*por Vítor Antunes
Desde a última segunda-feira, Uma Rosa com Amor faz parte do catálogo do Globoplay, com seus únicos seis capítulos dos 220 exibidos entre 1972 e 1973. Conforme mencionado recentemente na matéria sobre o arquivo da Globo, em que muitas novelas foram apagadas por falta de espaço para guardar o acervo e pela dificuldade na importação de videotapes, a novela de Vicente Sesso apresenta não só a realidade de São Paulo do início dos anos 1970, mas também a crônica do cotidiano daquela época. Uma Rosa é, atualmente, a novela mais antiga no catálogo da Globoplay. O fato de ser considerada uma novela de sucesso não a isentou de polêmicas, como as duras críticas de Marília Pêra (1943-2015) e de Yoná Magalhães (1935-2015).
Segundo o Documento de Informações 1244/19, de 18 de dezembro de 1972, escrito pela Agência Central do Serviço de Informações e enviado ao Diretório Central de Diversões Públicas (DCDP) como um arquivo confidencial, houve uma reclamação de que Uma Rosa com Amor tinha em sua abertura uma música pornográfica. Segundo consta na carta não assinada, “a TV Globo está apresentando, no horário das 19h, a novela Uma Rosa com Amor, cujo prefixo musical contém as seguintes expressões: ‘é um saco sem tamanho, neste pega pra capar, não dá… não dá…'”. O verso, inclusive, foi marcado pelo censor, mas liberado para gravação. Rogério Nunes, diretor do DCDP, respondeu a essa carta dizendo que iria pedir para corrigir a música, que, no entanto… entrou no Globoplay justamente com o trecho polêmico. A trilha sonora internacional de Uma Rosa com Amor ficou entre as mais vendidas de 1973, segundo o Jornal do Brasil.
Yoná Magalhães (1935-2015) e Marília Pêra (1943-2015) reclamaram publicamente de suas personagens à Revista Contigo. Segundo material disponibilizado gentilmente para esta reportagem pelo pesquisador Tião Wellington, Yoná disse à Contigo: “Nara é uma pessoa vulgar. Como se não bastasse, colocaram em mim uma peruca horrorosa e roupas em completo desacordo com a idade da personagem. Se eu fosse a Nara na realidade, jamais usaria saias tão curtas, nem me vestiria tão em desacordo com meu tipo (…) Do jeito que a coisa anda, fica até meio ridículo. Homem algum trocaria uma beleza singela e meiga como a de Serafina por toda a vulgaridade de Nara”. Marília Pêra dizia o mesmo e complementava: “Serafina não precisava ser tratada como um verme pelo marido”.
Estimava-se que Vicente Sesso (1933-2016) escreveria a novela sucessora de Bandeira 2, intitulada As Panteras, e já havia até um elenco prévio, com Betty Faria, Cláudio Marzo (1940-2015) e Jardel Filho (1927-1983), que acabaram sendo remanejados para O Bofe. O Bofe seria dirigido por Domingos Oliveira (1936-2019), mas acabou não sendo. Lima Duarte assumiu a direção em seu lugar. Vicente Sesso foi transferido para o horário das 19h, onde escreveu Uma Rosa com Amor. Tida como uma novela romântica e ingênua, a crítica foi dura com Leonardo Villar (1923-2020). Valério Andrade, do Jornal do Brasil, o descreveu como “fraquíssimo”.
OUTRAS NOVELAS APAGADAS
Desde a semana passada, o site Heloisa Tolipan tem falado sobre as novelas apagadas ou incompletas da Globo. O pesquisador Gabriel Sarturi complementou dados que não constam na monografia apresentada para a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a respeito das novelas das 22h anteriores a O Bem Amado. Veja:
- De Assim na Terra Como no Céu (1970/1971), não existe nada.
- De O Cafona (1971), existe uma cena sem som no Cedoc.
- De Bandeira 2 (1971/1972), existe uma cena extraída do programa TV Ano 25 (1975/1976) e uma chamada de últimos capítulos.
- Por fim, de O Bofe (1972), existem somente chamadas. Ao menos duas, ambas de estreia – uma delas junto da que existe de Bandeira 2.
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