*Por Domênica Soares
O papel da mulher na sociedade vem se destacando e ganhando força a cada momento. Os costumes do passado já não se encaixam mais com os do futuro. Vive-se em um novo universo no qual o machismo não tem mais vez. Com base nisso, as cantoras Zélia Duncan e Ana Costa idealizaram um álbum incrível no qual narram temas relacionados ao mundo feminino com foco nas questões sociais e comportamentais do mundo. “Eu Sou Mulher, Eu Sou Feliz” conta com 16 faixas, interpretadas pelas maravilhosas, Elba Ramalho, Simone Leila Pinheiro, Isabella Taviani, Joyce Moreno, Daniela Mercury, Lan Lan, Áurea Martins, Fabiana Cozza, Cida Moreira, Lucina, Júlia Vargas, Mart’nália, Maíra Freitas, Fernanda Takai, Nath Rodrigues, Teresa Cristina e Mônica Salmaso. Ana Costa explica que tudo começou quando ela e Zélia compuseram a letra de “Uma Mulher” (primeira faixa do álbum), pensando naquela figura comum, que trabalha, cuida dos filhos e tem a vida sofrida ao ponto de não conseguir pensar em si própria.
“A música ficou tão boa que resolvemos fazer mais. Aí surgiu a ideia do projeto que, a princípio, seria um CD com 10 músicas e acabou virando um álbum de 16 faixas. A essência é puramente falarmos do universo feminino. Anseios, medo, coragem, mistério, sexo, abuso, amor, questões sociais que todos estão inseridos mas com o olhar feminino”, pontua Ana.
Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Zélia Duncan fala sobre as escolhas das parcerias e aponta: “Pensamos nas personalidades de cada uma. Foi uma curadoria deliciosa. Pena que eu gostaria de ter muito mais espaço, para muitas outras mulheres, mas há um limite, obviamente. Mas ainda assim o recorte ficou bem bonito e representativo”. Segundo ela, o disco possui a essência de exaltar a mulher, suas lutas, sofrimentos e realizações, e além disso, chamar atenção para toda violência que sofre, especialmente as mulheres pretas.
A cantora afirma ainda, que levar tais temas para o público é de extrema importância,de porque as questões tratadas estão na ordem do dia a dia das mulheres. Sendo assim, o público precisa se conscientizar da violência cotidiana, dos números de agressão e feminicídio e a mulher precisa entender a força que tem.
Ana Costa frisa que o resultado do disco vem superando expectativas. “Fiquei surpresa com a atenção que as músicas e interpretações foram recebidas porque parto do princípio de que ninguém mais ouve nada direito, principalmente uma produção por completa. Acho que as pessoas estão querendo ouvir algo que traga um alento para tempos tão bizarros. Nosso projeto chega em um momento de mudanças muito significativas”, pondera.
Como a principal abordagem do disco é o tema relacionado às mulheres, o feminismo ganha força nessa discussão. Para Ana, esse tema faz parte de todo o processo e, hoje em dia, não se pode mais manter a interpretação padrão do tema perfilando as características de uma feminista mas sim entender que é apenas uma questão de equidade e justiça.
Sobre o cenário da música brasileira para as mulheres, Ana responde como cantora, compositora, instrumentista negra e atuante principalmente no mercado do samba: “Estou muito feliz com o movimento das mulheres dentro do meu nicho. Nas rodas de samba, a militância é incansável, mesmo porque existem outras questões que estão envolvidas nessa manifestação cultural que é o samba. A mulher negra, como ela convive com o machismo estrutural dessas camadas menos favorecidas, a violência, a dificuldade da mulher sambista de se estabelecer no mercado da música do mundo”.
Para Zélia, esse cenário está repleto de mulheres incríveis, em todas as posições, de instrumentistas a engenheiras de som, cineastas, roteiristas. Para ela, o feminismo é igualdade, equivalência, liberdade da mulher, para exercer todas as suas potências. “ Nunca mais vou olhar o mundo sem meu olhar feminista. Ser feminista, na minha opinião, é ser humanista também. A luta é grande”.
Entre as inspirações das cantoras, estão muitas pessoas importantes. Para Zélia, primeiramente, estão as personalidades de sua vida pessoal, as mulheres de sua família. Sua mãe, avó, tias-avós, tias, primas, irmã. Seguidas por Márcia Tiburi, Eliane Brum, Conceição Evaristo, Elisa Lucinda, O Slam das Minas do Rio, Vilma Piedade, Edith Butler e Angelou Maya.
Já Ana, frisa que hoje se inspira nas mulheres que batalham e são do bem, como Marielle foi. Além disso, se espelha em mulheres que apesar dos pesares estão lutando pelas suas causas, com Daniela Mercury e Zélia Duncan. Sobre seu maior sonho, Ana dispara “Que o Brasil saia dessa situação de desilusão. Quero acreditar no futuro”. E para Zélia: “Sonho com a paz. Mas não vai haver paz onde existe racismo, machismo e a mulher é desvalorizada. Nada vai acontecer em um cenário de opressão e desigualdade”.
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