Zé Miguel e Ná Ozzetti lançam disco juntos no Rio de Janeiro e ela fala com HT sobre parceria, streaming e musicalidade. Vem!


Entre tantas coisas, Ná falou sobre ter disponibilizado o CD para download gratuito em tempos em tempos de questionamento sobre a remuneração do streaming de música e outras plataformas da internet

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Quando o cantor e compositor Zé Miguel estava se casando, lá em 1985 com a artista plástica Laura Vinci, se preparava para selar uma parceria duradoura. E não estamos falando do matrimônio. Para cantar na cerimônia, Zé convocou a cantora Ná Ozzetti, e dali em diante nada mais foi o mesmo na vida da deles, nem da música brasileira. “Na ocasião, ouvi pela primeira vez suas canções e fiquei muito impressionada. A partir desse momento começamos uma série de parcerias, surgiram shows, gravações e participações em projetos distintos que se estenderam ao longo desses 30 anos”, lembra Ná em entrevista a HT. E esse encontro, que abriu caminho para tantos outros, foi celebrado em “NÁ e ZÉ”, um álbum que reúne 14 canções compostas por Zé Miguel entre 1978 e 2014, sendo oito inéditas em disco. O lançamento em forma de show dele será na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (06), às 20h.

Enquanto Zé estava em viagem pra Feira Literária Internacional de Paraty, onde faz a Conferência de Encerramento, resolvemos conversar com Ná para falar um pouco sobre essa selagem da parceria. Segundo ela, cada um deles seguiu seu próprio caminho, com diversos parceiros diferentes, mas nada que a distância pudesse separar a parceria tão antiga. “Acredito que nossas essências musicais permanecem as mesmas da época em que nos conhecemos, mas agora, naturalmente, estamos num momento de maior maturidade e enriquecidos pelas muitas experiências vividas com tantos parceiros”, considera.

O novo CD foi disponibilizado para download gratuito no dia 03 de abril e chegou às lojas poucas semanas depois. Agora, a Sala Cecília Meireles será palco para a personificação de todo o som. E a cantora não acha que, em tempos de questionamento sobre a remuneração do streaming de música e outras plataformas da internet, eles foram na contramão. “Não acho que seja contramão lançar primeiro gratuitamente. Para quem sempre produziu de forma independente como eu, e conhece bem seus limites de distribuição, o download gratuito é muito bem-vindo neste momento. Além de ser democrático. E não concorre com o interesse pelo disco físico. Quanto à remuneração do streaming, acho muito positivo e igualmente democrático para toda a classe musical. É novidade e estamos aprendendo”, opinou.

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Polêmicas à parte, para o encontro o duo vai levar canções simbólicas como “A Olhos Nus” e “Louvar”; as inéditas “Sim, Sei Bem”, “Alegre Cigarra” e “A Noite”; e parcerias de Zé Miguel com Paulo Leminski (“Gardênias e Hortênsias”, “Subir”e “Sinais de Haikais”), Alice Ruiz (“Sinal de Batom”), Paulo Neves (“Som e Fúria”) e Marina Wisnik (“Miragem”). O álbum contou também com a participação especial de Arnaldo Antunes e do maestro Letieres Leite, no arranjo e arregimentação de sopros, em “Noturno do mangue”; de Marcelo Jeneci em “Orfeu”; e de Tiago Costa nos arranjos de sopros e cordas de “Sim, sei bem”.

Um repertório, que, como se pode ver, é variadíssimo. Isso sem contar com o começo da parceira. Mas nada que ainda faça Ná conseguir explicar o motivo das composições de Zé te atraírem tanto. “São tantas qualidades que nem sei se tenho capacidade de dizer tudo aqui. Primeiramente o que me atraiu foi a originalidade, a forma única como o Zé Miguel compõe. Além disso a profundidade, tanto nas letras como na exploração dos motivos musicais, melodias, harmonias, ideias, e o casamento mais que perfeito entre letra e música. Também a capacidade de compor em diversos gêneros, de musicar poemas de forma brilhante…”, desatina ela a elogiar.

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Mas, Ná, e a preferida? “Difícil dizer qual canção do disco gosto mais. Gosto de todas e justamente do conjunto delas, tão diferentes entre si. Cada uma nos leva a situações e lugares distintos, adoro percorrer esses lugares, passar de um clima a outro”, respondeu. Mas ela garante que, entre essas “situações” e “lugares distintos”, não espera provocar nenhum sentimento no público. “Não penso nisso, muito menos em mim. Só a música, com todos os seus conteúdos, interessa”, falou taxativa. Na apresentação, ela fica com a voz e Zé com o piano e alguns vocais. Eles serão acompanhados por Guilherme Kastrup (percussão e bateria), Sérgio Reze (bateria), Márcio Arantes (guitarra, violão e teclado) e Meno Del Picchia (baixo acústico e elétrico). Uma oportunidade, mais que imperdível, para começar a semana ao som de dois grandes nomes da música brasileira em um encontro de sucessos e de pura amizade.

HT publica abaixo a crítica do músico e linguista Luiz Tatit sobre o disco “NÁ e ZÉ”.

“Faz exatamente 30 anos que Ná cantou pela primeira vez composições do Zé. Ele se casava em dia de Iemanjá e a cerimônia começava ao som de “Louvar”, música que encerra este álbum. Pouco depois, Zé compõe a comovente “Tudo Vezes Dois” para o show Princesa Encantada que reuniu Ná Ozzetti e Suzana Salles, duas vozes identificadas com os movimentos musicais paulistanos da década de 1980. Não demorou muito, Ná lança seu disco-solo inaugural com nada menos que 4 canções de Zé Miguel Wisnik, entre as quais as belíssimas “A Olhos Nus” e “Orfeu” que, felizmente, renascem neste álbum.

Há uma particularidade no repertório que ouvimos aqui. Com exceção das últimas canções citadas e de duas mais recentes, as demais são quase segredos de baú. São pérolas do final do século passado que aos poucos respondem a uma espécie de desafio lírico e emocional: como converter poesia em letra, fazendo vibrar aqui e agora, e para todos, a paixão que permanecia em silêncio na mente e no coração do poeta e de seus leitores? Wisnik a fisga com seu poder melódico. Acha sempre a curva ideal para dizer palavras e frases acostumadas com a introspecção. Faz virar letras – e, portanto, sensíveis canções – os poemas de Fernando Pessoa (“Sim, Sei Bem”), Oswald de Andrade (“Noturno no Mangue”), Cacaso (“Louvar”) e Paulo Leminski (“Gardênias e Hortênsias”). E a experiência prossegue nas criações ombro a ombro com poetas como o próprio Leminski (“Subir Mais” e “Sinais de Haikais”) e outros, em plena atividade, como Alice Ruiz (“Sinal de Batom”), Marina Wisnik (“Miragem”) e Paulo Neves (“Alegre Cigarra”, “Som e Fúria” e “A Noite”). Aliás, é deste último o pensamento que Wisnik gosta de evocar: “a poesia é um chamado, a música uma chama”. Vindo de Paulo Neves, creio que música é o termo genérico para dizer canção.

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Ao lado do caráter afirmativo das composições aqui reunidas, da opção pelo “sim” num mundo cheio de incertezas, há um fio melódico condutor de doce tristeza de faixa para faixa que precisa de um canto sóbrio que se sirva dessa dor sem cair em pura melancolia. É o que faz Ná Ozzetti, nossa cantora maior, com sua assinatura vocal inconfundível e com o cuidado de sempre. Dá para entender, então, por que tantas canções significativas não encontraram espaço em discos anteriores. Simples, Zé esperava Ná para a gravação definitiva de suas, agora, novas pérolas”.

Serviço

Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik – lançamento ‘NÁ e ZÉ’

Data do show: 06 de julho (segunda)

Horário: 20h

Local do show: Sala Cecília Meireles (Largo da Lapa, 47, Centro, Rio de Janeiro)

Preço do ingresso: R$ 50,00 (inteira), R$ 25,00 (meia)

Classificação etária: Livre

Vendas online: ingresso.com