Amor Astral: a série de prognósticos astrológicos para você refletir nesses tempos de pandemia


Nesta crônica, Alexei Waichenberg diz que inicia “uma série de amor astrológico que, em tese, não deveria fazer nenhum sentido, mas faz. Vou dividir em algumas orientações, com a única intenção de atrair leitores de todos os planetas”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Comecei minha trajetória profissional na Rádio MEC, muitos, muitos anos atrás. Naqueles dias cheios de promessas, rodeados por colegas ilustres, entre eles o amigo Nelson Tolipan (1936-2018), pai dessa outra colega editora genial, como não podia deixar de ser. Meu sonho era construir uma carreira como a deles. Claro que não deu muito certo. Tolipan era, e continua sendo, a maior autoridade do Jazz no Brasil, Zito Batista, da Ópera, Bocchino, o legítimo herdeiro do Villa, nosso ilustre maestro, Zaremba, na música barroca, Marlos Nobre, Fernanda Montenegro, Gulnara, Diana, Virgínia eram meus comparsas de escrita radiofônica.

Naqueles dias cheios de promessas, deram-me um programa de vida rural para escrever sobre como plantar tomates. Logo depois um up-grade para escrever astrologia. Eu, de maneira irresponsável, corrompi o conteúdo. Apresentava num dia áries, touro e gêmeos, no outro câncer, leão e virgem e no outro o orangotango rosa com ascendente desconhecido.

Agora estou aqui, depois de escrever música erudita, charlar nas artes plásticas, teatro, televisão e cinema, a escrever para outra Tolipan, com a mesma irresponsabilidade corrompida.

Nesta crônica, inicio uma série de amor astrológico que, em tese, não deveria fazer nenhum sentido, mas faz. Vou dividir em algumas orientações, com a única intenção de atrair leitores de todos os planetas.

Aos homossexuais do sexo masculino, com idade cronológica entre 25 e 35 anos. Tá muito específico? Queiram perdoar. Eu, já, generalizo.

Você, homossexual, do sexo masculino, com idade cronológica entre 25 e 35 anos, nascido em qualquer dia do ano, em qualquer hora, em qualquer lugar do globo, receba com carinho seu perfil astrológico (eu disse com carinho):

Amor não é, definitivamente, a sua maior aptidão. Seu tesão está associado a qualquer tipo de recusa, disputa ou, à conquistas que lhe deem a sensação de sucesso aparente. A casa da família está longe de ser o seu lugar preferido. Seus exemplos de vida estão na mídia instantânea, na vitória ligeira e massacrante. Uma leitura só pode demorar menos do que a resposta de um aplicativo. A distância entre você e o seu objeto de desejo não deve nunca ultrapassar 5 quarteirões, mas pode exceder os 1.000 quilômetros, por avião, se faz favor. A lua é às 04:20. O sol sempre para praia, encontros de corpos bem talhados, enquanto alguns idiotas obcecados pelo trabalho, perdem a alegria de viver em tarefas que você considera desnecessárias, já que sua academia é outra e sua trajetória de glórias está para acontecer a qualquer momento.

Se você for ator, é ótimo, mas ainda vai aprender com grandes papéis. Se for vendedor é o melhor. Se for astrólogo, está à espera do retorno de Saturno e se for pedreiro… não, você não é pedreiro. Eles até te interessam, mas eles são os heterossexuais com os quais você deseja encontrar sem ser percebido. Fique tranquilo, eles também detestam exposição, mesmo as de arte.

Voltando aos planetas, a vênus, se estiver presente, se não é a melhor, pelo menos, é a mais indicada forma de amar. Perdão, esqueci que você não é afeito ao amor. Bom, o mercúrio é desviado – eu falei des vi ado. E marte? Marte está a reboque de um escorpião. Assim, dessa vez, sem referência ao zodíaco, sua energia masculina é a da traição.

Netuniano, eu poderia ler o seu mapa completo, mas aí vou precisar que você faça um depósito na minha conta. Assim, na pior das hipóteses, eu ganho um troco, enquanto vejo que você gasta o melhor período da sua vida, protelando a construção de algum laço que te ate com alguém que queira dividir alegrias no futuro. Tristeza, ah tristeza não vale, e isso a gente resolve com o Máximo dos Divisores, comuns a quase todos. Reduzem fatorial à sensação da euforia de, ainda assim, ser o mais cobiçado.

Bem, se você não se enquadra nesse perfil, então você precisa mesmo me telefonar, me mandar um whatsapp, curtir essa crônica no Instagram ou qualquer outro recurso que a tecnologia se utilize para me acessar. Esse material é precioso para um cronista cinquentão.

Bom dia e, na semana que vem, me aguardem com os prognósticos de perfis heterossexuais, em cúspide.

*Alexei Waichenberg, jornalista na ilusão de ser um astro