Espetáculo inspirado em trauma real ganha apresentações gratuitas e fala sobre superação com arte


Peça sobre episódio na infância da soprano Gabriela Geluda, ganha adaptação audiovisual com direção de Bruce Gomlesvky a partir de sábado (17). O libreto é de Geraldo Carneiro e as músicas de Sérgio Roberto de Oliveira

“A arte é um veículo de transmutação de traumas profundos do ser humano”, comenta a cantora e atriz Gabriela Geluda, protagonista da ópera autobiográfica ‘Na Boca do Cão’, dirigida por Bruce Gomlesvky, que ganha adaptação audiovisual e faz temporada virtual gratuita através da Sympla (dias 17, 18, 23, 24 e 25 de abril, às 19h). “É a minha primeira experiência dirigindo audiovisual. Foi um desafio estimulante”, conta Gomlesvky. O libreto, do imortal Geraldo Carneiro, é inspirado num acontecimento real da vida de Gabriela, que aos 2 anos teve sua cabeça tragicamente abocanhada por um pastor alemão e ao longo da sua trajetória encontrou na arte uma saída para os inúmeros traumas acarretados pelo episódio.

O espetáculo fala sobre o medo e sobre a possibilidade da arte como um veículo de transmutação. “Estamos todos calados, sufocados, vivendo com medo e o grito preso na garganta. Produzir essa releitura foi uma maneira de vencer as barreiras que estamos enfrentando diariamente, contra a Covid”, comenta Gabriela. “No palco me sinto viva, presente, mesmo que inicialmente amedrontada.  Cantando em cima de um palco eu consigo sair da boca do cachorro”.

Gabriela Geluda detalha: "A encenação, que já unia música contemporânea, dança e teatro, agrega agora recursos cinematográficos, explorando longos planos sequência a la mestre Hitchcock” (Divulgação)

Gabriela Geluda detalha: “A encenação, que já unia música contemporânea, dança e teatro, agrega agora recursos cinematográficos, explorando longos planos sequência a la mestre Hitchcock” (Divulgação)

A adaptação foi produzida em março deste ano no Teatro Serrador e ao mesmo tempo em que a escolha da locação agrega dramaticidade e produz um clima de ópera/suspense/terror, também denuncia a trágica condição em que se encontra esse tradicional equipamento cultural. “É um lindo ato de resistência poder filmar num teatro e ter o teatro  como personagem, num momento em que as salas de espetáculo se encontram fechadas”, pontua Bruce. “Ao ganhar sua versão filme, o limite do palco é extrapolado e espaços ocultos do Teatro Serrador são incorporados à trama. A encenação, que já unia música contemporânea, dança e teatro, agrega agora recursos cinematográficos, explorando longos planos sequência a la mestre Hitchcock”, detalha Gabriela.

“O espetáculo promove uma reflexão sobre como nos relacionamos com os desafios de modo criativo, aprendendo a incorporar o inesperado e transformando experiências traumáticas através da arte” (Divulgação)

“O espetáculo promove uma reflexão sobre como nos relacionamos com os desafios de modo criativo, aprendendo a incorporar o inesperado e transformando experiências traumáticas através da arte” (Divulgação)

A obra, originalmente encenada em 2017, foi o último trabalho do compositor erudito contemporâneo Sérgio Roberto de Oliveira – indicado duas vezes ao Grammy Latino (2011 e 2012), que faleceu ao longo da primeira temporada.  O projeto audiovisual foi contemplado pelo edital Retomada Cultural RJ, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, através da Lei Aldir Blanc e contará também com bate-papos e um curso ministrado por Gabriela.

“O espetáculo promove uma reflexão sobre como nos relacionamos com os desafios de modo criativo, aprendendo a incorporar o inesperado e transformando experiências traumáticas através da arte”, pontua ela, que após o episódio com o cachorro tornou-se cantora lírica e fez da música uma ferramenta de superação. A encenação conta ainda com os músicos solistas Ricardo Santoro (violoncelo), Cristiano Alves (clarinete / clarone), Rodrigo Foti e  Leo Sousa (percussão). A filmagem e edição ficou a cargo do diretor de cinema Paulo Camacho. A produção é de Luiz Prado, da LP Arte Soluções Culturais.

“É um lindo ato de resistência poder filmar num teatro e ter o teatro  como personagem, num momento em que as salas de espetáculo se encontram fechadas” (Divulgação)

“É um lindo ato de resistência poder filmar num teatro e ter o teatro  como personagem, num momento em que as salas de espetáculo se encontram fechadas” (Divulgação)