A genialidade de João Pimenta ao assinar o figurino de “Tal Vez”, espetáculo da Cia de Ballet Dalal Achcar


Um dos maiores nomes da moda, que sempre adotou em seu trabalho práticas como sustentabilidade, economia circular, por exemplo, criou figurinos para os bailarinos expressando a trajetória que enfrentamos desde o início da pandemia até hoje com a flexibilização de acordo com as medidas sanitárias. “Começamos o espetáculo com casacos cinza longos, com uma máscara de balaclava, que cobre todo o rosto, preta de renda com uma imagem bem pesada mostrando esse universo da solidão, de estar enclausurado, de estar dentro de uma prisão. Mas há o momento da libertação com muitas cores e fluidez”, pontua

A genialidade de João Pimenta ao assinar o figurino de “Tal Vez”, espetáculo da Cia de Ballet Dalal Achcar

A gente ama João Pimenta e recebemos as novidades incríveis dessa mente brilhante da moda. Mas, nunca deixei de ficar impactada lá atrás com o convite do Green Nation Brasil ao estilista que, com um olhar criativo, sempre, já linkava sustentabilidade, economia circular, redução de energia e produtos tóxicos no processo produtivo. Criou verdadeiras obras de arte com algodão colorido no jacquard com desenhos africanos e tribais, utilizou palha africana com textura de tecido… uma maravilha. Feliz, agora, com João Pimenta assinando figurino do espetáculo “Tal Vez”, da Cia de Ballet Dalal Achcar, com coreografia de Alex Neoral, no Teatro Riachuelo Rio. A parceria com a produtora Aventura é bem-sucedida. João foi premiado com as montagens “Romeu e Julieta – ao som de Marisa Monte” e “Merlin e Arthur – Um Sonho de Liberdade”. Ele agora está em cartaz com “Sweeney Todd” e duas óperas no Theatro Municipal de São Paulo – “ Navalha na Carne” e “O Homem de Papel” . Além de estar fazendo o figurino da comissão de frente da escola de samba “Vai Vai”. “Amo criar figurino. Como eu gosto de linguagem, uso ela na moda e o figurino tem que ser comunicação pura. Ele estimula muito a contar histórias via roupas”, diz o estilista à produção da Cia de Ballet.

Tal Vez/Crédito: Marcia Ribeiro

Gênio João Pimenta e seus figurinos do espetáculo ‘Tal Vez’ (Crédito: Marcia Ribeiro)

“A ideia do figurino começa quando o Alex me passa o briefing, com o desejo dele de qual visual deveria ter e o significado que ele quer trabalhar. E aí a gente começou a pensar na pandemia, no desejo de sair de casa, de se vestir, de colocar uma roupa vibrante e encontrar as pessoas. Achamos coerente contar essa história desde a pandemia. Então, começamos o espetáculo com casacos cinza longos, com uma máscara de balaclava, que cobre todo o rosto, preta de renda com uma imagem bem pesada mostrando esse universo da solidão, de estar enclausurado, de estar dentro de uma prisão”, revela o artista, acrescentando que zíperes, conforme vão abrindo, revelam uma roupa extremamente colorida e fluida, que aos poucos vai saindo pelas frestas do casaco. Mostrando que, por fora estamos com essa couraça, mas que por dentro temos essa felicidade embutida e o desejo de felicidade”.

Ele diz que o público se surpreenderá quando, em um período, o espetáculo fica muito colorido. “Sai de um lugar todo tenso e vai para um ambiente de felicidade. De poder sair de casa, tirar essa máscara e ir para o baile”. A inspiração? “Eu acredito que a ousadia desse trabalho é ter exatamente uma roupa que não possibilita uma dança livre, né? Estar começando um espetáculo de dança com essa imagem pesada, avessa do que as pessoas imaginam de um balé. Pegar um trabalho de dança, onde o corpo é pura fluidez e extremamente necessário e cobrir. Então eu considero essa proposta de começar espetáculo dessa forma ousado”.

Espetáculo Tal Vez (crédito: Marcia Ribeiro)

“O figurino tem que ser comunicação pura. Ele estimula muito a contar histórias via roupas.” – afirma João Pimenta (crédito: Marcia Ribeiro)

E João Pimenta comenta essa verve de figurinista de grandes projetos, como o Ballet de São Paulo, do Theatro Municipal. “Fiz muitos espetáculos importantes pra mim, mas um deles que eu acho que talvez é onde eu mais tenha apreendido foi um espetáculo chamado “Paraíso Perdido” do coreógrafo grego Adonis Foniadakis. Eu não falava inglês e a relação com ele foi muito incrível para eu absorver tudo o que ele queria. A inspiração era o Bosch e ele queria modernidade e a gente não tinha contato verbal, mas houve uma identificação muito grande. É um dos trabalhos de dança que eu considero mais importante que eu tenha feito assim, já tenho muitos trabalhos de dança dentro da ballet da cidade e de outras companhias também, mas o ballet da cidade, pra mim é importante pela casa que a gente tem. Apresentar um ballet no Theatro Municipal, pra mim, sempre é muito estimulante”.