissão do programa “Tudo por Brinquedo“, com Sérgio Mallandro e que em 1994 seria apresentado por Mariane – então recentemente demitida do SBT – e o game interativo “Hugo”. Aliás, o roteirista deste programa era o recentemente falecido jornalista Tony Góes (1961-2024). Jair Rodrigues (1939-2014) chegou a apresentar um programa na casa. De todo esse conteúdo citado, apenas os produzidos pela Gazeta, como o “Tudo por Brinquedo“, por exemplo, está arquivado na emissora da Avenida Paulista. “Hugo”, produzido pela CNT, foi, efetivamente, perdido.
Segundo um funcionário da sede da CNT nos informou, “as fitas foram gravadas num formato patenteado pela JVC, de modo que acabou ficando caro resgatar o seu conteúdo. Não temos nada arquivado”. Ou seja, a estreia de Galvão Bueno na OM/CNT, programas como o “Jogo do Poder” e “Hugo”, foram perdidos definitivamente. Algo que é reiterado por um funcionário da sede carioca: “Aqui no Rio chegou a ter algo guardado. Não tem mais nada. Havia algo em telecinemagem e U-Matic (formatos defasados de midia). O que havia aqui ou foi enviado para Curitiba ou descartado”.
Destoada da realidade, a CNT sequer tem Instagram oficial. Mesmo o X/Twitter da emissora, uma de suas poucas redes sociais ativas, possui pouco mais de 3,000 seguidores. O Facebook, desatualizado desde 2020, tem 12 mil. O que reforça a afirmativa de um jornalista contatado por esta reportagem: “Eles fazem o mínimo, apenas para manter a concessão”. Procurada a oficialmente por email e telefone, ante ao aqui apresentado, a CNT não respondeu aos nossos chamados. O espaço segue aberto para a emissora.
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