*Por Jeff Lessa
Criada e protagonizada por Fábio Porchat, a série “Homens?”, que estreou no dia 18 no canal pago Comedy Central, leva o machismo para o centro de uma discussão sobre vida sexual masculina e assuntos que ainda são tratados como tabu entre eles. O site publicou uma entrevista com o ator na terça-feira. Pois saibam que duas vezes por mês, uma meia dúzia de homens se reúne em Plymouth Meeting, na Pennsylvania, para tentar curar traumas do passado. Como? Com sessões de carinhos. Os encontros vêm acontecendo há dois anos e atraem homens majoritariamente héteros. Os participantes incluem um mórmon de 37 anos, um senhor casado e pai de três filhos de 57 e um aposentado de 62. O grupo é fechado e os membros precisam passar por um processo de seleção para participar. Nudez e avanços sexuais são terminantemente proibidos.
Leia mais – “Me dei conta de que muitos homens não estão sabendo lidar com mudanças sociais”, diz Fábio Porchat
Uma sessão começa com os participantes sendo encorajados a se darem “abraços de motocicleta” (ou seja, a abraçarem o parceiro por trás). Alguns acariciam os braços, o rosto e os ombros do companheiro de exercício. Depois de 15 minutos, eles devem trocar de parceiro. Na segunda parte da terapia, os homens se deitam no chão empilhados como um monte de filhotes de cachorros (ou uma pilha de gente).
Depois dos abraços, eles são incentivados a falar sobre medos, arrependimentos, fragilidades – ou seja, fraquezas. Para alguns, esses encontros representam a primeira vez na vida em que se mostram vulneráveis diante de outro homem. Muitos acabam aos prantos.
O abraço pode ter propriedades curativas, de acordo com a American Psychological Association. A pressão exercida sobre os machos para sufocar suas emoções e evitar maiores contatos com outros homens pode levá-los a serem agressivos e autodestrutivos. Em geral, acabam lidando com esses problemas usando drogas ou praticando atos violentos.
Numa época em que a ideia tradicional de masculinidade está sendo posta à prova e em que termos como “masculinidade tóxica” são cada vez mais usados, grupos como o de Plymouth Meeting buscam proporcionar novas formas de se expressar.
– Frequentemente nos ensinam que ser emocionalmente estoicos é a base da masculinidade – diz Scott Turner, de 46 anos, co-fundador do grupo. – Quem demonstra fraqueza emocional ou vulnerabilidade falhou como homem. Se quisermos ser mais sensíveis em relações a outros homens, precisamos antes ser capazes de construir um vocabulário emocional.
Parte dessa evolução envolve a compreensão de que o contato físico vai muito além da agressão e do sexo. A afeição pura e simples pode ser uma porta para a proximidade emocional.
– O que fazemos aqui não é o fim, não basta o contato físico. Ele faz parte de um instrumento de cura muito maior – observa Turner.
Essa necessidade de cura foi apontada pelo ator Fábio Porchat em entrevista recentíssima.
“Comecei a me dar conta de que muitos homens não estão sabendo lidar com as mudanças sociais. Eles não estão conseguindo se adequar a esses novos tempos. Além de ser nocivo para as mulheres, o machismo é prejudicial aos homens também”, disse Fábio.
Fundador do grupo do abraço com Turner, Kevin Eitzenberger, 57, sofreu com a morte do irmão mais novo e a distância do pai na infância, o que o fez crescer sem referenciais masculinos. Chegou à idade adulta um tanto perdido sobre o que significa ser um homem. Em 2008, ele descobriu o ManKind Project, entidade sem fins lucrativos criada há 30 anos para dar apoio aos machos da espécie.
“Nós queremos que os homens descubram qual o ideal de masculinidade”, diz Boysen Hodgson, diretor de comunicações do MPK nos Estados Unidos. “Não é algo que possa ser imposto ou prescrito. Pedir afeição, tempo ou ajuda a um homem dá medo. Mas é uma habilidade muito importante de se aprender.”
Kevin Eitzenberger acredita que frequentar o MPK o levou a desejar se conectar a outros homens e buscar a aceitação deles. E foi isso que o inspirou a criar o grupo do abraço na Pennsilvania.
De acordo com o artigo “Heteromasculinity and Homosocial Tactility among Student-athletes” (“Heterossexualidade e Toque Homossocial entre Atletas Estudantes”), publicado na revista britânica “Men and Masculinities”, mostraram que 98% deles haviam dividido a cama com outro atleta. Dentre esses, impressionantes 93% tinham o costume de se enroscar no companheiro para dormir.
Co-autor do artigo, Mark McCormack, da Universidade Durham, disse ao Huffington Post que acredita que este fenômeno pode estar ligado a um declínio da homofobia na sociedade:
– Os atletas estudantes não percebem que isso é algo que seus avós veriam como chocante. São as gerações mais velhas que acham homem dormir abraçado com outro homem um tabu.
Os cuddling groups estão começando a se tornar populares nos Estados Unidos. Já há, inclusive, grupos como esses especificamente para mulheres e para pessoas com deficiência.
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