Patrick Sampaio dá visibilidade ao que nos aterroriza hoje em peça-filme


Espetáculo que estreia nesta quinta-feira (11) questiona valores familiares, passeando entre o surrealismo e o terror

Na casa de uma família já desgastada pelas desavenças, o prato do dia é um acerto de contas com surrealismo e pitadas de terror para a sobremesa. Realizado no formato híbrido, que mistura teatro e cinema, o espetáculo ‘Já Não Somos Doces‘, do grupo carioca Brecha, questiona as bases da instituição familiar e seu papel no desenvolvimento do projeto que formou o Brasil. Dirigida por Patrick Sampaio, a peça-filme que estreia nesta quinta-feira (11) pelo Sympla é uma criação conjunta do grupo, com elenco formado por Carolina Muait, Gabriel Abreu, Júlia Portes, Leona Kalí e Jefferson Melo. Conhecido por mais de uma década pelas performances com multidões nas ruas e criações em espaços alternativos, o coletivo agora se aventura neste novo formato transmitido ao vivo. “Deixamos pouco claro, de propósito, o que é ao vivo e o que pode ter sido filmado na casa que ocupamos em 2020 para a realização”, conta Patrick Sampaio.

O grupo criou o espetáculo tendo como ponto de partida outra obra. Patrick se baseou em ‘Quando Formos Doces’, texto de João Ricardo recém-publicado pela editora 7Letras. Aliás, ela é a primeira peça brasileira a integrar a tradicional coleção Dramaturgias da editora. A publicação, realizada em parceria com o coletivo Brecha, faz parte do projeto viabilizado graças ao edital Retomada Cultural, patrocinado pelo Governo Federal em parceria com o Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa através da Lei Emergencial Aldir Blanc, que selecionou o projeto.

“Adicionamos camadas críticas ao texto do João, questionamentos à palavra família. Ela aparece ao longo da nossa História (e atualmente) como uma arma discursiva eficiente, que blinda quem a utiliza com uma armadura de valores supostamente inquestionáveis, positivos, desejáveis, que dificultam a percepção das contradições de base”, explica Patrick, que contou com a assistência de Clara Pereira. “Convidamos o público para devorarmos a nós mesmos, em meio a pedaços de textos do João e meus, citações históricas mais ou menos camufladas e referências aos filmes do ‘novo terror’ que faziam parte da nossa pesquisa”, diz ele, que, em vez dos sustos no público, investe em outros modos de dar visibilidade ao que nos aterroriza hoje. “O terror não está aqui, afinal, diante de nós?!”, completa o diretor.