Por conta da pandemia, Buraco da Lacraia fecha definitivamente suas porta depois de 27 anos: “Não temos mais saída”, diz Adão Arezo


O dono do tradicional reduto da cultura LGBTQIA+, na Lapa, no Rio de Janeiro, lamenta o encerramento das atividades. Pelo palco da casa já passaram nomes como Alcione, Fafá de Belém, Gretchen, Rita Cadilac, Luis Lobianco, Leticia Guimarães, Sidnei Oliveira, Heber Inácio, Patricia Pinho, Suzy Brasil, Vick Diamond, Desireé, entre tantos outros. A noite de despedida será dia 12 de setembro

O Buraco da Lacraia fecha suas portas depois de 27 anos de sucesso na noite carioca

*Por Rafael Moura

Arte, diversidade e resistência! São três conceitos que sempre definiram muito bem o Buraco da Lacraia, uma tradicional casa da cultura LGBTQIA+, na Lapa, Rio de Janeiro. E, depois de 27 anos de memoráveis encontros, encerra suas atividades por conta da crise causada pelo novo coronavírus. Em um vídeo publicado na página oficial do Facebook, o empresário Adão Arezo, nome à frente da casa, revela: “Não temos mais saída. Com muita dor que anuncio que iremos fechar. E convido a todos para no próximo dia 12 de setembro, a partir das 18h, para uma despedida”. O Buraco ficou seis meses com as ‘portas fechadas’ e as economias do empresário foram se esgotando. E devido à incerteza de uma data para reabertura total das atividades e, principalmente, pela falta de investimentos, o fechamento acabou sendo a única opção.

“É um lugar de gente se esbarrando, de alegria ao vivo. Fiquei pensando em outras possibilidades, em fazer lives, mas não tinha como. Fora que nenhuma empresa se interessou”, explica Adão.

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Um espaço que vai deixar saudades, porque reunia com muita alegria anônimos e famosos que lutavam pela arte e pelos direitos LGBTQIA+. Pelo palco da casa passaram nomes como – Alcione, Fafá de Belém, Gretchen e Rita Cadilac, que tiveram ingressos esgotados. Além de Luis Lobianco, Leticia Guimarães, Sidnei Oliveira, Heber Inácio, Patricia Pinho, Pedro Monteiro e George Sauma. E mais as queridas drags Suzy Brasil, Karina Karão, Lord Tallent, Samara Rio’s, Vick Diamond, Desireé, entre tantos outros talentos da cultura carioca.

O Buraco da Lacraia, um espaço livre de preconceitos, de 30 m² na Lapa, fará muita falta na cultura underground carioca. O empresário revela que vai aproveitar a oportunidade para voltar à terra natal, o Rio Grande do Sul, e não descarta a possibilidade de vender a marca para alguém que se interesse em dar continuidade ao espaço. “O nome é meu e foi registrado. Tem toda uma ideia por trás e pode ser um bom negócio”, explica.

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Segundo dados da Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas Empresas, que integram as Estatísticas Experimentais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pandemia causada pela Covid-19 provocou, até a primeira quinzena de junho, o fechamento de 39,4% das 1,3 milhão de empresas que haviam suspendido temporária ou definitivamente suas operações. No total, foram 522,7 mil negócios encerrados no período. Ainda entre as empresas com atividades encerradas por causa da pandemia, 258,5 mil (49,5%) delas eram do setor de Serviços, 192,0 mil (36,7%) do Comércio, 38,4 mil (7,4%) da Construção e 33,7 mil (6,4%) da Indústria.

27 anos de sucesso

A história do Buraco da Lacraia começa em 1993, em um subsolo da Rua Álvaro Alvim, na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro, que, inicialmente, foi batizado de ‘Arezo’s Bar’, planejado para abrigar um vídeo-bingo. Porém, as atividades desse gênero foram proibidas. O bar começou a ser frequentado, fortemente, pelo público LGBTQIA+, algo que aconteceu espontaneamente e os próprios frequentadores apelidaram o bar como ‘Buraco da Lacraia’. Com o crescimento de público, um novo local foi escolhido na Rua André Cavalcanti, sendo batizado Buraco da Lacraia.

Ao longo dos seus quase trinta anos de história, a casa recebeu shows de drags, cantores, espetáculos, além do sucesso do seu tradicional karaokê aberto. Em 2012, a casa ficou mais pop quando o humorista Luis Lobianco enxergou um palco promissor, montando uma série de shows.