*por Vítor Antunes
Uma novela que, no Brasil, passou em brancas nuvens vem centralizando uma grande discussão por sua reexibição na Itália. A trama “Um Homem Muito Especial”, exibida pela Band entre 1980 e 1981, vai estrear na Donna TV, canal italiano famoso por exibir novelas brasileiras supostamente sem comunicar previamente as emissoras que as produziram originalmente. Já abordamos casos semelhantes, como os das novelas “Cortina de Vidro”, “Jerônimo” e “Meus Filhos, Minha Vida”, do SBT. No entanto, esta é a primeira vez que temos conhecimento de uma novela da Band sendo reexibida em solo italiano.
Na Itália, a trama, que recebeu o título de “Tormento d’Amore – La Vera Storia del Conte Dracula”, é exibida em 194 capítulos de 30 minutos cada. Procurada, a Band através de sua assessoria declarou “não ter negociado os direitos de exibição internacional da novela ‘Um Homem Muito Especial. Caso a emissora italiana leve ao ar esse título, a Band tomará as medidas judiciais cabíveis”. Procurada, a Donna TV respondeu aos nossos contatos e terá espaço assim que desejar.
Os atores Mateus Carrieri, Giuseppe Oristanio e Herson Capri, que integraram o elenco da novela, afirmaram desconhecer sua exibição naquele país. A estreia está prevista para o dia 11, substituindo a venezuelana “Jugando a Vivir” (RCTV, 2012) que, na Itália, foi intitulada “Capriccio e Passione”. Esta, porém, não é a primeira exibição de “Um Homem Muito Especial” na Donna TV — tampouco na Itália. A novela já foi transmitida anteriormente pelos canais SuperSix e Napolitivù, às 19h, em 2012, além da DI.TV no mesmo ano. A própria Donna TV já chegou a refazer sua abertura em uma das exibições. A QTv, o StudioNord e a Rette Quatro Oro também já exibiram a novela. Já aqui no Brasil, houve apenas uma reexibição, entre 1989 e 1990.
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DE “DRÁCULA” A “UM HOMEM MUITO ESPECIAL”
No final de 1979, a TV Tupi iniciou a produção da telenovela “Drácula”, inspirada na icônica figura do Conde Drácula. A concepção do projeto partiu do diretor Walter Avancini (1935-2001), que teve a ideia após assistir a um musical na Broadway. O roteiro foi elaborado por Rubens Ewald Filho (1945-2019), e a estreia ocorreu em 28 de janeiro de 1980. No entanto, a exibição foi abruptamente interrompida após a transmissão de apenas quatro capítulos, de um total de 10 escritos.
A produção foi suspensa em meio à grave crise financeira que culminaria na falência da Tupi, tornando-se, assim, a última obra original da emissora. Diante desse cenário, Avancini e Rubens Ewald Filho firmaram um acordo com a TV Bandeirantes para dar continuidade ao projeto, agora sob o título Um Homem Muito Especial. O nome anterior havia sido registrado pela Tupi. A maior parte do elenco original migrou para a nova emissora, permanecendo tanto na versão inicial quanto na reconfiguração da trama. Cláudia Alencar e Mateus Carrieri estavam entre os atores que seguiram na produção.
Na transição da novela da Tupi para a Bandeirantes, a personagem de Bruna Lombardi teve seu nome alterado de Cecília para Mariana, pois a Band já exibia a novela contemporânea “A Deusa Vencida”, que também tinha uma protagonista chamada Cecília.
Rubens Ewald Filho não permaneceu até o final da trama, sendo substituído no roteiro primeiro por Jaime Camargo e, posteriormente, por Consuelo de Castro (1946-2016). Coube a ela concluir a novela, transformando sua narrativa em um autêntico bangue-bangue à brasileira.
De acordo com uma matéria publicada na antiga revista Amiga (edição de 18/02/1981), a novela ousou no erotismo, incluindo cenas de sexo com atores nus, como Rubens de Falco e Sandra Barsotti. A Censura, no entanto, proibiu a veiculação dessas cenas nas chamadas da novela, permitindo sua exibição apenas nos capítulos em que estavam inseridas. Bruna Lombardi e Esther Góes, por sua vez, se recusaram a gravar cenas de nudez.
A trilha sonora também refletia essa sensualidade, incluindo canções marcantes do especial Mulher 80. “Um Homem Muito Especial” pode ser considerada uma das primeiras produções a evidenciar a estética crua e sensual de Avancini, um estilo que se tornaria ainda mais potente nas novelas da TV Manchete nos anos 1990.
Nos cerca de 90 capítulos que escreveu, Consuelo de Castro deu maior destaque à luta dos operários contra a tirana Dona Marta (Cleyde Yáconis) e elevou o protagonismo da personagem Alcina (Cláudia Alencar), que assumiu o posto de mocinha no lugar de Mariana. Em entrevista à revista Amiga, Consuelo afirmou: “O Conde Drácula deixou de ser um tarado para se tornar um homem sensual e muito especial”.
Bruna Lombardi e Carlos Alberto Riccelli foram procurados para falar sobre a novela, mas não responderam até o fechamento da reportagem. O casal protagonista, inclusive, não concluiu a novela, pois foi demitido antes do final. Segundo notícias da época, os dois teriam emendado a folga de fim de ano com outras faltas, o que levou a Band a dispensá-los antes da conclusão das gravações. A personagem de Bruna foi então assumida por Cláudia Alencar. A revista Amiga chegou a noticiar que a Bandeirantes processou o casal.
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