* Por Carla Andrade
Zé Renato e Guinga são amigos de longa data. Há duas décadas sobem ao palco ao lado de Jards Macalé e Moacyr Luz para compartilharem afetos e experimentos sonoros com o projeto “Dobrando a Carioca”. A admiração que ambos nutrem um pelo outro levou à construção de um espetáculo inédito que a dupla batizou de “Prece à lua”. Logo mais, o Boca Livre e o virtuose do violão apresentam o show no Teatro Rival Petrobras, que completa neste mês de março 85 anos de resistência cultural. Em entrevista ao site HT, Zé Renato fala sobre a parceria e as afinidades com o amigo Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar, o Guinga, o amor pela música e como encara as mudanças do mercado fonográfico no Brasil e no mundo.
HT – Vivemos em um momento no qual o consumo imediato da música é premissa e muitos artistas são lançados sem qualquer preocupação com a proposta de uma carreira mais estruturada. Como encara essas mudanças dentro do mercado fonográfico?
Zé Renato – Com naturalidade. Essa mudança já ocorre há muito tempo e precisamos nos adaptar a ela. Continuo comprando CDs. O encaminhamento da minha história profissional está absolutamente em sintonia com tais transformações, é o jeito que temos de poder mostrar o trabalho, através das plataformas digitais. Todos os trabalhos que faço atualmente são divulgados por essas mídias. Daqui a um ou dois meses estaremos lançando novo trabalho do Boca Livre, de que eu continuo fazendo parte. O projeto, óbvio, também será lançado por essas plataformas. A realidade é essa. Sou de uma geração que tinha outro relacionamento com a música e confesso sentir falta de poder ouvir discos e saber de todas as informações do trabalho, da autoria das canções, de quem fez a capa, por exemplo. São coisas que lamento dentro dessa nova realidade. O público fica desinformado sobre a obra e o artista.
HT – A música sempre teve um papel importante na cena cultural. Ela tem o poder de transformar, é também utilizada como mecanismo de protesto. Muitas letras abordam temas relevantes dentro do contexto sociopolítico. Apesar de tantas inovações, acha que a música ainda consegue alcançar o público da mesma forma?
Zé Renato – Acho que esse papel transformador, contestador de ideias e posicionamentos continua. As pessoas ainda são tocadas pelo o que seus artistas favoritos cantam. Uma canção pode sim ajudar na mudança de um pensamento e a clarear um pouco mais os conceitos.
HT – O que ouve no Spotify?
Zé Renato – Ouço os mais variados estilos musicais. Desde canções de Paulinho da Viola e Sting a Frank Sinatra. Gosto muito de trilhas sonoras, como a do West Side Story. Música é momento e o Spotify ajuda bastante pela variedade que oferta. Podemos ouvir de tudo. Gosto de misturar estilos de acordo com o meu estado de espírito, dependendo do dia ou da noite.
HT– Você e Guinga são amigos de longa data e existe admiração mútua pelo trabalho do outro. Como foi o processo de unir as experiências para a produção do show?
Zé Renato – A ideia começou a ser desenhada quando nos encontrávamos em camarins. Sempre tocávamos músicas e muitas das vezes canções que fazem parte de nossas formações, que aprendemos em casa com os pais. Essa identificação que temos, de vivências e referências musicais foi o que nos motivou a criar um show baseado nessas músicas.
HT – Ambos têm um gosto em comum pelas valsas brasileiras. Inclusive a clássica “Prece à lua” dá nome ao espetáculo. Vocês prepararam um arranjo especial para a canção…
Zé Renato – A canção é uma valsa que, além de ser linda e traduzir a ideia do show, faz parte desse cancioneiro com o qual nos identificamos. “Prece à lua” é uma valsa de dois compositores muito importantes no mundo do samba, Bide e Marçal. Mesmo bebendo na fonte do samba, eles têm em seu repertório algumas valsas. O show tem esse clima meio de seresta. Vamos apresentar uma outra valsa, de minha autoria junto com Hermínio Bello de Carvalho, que se chama “O vento levou”.
HT – Essa é a primeira valsa que compôs?
Zé Renato – Sim, essa é minha primeira valsa, inclusive cantei pouco em público. Surgiu com muita naturalidade da parceria com Hermínio e me orgulho bastante do resultado. Tenho certeza de que vai agradar.
HT – O que o público pode esperar do espetáculo?
Zé Renato – Acredito que todos os que se identificam com o nosso trabalho irão gostar. Vamos tocar algumas músicas juntos pela primeira vez, como a que dá o nome ao show. Apresentaremos “Senhorinha”, parte do repertório do Guinga, e que eu nunca cantei com ele. Da mesma forma que ele vai tocar “Anima”, composição minha com o Milton Nascimento. Será um espetáculo em que mostraremos essa identificação de forma muito simples. Vou até enganar e tocar um pandeiro em duas músicas (risos). O básico é a nossa identificação, mostrando esse lado intérprete de cada um, tudo com muito violão que é a base de nossas criações.
Serviço
Teatro Rival Petrobras – Rua Alvaro Alvim, 33/37 – Centro/Cinelândia – Rio de Janeiro.
Data: 16 de março (Sábado)
Horário: 19h30.
Abertura da casa: 18h.
Ingressos: R$ 60,00 (Inteira), R$ 40,00 (Promoção para os 100 primeiros pagantes), R$ 30,00 (meia-entrada).
Informações: 21 2240-9796
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