Amor na janela em tempos de Coronavírus


Nesse artigo, o jornalista Alexei Waichenberg pontua: “Faz uma live, convoca os teus amigos e os do seu amor para uma videoconferência, comemora o aniversário dos mais chegados, que no ano passado não foram merecedores nem de uma mensagem no facebook. Toma um drink junto, joga o tarot on line  e dispara uma sinastria pela internet, compartilha esse meu artigo. Tem tanta coisa para fazer e o melhor, sobra tempo, sobra amor, que antes faltava”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Deixa o sol entrar, deixa a chuva passar e deixa o teu amor escapar pela janela e se espalhar pelo mundo, mas fica em casa.

Na semana passada, depois que publicamos “Amor em Tempos de Pandemia”, surpreendeu-nos um leitor@ a escrever para a editoria e perguntar como faria para rever um amor em tempos de proibição de viagem.

Ora bem, pegou-me com o mesmo problema car@ leitor@. Imagine uma pessoa de amor manifestado como eu precisando cruzar o Atlântico para encontrar o seu amor? O fato é que não podemos. Temos que ser diligentes para cumprir as normas da Organização Mundial de Saúde, pensar nos milhares de profissionais, que estão na rua, expostos para nos deixar seguros o quanto antes. Precisamos reinventar a maneira de receber e fazer chegar o nosso amor, onde quer que ele esteja.

Segundo a astrologia, entramos na Era de Aquarius, uma Era cósmica, que regida por esse signo, favorece a comunicação rápida, a busca pelo futuro e a oposição ao autoritarismo. Já não era sem tempo. Mas, precisamos nos adaptar a tudo isso. Uma resistência à mudança, entretanto, é natural e os processos vão mesmo se assemelhar ao de uma inacreditável e espetacular ressurreição.

Agora, estamos presos em nossas casas, para o bem comum, para logo menos nos sentirmos livres e sermos capazes de amar diferente.

Por ora, vamos aproveitar para mergulhar em nós mesmos, para reparar o que em nós andava mal e para reparar no outro. Com algum esforço e os recursos da tecnologia e da rede mundial de comunicação, você vai perceber que está apto a olhar o seu amor de outra maneira. Se antes, mesmo estando lado a lado, vocês se pegavam presos aos seus celulares em pleno jantar romântico, agora o celular é seu único canal de comunicação. Não é mesmo interessante?

A diferença é que nesse momento eleito para o amor, vocês são um para o outro. Então trata de se arrumar, faz um cabelo bonito, pesquisa uma nova receita para trocar, repara em cada detalhe da imagem do seu amor, manda nudes, kkk. Escolhe uma luz boa. Absorve dicas de decoração, planeja a próxima viagem juntos, depois da pandemia. Faz tua árvore genealógica, troca fotos de vocês quando criança, dos pais, dos avós, dos bisavós, nos tempos da guerra, capricha na escolha de um poema, vê um filme ao mesmo tempo que o seu amor.

“Precisamos reinventar a maneira de receber e fazer chegar o nosso amor, onde quer que ele esteja” (Foto: Arquivo Pessoal)

Faz uma live, convoca os teus amigos e os do seu amor para uma videoconferência, comemora o aniversário dos mais chegados, que no ano passado não foram merecedores nem de uma mensagem no facebook. Toma um drink junto, joga o tarot on line  e dispara uma sinastria pela internet, compartilha esse meu artigo.

Tem tanta coisa para fazer e o melhor, sobra tempo, sobra amor, que antes faltava.

Para todas essas reflexões a dois, ou a três, sei lá se você é adepto do poliamor, preserva, entretanto, os seus momentos de autocuidados. Nesses, além do frenético álcool gel, tenta respirar direito. Expira e inspira-te para não pirar. Eu tenho uma melhor amiga que tem feito umas sessões de respiração, que é fera no mindfulness, você deve ter também, senão procura a Patricinha.

Faz crossfit na varanda, ioga no quintal, exercita esse corpo com dois garrafões de água, mas não sai de casa peloamor.

Dito isso, eu te sugiro uma última coisinha. Vai até a janela, abre, deixa o sol entrar, deixa a chuva passar e deixa o teu amor escapar, mesmo que ele vá para onde os seus pés não possam alcançar. Você pode contaminar o mundo de alegria. Faz uma serenata de amor com os vizinhos, como na Itália ou na Espanha, ouve e aplaude o nosso bombeiro na Magirus tocando trompete, bate panela sem saber o porquê, mas faz um barulho bem bacana. Por mais longe que você esteja, o seu amor vai escutar. Assim como você, ele agora está pronto para isso.

*Alexei Waichenberg, jornalista com sintomas de amor crônico.