Wanderléa compartilha bastidores do ‘especial’ com RC, fala como lida com a saudade de Erasmo e lançará nova biografia


Cantora estará ao lado de Roberto Carlos em especial que vai ao ar na Globo nesta sexta-feira (20). Em entrevista exclusiva, ela fala da saudade que sente de Erasmo Carlos e compartilha os bastidores de gravar o especial sem ele, e também anuncia projeto de shows com canções inesquecíveis do Tremendão. Wanderléa revela que vai lançar nova edição de autobiografia com material inédito, e no próximo ano tem ainda apresentações agendadas na Europa, com repertório do álbum ‘Wanderléa Canta Choros’, lançado em 2023, e faz balanço da carreira iniciada aos 9 anos. “Meu maior orgulho é a carreira que construí e sem uma orientação profissional. Hoje em dia os jovens já vêm com um staff enorme, e naquela ocasião nós criávamos tudo. Inventávamos o estilo de roupa, o estilo de apresentação, os discursos. E fiz de uma maneira intuitiva uma relação muito afetuosa com meu público. Recebo muito carinho do público até hoje. Isso nunca esperei, pensei que tudo fosse passar muito rapidamente, mas não. E isso vale muito. Recebo afeto por toda uma vida, isso é a coisa mais linda”

*Por Brunna Condini

Hoje é dia de especial do rei Roberto Carlos! E quando pensamos em especial de fim de ano do RC, que completa 50 anos indo ao ar, sempre vem à nossa memória afetiva as participações de Erasmo Carlos, que nos deixou em 2022; e de Wanderléa, a nossa eterna ‘Ternurinha’. A cantora falou com exclusividade ao site sobre o especial que vai ao ar nesta sexta-feira (20), na TV Globo, após ‘Mania de Você‘. E também, dos planos para 2025, que incluem o lançamento de uma nova biografia, um show em homenagem ao Tremendão e uma turnê pela Europa com seu show de choro. Ela também faz um balanço da trajetória profissional iniciada aos 9 anos, e fala sobre a saudade de Erasmo e da presença que sente do amigo de fé. “Tivemos uma trajetória juntos desde muito jovens. Nesta ocasião de festas, de Natal, trocávamos muitas mensagens, e quando possível nos víamos todo fim de ano. É uma perda irreparável, um vazio que fica no emocional. O Erasmo está sempre junto, sempre perto, principalmente nesta época”.

Ela compartilha ainda sobre a gravação do especial: “Vamos cantar ‘Na Paz do Seu Sorriso‘ e ‘Ternura‘. Esta última foi a música que deu meu apelido, né? De início Roberto me chamava de ‘Ternura de Wanderléa’, depois ‘Ternurinha’. Nos shows, ‘Ternura’ é a música que o público canta com ênfase, eles levam essa canção no coração”.

Foi muito emocionante estar no palco em um especial de final de ano e não encontrar o Erasmo. Estava acostumada a sempre juntar o trio nesta ocasião, com Roberto à esquerda, o Erasmo à direita. Tive um impacto de constatar que ele não está aqui conosco. Foi tocante para mim, mexeu com meu coração – Wanderléa

Wanderléa Celebra 50 anos de 'especial' ao lado de RC, fala da saudade de Erasmo e dos planos para 2025, que incluem o lançamento de autobiografia (Foto: Daniela Toviansky / Globo)

Wanderléa Celebra 50 anos de ‘especial’ ao lado de RC, fala da saudade de Erasmo e dos planos para 2025, que incluem o lançamento de autobiografia (Foto: Daniela Toviansky / Globo)

Aos 80 anos, cheia de energia e planos Wanderléa anuncia para o ano que vem um show com as canções que marcaram a carreira do Erasmo, seu amigo e parceiro musical de uma vida e um dos fundadores do movimento da Jovem Guarda ao lado dela e de Roberto Carlos em 1960.  “Na verdade, já comecei a fazer esse show. Fiz o primeiro no Centro Cultural aqui em São Paulo e ficou maravilhoso. O repertório do Erasmo é incrível, são músicas maravilhosas e eu não saberia dizer qual foi a mais importante na sua trajetória, mas gosto principalmente da mensagem da canção ‘A Terceira Força’. É uma mensagem muito atual e espiritual, uma fase linda do Erasmo”.

De um punhado de barro
Deus fez o mundo sem cercas
Fez voar quem ele quis
E disse para o que seria o homem:
Vou te dar inteligência
Só porque não te dei asas
Trovoada pra que sintas medo
E forças para ser sua fraqueza
Não serás dono dos filhos
Nem da terra
Vive em paz com tua gente
Que o amor te encerra – (Trecho de ‘A Terceira Força’ de Erasmo Carlos)

Erasmo Carlos, Wanderléa e Roberto Carlos em um dos muitos especiais que fizeram juntos na TV Globo (Foto: Divulgação/Globo)

Erasmo Carlos, Wanderléa e Roberto Carlos em um dos muitos especiais que fizeram juntos na TV Globo (Foto: Divulgação/Globo)

Nova biografia

Em 2017 a cantora lançou sua biografia, ‘Foi assim‘, com a colaboração do jornalista Renato Vieira, após 15 anos amadurecendo a ideia de compartilhar com o público suas memórias de vida e carreira. Na obra, Wanderléa escreveu sobre conquistas, alegrias, mas também dividiu momentos difíceis, como a morte do pai, o acidente que fraturou a coluna do ex-marido, José Renato, e a perda do filho Léo, aos dois anos. Agora ela acredita que é chegado o momento de escrever sobre as passagens que não entraram na primeira publicação. “Sempre gostei de escrever e tenho muitas coisas escritas que não entraram naquela biografia porque ela foi editada para fazer um livro mais fácil de ler. Então, estou pensando em mexer nesse material e trazer as coisas que não foram para o primeiro livro, mas é uma segunda edição. Vamos ver se dá tempo. São muitos projetos ainda, tem que administrar isso tudo. Mas vou tentar, porque tem coisas que são prioridade”, afirma.

Wanderléa sobre nova biografia: "Sempre gostei de escrever e tenho muitas coisas escritas que não entraram no primeiro livro" (Foto: Divulgação/Globo)

Wanderléa sobre nova biografia: “Sempre gostei de escrever e tenho muitas coisas escritas que não entraram no primeiro livro” (Foto: Divulgação/Globo)

Uma vida dedicada à música: sem parar

No próximo ano, a artista também tem apresentações agendadas na Europa, com repertório do álbum ‘Wanderléa Canta Choros’, lançado em 2023. “Esse disco já me deu muitas alegrias. Fiz palcos aqui no Brasil, principalmente em São Paulo, e no exterior já comecei pela Holanda. Agora, um empresário local, lá de Amsterdam, está preparando uma turnê. O Choro lá é muito representativo da música brasileira, né? Eles adoram esse gênero e me remete ao início de minha carreira junto com o Regional do Canhoto, é uma coisa que só traz boas lembranças”, diz, referindo-se à carreira que abraçou com apenas 9 anos, quando se tornou crooner do Regional de Canhoto – conjunto de choro fundado em 1951 – em shows e programas da Rádio Mayrink Veiga.

Os projetos da ‘Ternurinha’ não cessam. “Uma coisa interessante que tenho feito também é um show chamado ‘Poética‘, no qual canto músicas do repertório da Sueli Costa (1943-2023), do disco que fiz cantando Sueli. É um repertório um pouco diferente, mas acrescentando coisas que fazem parte, que combinam com o livro de poesias que eu escrevi e não lancei ainda, mas neste show leio as poesias e canto as canções com referências nas letras. É um trabalho diferente, que me traz um público muito próximo, porque é muita conversa, são muitos anos de histórias para contar”. E valeu à pena começar tão cedo e nunca parar?

Wanderléa e Roberto Carlos cantam em especial de fim de ano (Foto: Reprodução/Instagram)

Wanderléa e Roberto Carlos cantam em especial de fim de ano (Foto: Reprodução/Instagram)

Eu não conheço outra vida, vivo desde pequena com muitos compromissos. Tanto é, que agora aos 80 anos, me faz muita falta o palco, o contato constante com o público. Me alimenta a alma. É um vício, né? Aquele carinho afetuoso do ao vivo me faz muito bem, me alimenta o espírito e pretendo continuar até quando der – Wanderléa

A cantora faz um balanço do caminho precorrido até aqui. “Meu maior orgulho é a carreira que construí e sem uma orientação profissional. Hoje em dia os jovens já vêm com um staff enorme, e naquela ocasião nós criávamos tudo. Inventávamos o estilo de roupa, o estilo de apresentação, os discursos. E fiz de uma maneira intuitiva uma relação muito afetuosa com meu público. Recebo muito carinho do público até hoje. Isso nunca esperei, pensei que tudo fosse passar muito rapidamente, mas não. E isso vale muito. Recebo afeto por toda uma vida, isso é a coisa mais linda”.

"É uma uma perda irreparável, um vazio que fica no emocional. O Erasmo está sempre junto, sempre perto, principalmente nessa época".(Foto: Divulgação/Globo)

“É uma uma perda irreparável, um vazio que fica no emocional. O Erasmo está sempre junto, sempre perto, principalmente nessa época”.(Foto: Divulgação/Globo)

Rainha da voz

Wanderléa volta a nos embalar com o tema da protagonista Maria do Carmo (Regina Duarte) em ‘Rainha da Sucata‘ (1990), que volta no catálogo Globoplay. ‘Foi assim‘, a canção que deu nome também à sua primeira biografia, corrobou para um rebranding da carreira dela no início dos anos 90. A música também fez parte da trilha sonora do filme ‘Juventude e Ternura’,  estrelado pela cantora ao lado do ator e diretor Anselmo Duarte (1920-2009). “Acho maravilhosa a projeção da TV. A expansão musical pelas novelas sempre influencia, mesmo que seja antiga”, já declarou, contando, inclusive, que costumava acompanhar a trama dos personagens embalados por suas canções.

Sobre a sua versatilidade como cantora, ela reflete. “Passei por diversas fases, fiz discos incríveis que são procurados e referências até hoje. Depois de Jovem Guarda, fiz tudo que eu quis, tudo através de uma discografia minha, que quem acompanha percebe que é bem diversificada, bem ousada. Me dá muita alegria de pensar que pude fazer isso em uma época em que existiam as grandes gravadoras”. Você é uma artista que não parou no tempo, mas só lembram de você como a ‘Ternurinha’, isso já te incomodou?

"O contato com o público me alimenta a alma. É um vício, né?" (Foto: Divulgação/Globo)

“O contato com o público me alimenta a alma. É um vício, né?” (Foto: Divulgação/Globo)

Na época da Jovem Guarda eu questionava o ‘Ternurinha’. Com o passar dos anos, percebi que ‘Ternurinha’ é quase amor – Wanderléa

E acrescenta: “É só amor que eu recebo em todo lugar, em todos os shows que eu faço até hoje. Me tratam como ‘Ternurinha’. Eu já tentei passar o bastão para as minhas filhas, não colou. Também tentei passar para as minhas netinhas, mas não tem jeito, eu sou a ‘Ternurinha’ do meu público. Eles me acarinham como se eu fosse uma criança até hoje. Ao mesmo tempo, é muito lindo sentir isso no coração, é um abraço”.