Desde antes de nascer, Zabelê já estava envolvida com o meio musical. Logo, não é surpresa nenhuma que a segunda filha de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, hoje com 39 anos, decida se lançar de cabeça em um novo projeto artístico como cantora solo, trazendo as mesmas características que herdou da família: um som brasileiríssimo, contemporâneo, original e alto astral. Em seu primeiro disco homônimo, que terá show de lançamento na próxima terça-feira (24), na Miranda, ela mostra toda a sua capacidade criativa, enquanto conta com a ajuda de amigos como Domenico Lanecllotti e Moreno Veloso, assim como a do marido Sérgio Menezes, que assina a produção executiva do álbum. “Tive muito prazer ao longo desse processo, foi uma descoberta deliciosa”, conta ao Site HT, em entrevista exclusiva.
Claro, Zabelê não é nenhuma estranha aos palcos e estúdios de gravação. Ainda bebê, ela posou na capa do disco “Pra enlouquecer” (1979), de Baby Consuelo. O tempo foi passando e, em meio aos ensaios dos Novos Baianos, ou nos videoclipes e músicas que participava ao lado dos irmãos nos anos 80, a cantora foi se aproximando ainda mais do estrelato, até que na virada do milênio se uniu às irmãs Sarah Sheeva e Nanã Shara, formando o grupo pop SNZ. “Foi muito importante para mim passar por tudo aquilo com as minhas irmãs, porque me fez chegar aonde cheguei, com essa experiência”, reflete Zabelê.
Para a sua apresentação na Miranda, ela subirá ao palco acompanhada por Moreno Veloso, com quem divide os vocais no primeiro single “Nossas noites”, e Pepeu, durante um cover de “Na Terra a mais de mil”. “Quis chamá-lo porque ele adora o meu trabalho e participa muito de tudo, como um pai e como um admirador. É também uma forma de prestigiar o público, que já ama o trabalho dele, assim como eu. A canção tem tudo a ver com o repertório, com o som que estou fazendo, e eu me sinto super feliz”, nos confidencia a cantora.
Abaixo, Zabelê reflete sobre a carreira, o momento positivo que a fez chegar no processo “totalmente orgânico” do seu álbum homônimo, musicalidade, como foi crescer sob os holofotes e a relação com a família. Vem com a gente:
Zabelê – “Nossas noites”
HT: O que impulsionou essa retomada da sua carreira artística?
Z: Foi algo muito natural, nada forçado nem programado. Tudo foi pensado com a vontade de realizar um trabalho solo, mas no momento certo. Depois de dez anos com as minhas irmãs e todo aquele sucesso e visibilidade, achei que chegou a hora de continuar a minha carreira musical. Então, surgiu a oportunidade de trabalhar com o Domenico (Lancellotti), um amigo das antigas que até estudou comigo, e nós tivemos um pensamento em conjunto sobre a concepção, montagem de repertório, o caminho que eu queria seguir e tudo o mais com o disco. Sabe quando uma coisa puxa a outra?
HT: Qual tem sido a principal diferença entre se apresentar agora, como artista solo, e nos tempos do SNZ?
Z: É bem diferente agora, porque quando eu me apresentava em grupo era tudo dividido. As decisões todas eram tomadas em conjunto e você aprende a ouvir o outro, o que acho legal. Como todas nós crescemos com muitos irmãos, sempre soubemos dividir bem, até na música, com os arranjos e as composições. Era tudo muito democrático. Isso tem um lado muito gostoso de aprendizado, mas quando saí dessa dinâmica vi que havia um outro mundo. Tive que aprender a tomar minhas próprias decisões. Você se redescobre, tomando a frente dos assuntos, sem aquelas pessoas de antes. Mas foi muito importante para mim passar por tudo aquilo com as minhas irmãs, porque me fez chegar aonde cheguei, com essa experiência.
HT: E como foi essa adaptação? Você disse que precisou aprender a tomar as próprias decisões. Esse foi um processo fácil?
Z: Nunca tinha passado por isso, então foi muito diferente. Eu me descobri ao longo do caminho. Eu vim de uma carreira artística, estou desde criança no meio musical. Então esse vocabulário do showbiz não é diferente para mim. Claro que surgem dúvidas no começo, mas você acaba pegando a manha. Tive muito prazer ao longo desse processo, foi uma descoberta deliciosa.
HT: Como foi o processo de composição e gravação do álbum? Vi que você chamou uma galera muito amiga, como o próprio Domenico, o Moreno (Veloso)…
Z: Chamar amigos foi muito importante. Me senti bem à vontade com o Domenico e a banda que ele trouxe. Senti que esse era o melhor para mim. Foi tão divertido, que não pareceu muito trabalho. Não teve aquela pressão de fazer tudo com um deadline, algo que tinha nos meus tempos de gravadora. Como eu estou independente, tive o meu próprio timing, o que foi gostoso para podermos experimentar e escolhermos tudo com calma. Rimos demais, cozinhávamos no estúdio e brincávamos o tempo todo. A “Céu”, por exemplo, foi feita durante uma jam session no próprio estúdio, cada um puxando o seu instrumento e seguindo a melodia, em um clima relax de muita descontração.
HT: Esse clima leve e relaxado passou totalmente para o disco. Foi intencional, então?
Z: Eu queria que as pessoas sentissem a minha nova fase, em um momento meu e completamente novo, onde mostro meu som e a minha personalidade. Todas as pessoas que ouvem o álbum falam que sentem paz e leveza. Foi exatamente assim que gravamos. Até a parceria com o Moreno foi orgânica assim. Surgiu como sugestão do Sérgio (Menezes), pensamos na parceria, fizemos o convite, ele cantarolou, topou e gravou lá mesmo, durante a mixagem.
HT: Qual a sua música preferida do disco e por quê?
Z: Eu gosto do disco como um todo. Curto muito “Prática”, que abre o álbum, porque tem muito a ver comigo. Também gosto muito de “Nossas noites”, a que estamos trabalhando atualmente… Acho que ele como um todo, realmente, casa comigo e com a minha voz. Essas músicas não foram escolhidas à toa, eu me apaixonei por todas e estou muito empolgada.
HT: E a família? Como tem sido o apoio, as dicas e a reação a essa nova fase da sua carreira artística?
Z: Todos têm adorado! No começo, acharam bem diferente, porque eu fui para um outro lado da MPB. Não que eles tenham estranhado, mas se surpreenderam. Essa veia contemporânea que eu encontrei foi uma forma de mostrar a minha bagagem musical. E acho que eles não terem participado na produção, como das outras vezes, gerou essa surpresa boa. E eu mesma pensei: ‘Caramba, agora quero fazer o meu, sobre quem sou eu’.
HT: Por sinal, seu pai vai participar do show na Miranda. Como é a sensação de se apresentar com ele?
Z: Canto uma música dele no show que eu amo, “Na terra a mais de mil”, lançada em 1979. Quis chamá-lo ao palco porque ele adora o meu trabalho e participa muito de tudo, como um pai e um admirador. É também uma forma de prestigiar o público, que já ama o trabalho dele, assim como eu. A canção tem tudo a ver com o repertório, com o som que estou fazendo, e eu me sinto super feliz. O engraçado é ele ter comentado que essa música, especificamente, nunca foi gravado por mais ninguém, então foi a primeira vez que ele a ouviu em outra voz.
HT: E como é subir ao palco com ele? Dá frio na barriga?
Z: Ah, é muito gostoso! A gente sobe junto ao palco desde que me entendo por gente. Ele sempre me chamou para cantar, então é natural. É como se estivéssemos na cozinha, fazendo bolo, em casa. É bom porque sempre tem uma surpresa também. Não encaro como um bicho de sete cabeças.
HT: Falando nisso, como foi crescer sendo a filha da Baby do Brasil e do Pepeu Gomes? Você foi praticamente criada nos holofotes, toda a sua família tem uma veia musical muito forte. Houve algum momento de adaptação ou você sempre encarou de forma natural?
Z: Para mim não existe muito isso de ser criada nos holofotes ou não, porque não sei diferenciar isso. Eu cresci ali, no palco. Esse é o normal para mim, não olho de forma estranha. Não vejo glamour nos holofotes, é um ofício que eu escolhi para a minha vida. É como ter um pai médico ou mãe professora. Você vai se acostumar a ver seus pais no plantão ou dando aula. A música é um ofício e a gente aprende a conviver nesse cotidiano. Claro, ter sua vida particular e manter a sua privacidade é saudável porque há um assédio do público e da mídia. Nós tivemos uma exposição muito grande quando crianças, então há esse carinho e essa curiosidade pelas pessoas terem acompanhado a nossa vida.
HT: Já que você citou isso de exposição e separar o pessoal do profissional, como é sua relação com as redes sociais? Acha que há algum tipo de invasão e exageros ali, ou leva de forma tranquila?
Z: Tem sempre uns haters, né?! Mas eu não ligo, não. Tenho uma equipe que cuida disso para mim, e eu até posto quando estou afim, mas não fico nessa função constantemente. Acho um ótimo meio de comunicação, porque você chega muito rapidamente e de forma democrática ao público. É algo fundamental, principalmente porque a maioria dos artistas são independentes agora. A internet nos ajudou muito, e eu acho que há uma conotação mais legal quando você volta para o trabalho.
HT: Voltando a falar da sua família, atualmente você é a única que não se declarou como evangélica. Como é sua relação com a religião escolhida por eles?
Z: Minha relação é normal, como com qualquer outra religião. Não fico em guerra com ninguém, em momento algum. Não há esse tipo de conotação. É um relacionamento comum, como os que eu tenho com o budismo, umbanda etc.
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