* Por Carlos Lima Costa
Uma mulher de personalidade forte. Assim é a atriz francesa Yara Charry, filha de mãe brasileira, e que está radicada no Brasil desde 2016. “Com a educação que recebi, uma mescla dos dois países, sinto que isso criou a Yara que sou hoje: Responsável, guerreira, determinada, focada, minuciosa. Sou leonina, meu signo me representa muito”, pontua. Firme, usa sua visibilidade para debater nas redes sociais temas relevantes, como o machismo. “É importante ter essa troca e debate nas redes. Sempre que tenho uma entrevista falando sobre um assunto importante, respondo com sinceridade e respeito! Por exemplo, nunca fui vítima de racismo explicitamente. Mas já passei por situações onde via o racismo em minha volta. Hoje em dia, estamos ensinando e educando uma geração futura. É importante falar desses temas tão doloridos. O racismo é cruel e desumano. Não podemos tolerar”, enfatiza e explica que entre a França, onde viveu até os 19 anos, e o Brasil, é aqui onde percebe esse preconceito mais forte.
Atualmente, ela, que brilhou como uma das protagonistas de Malhação: Vidas Brasileiras, e também mostrou talento como cantora no Popstar, em 2019, está na Netflix com o longa ‘Lulli‘ e envolvida no seu projeto musical extremamente bonito e global. Yara vem postando nas redes e no YouTube clipes de canções consagradas com versões em francês e inglês. A direção criativa, de arte e fotografia leva a assinatura de Giselle Dias, que vive na ponte aérea Los Angeles-Rio de Janeiro. “A repercussão da minha participação no Popstar foi tão inesperada para mim e muito carinhosa. Tive um retorno positivo e as pessoas estavam esperando que eu continuasse cantando. Por isso, decidi criar esse projeto. Como sempre gostei do estilo minimalista, venho usando isso na parte visual dos meus vídeos! Cada um tem uma cor de fundo diferente. A ideia é lançar um nova música a cada 20 dias”, afirma ela, responsável pelas versões e traduções das canções para o francês.
Com contundente simbolismo, o projeto foi apresentado no Dia da Consciência Negra, quando lançou Tu me Fais Tourner la Tête, versão em francês de Você Me vira a Cabeça, hit consagrado na voz de Alcione. E, depois, Put Your Records On, de Corinne Bailey Rae. Terça-feira vai ser a vez de When the party’s over, conhecida na voz de Billie Eilish.
“Gostaria muito de estar com a Alcione, saber o que ela achou, ainda mais depois de ter lançado a única versão da música dela em francês”, acrescenta Yara, que, desde o final do ano, pode ser vista na Netflix, no filme Lulli, ao lado de Larissa Manoela. “A filmagem foi maravilhosa, nos divertimos muito e trocamos bastante. Foi realizada durante a pandemia e é um trabalho cuidadoso e diferente dos outros. O resultado ficou lindo e interpretar uma médica foi um grande aprendizado”, ressalta ela, que, entre as próximas canções do projeto musical, vai incluir a versão francesa de Penhasco, de Luisa Sonza.
“Conheci a música brasileira através da minha mãe. Escutava em casa quando ela colocava para tocar ou cantava para a gente”, diz Yara, fã de samba, pagode, MPB e Bossa Nova. Ter canções populares em seu projeto é um plus para a menina que, dos 4 aos 15 anos, cantou ópera no Coral de Paris. “Realmente todo esse projeto não tem nada a ver com o que eu cantei quando era criança até a adolescência no coral de Paris. É um repertório mais moderno e de gêneros diferentes, com todas as canções escolhidas por mim”, frisa ela.
Em Paris, cresceu tendo como referências ícones como Edith Piaf (1915-1963), Charles Aznavour(1924-2018), Johnny Hallyday (1943-2017), Jacques Brel (1929-1978), Charles Trenet (1913-2001), Dalida (1933-1987), Serge Gainsbourg (1928-1991) e Jane Birkin, além de Vanessa Paradis, entre outros. Da nova geração admira nomes como Zaz, Ben l’Oncle Soul, Kendji Girac, Louane, Stromae e Slimane. No Popstar, por exemplo, chegou à final da terceira temporada interpretando hits como Non, Je Ne Regrette Rien, sucesso de Piaf e Quelqu’un M’a Dit, de Carla Bruni, mulher do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy.
Yara deixa claro que não cogita privilegiar o lado cantora deixando adormecida sua verve atriz. “Quero acrescentar à minha arte! Vou conciliar, fazer com amor as duas empreitadas que eu gosto. E tenho planos de fazer shows pelo Brasil este ano. São duas grandes paixões que sempre exercerei com empenho e alegria”, comenta ela, que, em 2022, deve surgir também em projeto na dramaturgia, que garante que vai ser um passo ainda maior na carreira. No Brasil, Yara se tornou conhecida ao interpretar Sophie, na novela Velho Chico. “Nesse trabalho tive a certeza sobre o que desejava fazer na vida”, admite.
Apesar de ter vindo morar no Brasil em 2016, ela conhece o país desde pequena. “Por conta da minha mãe e da minha família materna, vínhamos sempre para as festas de Natal e Réveillon”, conta ela. Mesmo assim, a adaptação não foi simples. “Nunca é fácil se mudar para um outro país, uma cidade que você não conhece bem, porque a rotina muda e a família e amigos estão longe. Eu trabalhava muito, então não tinha tempo para conhecer novas pessoas ou descobrir a cidade. Foi passo a passo! No final deu tudo certo e estou adaptada como nunca”, garante.
As maiores saudades da França são do pai, da mãe e do irmão, que permanecem no país europeu. “Vivi 19 anos lá. Na verdade, eu moraria em qualquer lugar do mundo! Aonde o trabalho me levar, eu vou. Seja na França, nos Estados Unidos ou qualquer outro país em que eu possa atuar, irei sem medo”, observa ela, que fez ainda cursos de estilismo e marketing da moda e trabalhou como modelo. “Sempre fui apaixonada pelo mundo da moda! Cheguei a fazer um curso, que era meu sonho, na Chanel! Foi incrível! Espero um dia trazer essa minha paixão para o Brasil! Seria o máximo”, revela.
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