Ronaldo Fraga é curador de projeto no Espírito Santo que estimula a economia criativa de comunidades


A coleção “…E o que dizem as águas?” é composta por produtos de moda, acessórios, utensílios domésticos e de decoração, gastronômicos e de design artesanal desenvolvida em Regência Augusta e Povoação – comunidades localizadas no Norte do Espírito Santo. Com metodologia desenvolvida e aplicada pela Associação de Culturas Gerais – ACG e curadoria de Ronaldo Fraga, artesãos, artistas e empreendedores da região foram orientados sobre processos criativos, produtivos e gerenciais, desenvolvendo uma linha específica de produtos para comercialização online para todo o Brasil e exterior

“Meu desafio como designer é ser uma ponte entre os Brasis que não se conhecem e, em Regência Augusta e Povoação – comunidades localizadas no Norte do Espírito Santo -, onde o rio se encontra com o mar, fato que gerou o nome da coleção, estimulamos as características locais, como a cultura cabocla gerada pela miscigenação indígena e negra, para desenvolver produtos únicos que trazem a identidade e os valores da região”. A frase é de Ronaldo Fraga que assina a curadoria de um projeto com metodologia desenvolvida e aplicada pela Associação de Culturas Gerais – ACG, com artesãos, artistas e empreendedores da região. Eles foram orientados sobre processos criativos, produtivos e gerenciais, desenvolvendo uma linha específica de produtos para comercialização online para todo o Brasil e exterior. Assim nasceu a coleção “…E o que dizem as águas?”, composta por produtos de moda, acessórios, utensílios domésticos e de decoração, gastronômicos e de design artesanal, entre outros.

Parte do Projeto “Rio Doce, Doce Mar”, realizado pela Associação de Cultura Gerais (ACG) e promovido pela Fundação Renova, os criativos locais participaram de várias atividades com foco no fomento da economia e na geração de renda, utilizando como base a economia criativa e a produção associada com ênfase no resgate das tradições regionais, que incluíram práticas produtivas, novas possibilidades artísticas e de design, orientações gerenciais sobre qualidade, precificação, divulgação e vendas nas redes sociais.

Como resultado da ação, os participantes desenvolveram uma linha com variados produtos – desde roupas e objetos de decoração, passando por bebidas, doces, geléias, pães, méis e chocolates, até sabonetes e toalhas, entre outros – que pretende, segundo o curador Ronaldo Fraga, além de gerar renda, “resgatar e preservar a memória local e a autoestima da população”.

O principal objetivo foi estimular os saberes e fazeres tradicionais dessas comunidades, assim como incluir outros saberes para trazer emprego e renda, mas também para que possam visualizar o futuro – Ronaldo Fraga

Ronaldo Fraga pontua que “para tanto, buscamos detectar sementes em terreno árido, estabelecendo uma relação de confiança com a população local, inicialmente através da escuta, para então sugerir novas possibilidades criativas para a composição de uma linha de produtos que possa refletir esse universo que já existe”.

O foco do projeto foi provocar, junto aos participantes, “um olhar para a história da formação dos povoados e seu entorno”, privilegiando na coleção elementos ligados à atividade pesqueira, frutos regionais como cacau e manifestações artístico-religiosas, como o congado, por exemplo, que resultaram em produtos com características inusitadas como o pão em formato de congo, o mel de cacau e a cerveja de aroeira, além de roupas, acessórios e objetos com design e estampas inspirados na fauna e flora.

Além da coordenação de Ronaldo Fraga, o grupo contou com oficinas ministradas por profissionais especialistas nas várias áreas envolvidas na produção dessas comunidades, como Ana Vaz (design têxtil), Hoslany Fernandes (gastronomia afetiva), Marcelo Maia (artesanato em madeira, papietagem e reciclagem), Lena Santana (moulage), Maria Elizabeth de Oliveira (macramê) e Maria Zélia (decoupage).

Nathalia Torres, presidente da Associação de Cultura Gerais – ACG, reforça a importância do legado proporcionado pelo projeto nas comunidades ao integrar, interligar e formalizar o coletivo. “Criamos redes entre os participantes e também processamos as formalizações que são importantes para as futuras comercializações. Para isso, criou-se uma Associação focada na economia compartilhada e colaborativa como modelo de gestão inovador e criativo”, comenta Nathalia.

Um novo olhar sobre os saberes e fazeres tradicionais

Walter Almeida, da Associação de Arte e Gastronomia da Vila Regência Augusta, comenta a repercussão do projeto junto aos empreendedores da comunidade e as novas oportunidades que poderão ser obtidas com as consultorias realizadas durante o processo de qualificação.

O projeto promoveu grande motivação para a comunidade ao trazer novos produtos e design. Ronaldo, um artista multifacetado, agregou e trouxe um novo oxigênio para os participantes. Às vezes, ficamos no dia a dia e não despertamos, e agora todos se abriram com muitas pessoas querendo desenvolver novos produtos – Walter Almeida

Integrante da Associação das Artesãs de Povoação/Rio Doce, Alexsandra Silva Mosca evidencia, entre outros benefícios, o impacto da qualificação profissional e dos respectivos produtos para a alavancagem da economia da região. “Foi maravilhoso. Se os artesãos não assimilarem a qualidade que nos foi proporcionada, vamos ficar atrás no mercado”, sinaliza a artesã.

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Aumentou o nível dos produtos e as possibilidades para um universo muito vasto, pois, a partir disso, abre-se um leque e sua mente começa a pensar despertando várias interrogações. Até então, tínhamos produtos, mas não qualificação profissional. O projeto trouxe essa qualificação e um olhar de mercado que elevou a produção local – Alexsandra Silva Mosca

Com lançamento oficial nas vilas, e participação nas feiras ArteSanto – Vitória (22/09 a 01/10) e Semana Criativa de Tiradentes (18 a 22/10), os produtos da coleção “…E o que dizem as águas?” podem ser adquiridos no site www.eoquedizemasaguas.com.br  e no instagram @eoquedizemasaguas.