*Por Domênica Soares
Com leveza e profundidade, a cantora e compositora Marcella Fogaça traz em seu novo trabalho a discussão para o cenário feminino e, principalmente, sobre o direito da mulher de ser livre. Ela chega com o pé na porta por meio de um clipe forte e empoderado com o objetivo de mostrar que na vida da mulher quem manda é ela mesma. Donas de seus corpos e de suas vidas, as mulheres têm o direito de ir e vir, escolher o que quer ou não fazer, vestir e sentir. “Mando Eu” integrou a trilha sonora do filme “Crô em família” e agora tem clipe, que chega com tudo, quebra tabus e mostra que as mulheres não têm que ser estereotipadas e julgadas diante de um padrão social imposto durante décadas. “A maioria de nós, mulheres, cresce sendo reprimida e educada para nos encaixarmos em padrões culturalmente machistas que têm que ser quebrados e mudados. A arte é uma ferramenta muito poderosa pra isso. ‘Mando Eu‘ é uma música que fala sobre a liberdade e poder que a mulher tem sobre o próprio corpo, sobre a própria vida. Somos fortes, inteligentes, capazes de tudo o que quisermos fazer e nenhuma voz vai falar o contrário. Unidas somos mais fortes”, afirma Marcella sobre a essência da produção audiovisual.
Com o clipe gravado por uma equipe majoritariamente feminina, percebe-se que Marcella constrói seu trabalho em cima dos seus ideais e cria uma rede feminista de trabalho e oportunidade entre as mulheres.“Sororidade é imprescindível à nossa luta! Fiquei muito feliz de poder trabalhar com essas mulheres incríveis. Diretora, produtoras, editoras, stylists, dançarinas, maquiadoras e criarmos juntas este clipe lindo”. A cantora explica que conheceu as dançarinas em um estúdio de Belo Horizonte, e que, através da paixão pela dança, se uniram e desenvolveram um trabalho inspirador para ajudar outras mulheres a se empoderar, se amarem, perdoarem e gostarem de cada parte do seu próprio corpo sem se preocupar com os padrões e julgamentos estabelecidos pela sociedade. “Elas, atualmente, têm um grupo de apoio de mais de 100 mulheres que se ajudam, se fortalecem, dividem tristezas, conquistas e incentivam o amor próprio. Não tem dessa de padrão de beleza ou tipo certo. Todas elas são absurdamente lindas, diferentes e cheias de atitude e amor próprio”, conta com orgulho sobre a produção.
Em entrevista ao site Heloisa Tolipan, a cantora e compositora, que começou sua carreira aos 13 anos fala sobre a importância de trazer esse tema tão importante à tona e explica que, na sua opinião, o Brasil ainda está muito longe da igualdade de direitos que as mulheres de fato merecem, visto que o país é o 5º no ranking de feminicídio do mundo. Ela elucida ainda, que o machismo ainda está entranhado nas ideias da população que foi construída pelo patriarcado. “O machismo está do nosso lado, nos grupos de WhatsApp, na mesa de bar. Eu conheço mulheres que se anularam em um relacionamento, emocional e fisicamente, que perderam o emprego por terem sido assediadas e se sentirem ameaçadas. Isso é uma cultura de repressão na qual o controle patriarcal precisa acabar e para isso temos que soltar nossa voz”. Além disso, ela conta que, desde muito nova, já via os rastros do machismo em sua vida. Com o preconceito por ser mulher foi assediada no mercado de trabalho e anulada em situações apenas pelo fato relacionado ao gênero. Com os anos e muitas histórias na bagagem, ela conta que adquiriu maturidade e entendeu que devia mudar o que incomodava, não se calar e sim, agir em prol dos seus direitos.
A compositora mencionou o mercado de trabalho como um dos pontos principais dos quais o país mais precisa evoluir “A desigualdade no ambiente profissional ainda é evidente e escancarada. Homens ganham mais mesmo ocupando os mesmos cargos que nós, que somos deixadas para trás por conta da maternidade”. Ela também traz outra crítica: “Eu me formei em publicidade e trabalhei muito nesse mercado. Queria estar nas áreas de planejamento e criação e as pessoas ficavam sempre tentando me empurrar para o atendimento, porque eu era menina e tinha o rosto bonito. Era revoltante e muito difícil conquistar meu lugar”.
Marcella luta todos os dias pela igualdade de direitos e pelo respeito absoluto e inviolável e para ilustrar esse pensamento ela compartilha uma citação da novelista canadense Margaret Atwood:
“Por que vocês têm medo das mulheres?”, perguntei a um grupo de homens.
“Temos medo de que elas riam da gente”, os homens responderam.
“Por que vocês têm medo dos homens?”, perguntei a um grupo de mulheres.
“Temos medo de que eles nos matem”, as mulheres responderam.
Ainda falando sobre inspirações, Marcella comenta que seu principal norte sempre foi sua mãe, uma mulher guerreira, trabalhadora e sensata, mas abre o leque e conta que Michelle Obama, Emma Watson e Marta são personalidades femininas fortes que a inspira pelo fato de todas elas serem desprovidas do medo de soltar a voz em prol do direito das mulheres. Embarcando em inspirações, ela cita o autoconhecimento: “A vontade de ser alguém melhor pra mim mesma e para o mundo. Isso é o que me move. O amor próprio é um exercício diário, a felicidade é uma decisão diária. Esse movimento contínuo em direção ao equilíbrio, a encontrar a beleza nas pequenas coisas, me encantar de dentro pra fora, me encantar com amor nos seres humanos, não me acostumar com o que não é o melhor pra mim e pros outros, a compaixão, a generosidade, a busca pra curar toda e qualquer dor. Isso tudo me inspira”, frisa.
A cantora e compositora que se define sendo uma mulher guerreira e bem-humorada, resume empoderamento em uma frase: “Empoderar-se é saber quem você é, se amar como você é, e nessa auto confiança absoluta ir atrás do que você precisa, quer e merece’. Com o peito aberto a mergulhar ainda mais no universo feminista, a cantora conta que o clipe vem para levantar mulheres, mas sem ódio. “A música que afirma “no meu corpo mando eu”, ao mesmo tempo diz “juntos lado a lado de corpo colado, sem cadeado, quando tem respeito tudo se dá jeito”. Respeito. Não acredito em segregação. Acho que vamos evoluir como seres humanos a partir da união e do fato de que somos todos iguais”, comenta.
Sobre sonhos, a cantora conta que ainda têm muitos, mas o maior deles é ser feliz não importa como, onde e nem por que. Ainda revela que ama cantar, compor, escrever, espalhar arte e que busca ser uma pessoa melhor a cada dia. “Quero fazer a minha parte para deixar esse mundo melhor do que quando cheguei aqui. Eu e o meu mundo”. Marcella é transformação e transcende a pureza sem deixar de lado sua luta. Sendo uma mulher, bem sucedida e empoderada, ela mostra que todas têm o direito de estar aonde elas quiserem e luta para que nenhuma se cale diante de qualquer situação que as menosprezem pelo simples fato de ser mulher.
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