“Vou lançar um livro contando minha história com o Champignon e um disco com músicas nossas”, diz Claudia Bossle


A cantora, viúva do baixista que integrou a banda Charlie Brown Jr, fala da saudade que sente do músico, da criação da filha Maria Amelia, em que exerce os papéis mãe e pai, dos desafios da rotina na pandemia, e revela, com exclusividade, projetos pendentes com o músico, entre eles, uma biografia da história dos dois: “Nossos momentos eram regados à música, a ouvir, a compor. Fizemos algumas músicas juntos e logo vocês poderão ouvir. Tenho um projeto de um livro e um disco com nossas músicas. Esse vai dar uma atrasada, mas quero que saia este ano ainda. É um livro contando a nossa história até nosso encontro e, depois disso, tudo que vivemos, e as etapas que resultavam em músicas compostas por nós”

*Por Brunna Condini

No perfil do Instagram, Claudia Bossle se apresenta como cantora, “pãe”, e mãe da Maria Amélia. A viúva de Luiz Carlos Leão Duarte Júnior, o Champignon (1978-2013), que integrou como baixista a banda Charlie Brown Jr, precisou de fato ser mãe e pai da filha do casal, já que o músico morreu, tirando a própria vida há sete anos, quando Maria Amélia ainda estava na barriga de Claudia, aos 5 meses de gestação.

No mês que se comemora o Dia das Mães, ouvir e compartilhar histórias inspiradoras, de mulheres potentes, é um dos desejos do site HT. A de Claudia é uma delas. Apesar das dificuldades enfrentadas com a perda trágica, a cantora se apegou à criação da filha, à família, à música, e à todas as boas recordações que construiu ao lado de Champignon, para seguir em frente. Ela vive em São Paulo com Maria Amélia, que hoje tem 6 anos, e conta com exclusividade ao site sobre sua vida com a pequena, passando por mais um desafio agora, em meio à pandemia do novo coronavírus; e também dos projetos musicais, e da biografia da sua história de amor com o músico, que deve ser lançada ainda este ano.

Maria Amélia e Claudia: “É um momento de reconexão, de dar atenção para o que realmente tem importância” (Reprodução Instagram)

Claudia conta que ela e a filha escolheram passar o Dia das Mães, no último domingo, fazendo, literalmente, uma viagem de voltas às origens. “Pegamos o carro e viemos para o Sul. Somos daqui de Florianópolis. Foi bem importante. É um momento de reconexão, de dar atenção para o que realmente tem importância. E foi bem revelador esse movimento necessário de ficar próximo à natureza e à família, às raízes”, divide. E acrescenta: “Já vivemos muitas fases nesta quarentena. Teve a fase de adaptação das atividades de escola com ela e a da ansiedade. Agora tem a fase da aceitação da nova realidade, e já que está de férias, brincamos e desenhamos muito. Também tenho trabalhado. Aqui no Sul, com os cuidados devidos, tenho conseguido até terminar trabalhos em estúdio. Se tem algo bom nesta fase é poder ler, estudar, e ficar mais perto ainda da minha filha. Somos amigas demais. Ela com seis anos já me dá conselhos (risos), acredita?”.

“Se tem algo bom nesta fase é poder ler, estudar, e ficar mais perto ainda da minha filha. Somos amigas demais” (Reprodução Instagram)

Desde 2003, a cantora viaja o Brasil, cantando jazz e bossa nova, atividade que interrompeu por conta da pandemia. A música foi uma paixão herdada da mãe, dona Amélia, e Claudia diz que a filha também manifesta o desejo de cantar. “E fala em ser médica, darei apoio para a profissão que ela escolher”. E revela que tinha projetos com Champignon. “Trocávamos muito musicalmente. Muito! Todos os momentos eram regados à música, a ouvir, a compor. Fizemos algumas músicas juntos e logo vocês poderão ouvir. Tenho um projeto de um livro e um disco com músicas do Champignon e minhas. Esse vai dar uma atrasada, mas quero que saia este ano ainda. É um livro contando a nossa história. Na verdade é uma biografia até nosso encontro e, depois disso, tudo que vivemos e as etapas da nossa história, que resultavam em músicas compostas por nós”, anuncia.

Champignon e Claudia: “Tenho um projeto de um livro e um disco com músicas nossas. Na verdade, uma biografia até nosso encontro e, depois, tudo que vivemos” (Arquivo pessoal)

Quando ele se foi, você ainda gestava a filha de vocês. Como foi ser mãe e pai nestes anos? “Aprendi tudo. Eu não consigo nem imaginar o que eu pensava antes disso. Ser mãe e pai é aprender a escolher. É aprender a ter disciplina na marra, a se doar por inteiro, a decidir tudo. É multiplicar o amor e a responsabilidade também. É uma provação dada a mim. Eu me sinto melhor, me sinto mais preparada. Hoje eu não tenho medo de nada. Nada mesmo! Aprendi a ter coragem e a recomeçar quantas vezes for preciso, uma vez que recomecei depois de tudo que aconteceu”.

Quais são as lembranças que tem da época que ele morreu? “A nostalgia que vem dessa fase é muito dolorosa, muito forte. Em meio àquela dor e confusão sentia a Maria Amélia se mexer e evoluir dentro de mim e a esperança e amor que isso me trazia”, recorda.

“A nostalgia que vem dessa fase é muito dolorosa, muito forte. Em meio àquela dor e confusão, sentia a Maria Amélia se mexer e evoluir dentro de mim, e a esperança e amor que isso me trazia” (Arquivo pessoal)

Que tipo de pai acha que ele teria sido? “Esses dias pensei nisso, que tipo de pai ele seria. Acredito até pelo que vi do jeito que ele tratava a Luiza (primeira filha, de outro casamento), ele seria muito carinhoso, apaixonado, engraçado e querido”.

Claudia lembra do músico com amor e afirma que Maria Amélia é seu estímulo maior na vida. “O que sobrou hoje é a saudade e quando me bate, eu vejo um vídeo, ouço uma música nossa. Tenho uma crença mais espiritual, então eu sei que um dia ainda vamos nos reencontrar. Oro bastante para que ele esteja em paz, e que siga a luz sempre”, desabafa. A artista também consegue identificar hoje o que a filha carrega de cada um. “A Maria Amélia é muito especial, modéstia à parte. Ela tem uma luz muito grandiosa, tem um carisma e uma desenvoltura, como o pai. Uma coisa nela que me lembra ele, além, lógico, da aparência física, o interesse em criar. Tudo ela cria, e se dedica a aprender, gosta muito de aparecer em vídeos, é mais “malokera” do que “princesinha” (risos). É figura, engraçada demais. E de mim, acho que ela puxou o jeito carinhoso e preocupado com as pessoas ao redor, a sensibilidade, e o branco do olho (risos), mas ela fisicamente é o pai dos pés à cabeça”.

A cantora destaca que a maternidade proporcionou a mudança e a força que ela necessitava, após as fases turbulentas que passou com a morte do baixista. “Me transformei por inteiro. A maternidade me fez mais responsável, disciplinada, organizada. Trouxe-me valores verdadeiros sobre amor e força. Hoje eu me defendo sozinha em qualquer situação”, analisa. “Também contei com redes de apoio e acho que isso foi fundamental para passar por tudo”. Pretende ser mãe novamente, tem esse desejo? “Já tive vontade de ser mãe outra vez, mas acho que agora não mais. Deus que decide”, diz Claudia, que revela ainda, estar conhecendo alguém no momento, mas prefere preservar seu nome.

Vida pós pandemia

 Aos 39 anos, a artista se preparava para concretizar projetos sonhados em 2020. “Alguns conseguirei cumprir com o prazo planejado, como o disco que gravei no “Studio 8” produzido por Donny Silva. Estou muito feliz com os resultados, os singles são músicas que representam muito a minha carreira até agora. Um mix de música brasileira, samba, pop e jazz, que fazem parte do meu repertório.  Vou lançar os singles que fazem parte desse projeto em breve”, anuncia Claudia, que começou a cantar aos 15 anos, e de lá para cá, também se apresentou na Europa, norte da África e Oriente Médio.

Ligada à sua fé e espiritualidade, “de forma inabalável”, ela conta que tem lidado com o atual cenário de medos e incertezas, tentando exercitar a aceitação. “E também lido com o entendimento que este movimento precisava ser feito. Sinto muito mesmo pelas famílias que perderam seus entes nessa pandemia, não é fácil. Mas entenda que Deus está no comando e sabe de todas as coisas. Acredito que muitas pessoas ajudam e outras são ajudadas, e esse processo na humanidade era muito necessário. Aprender a dar e receber. A caridade, a gratidão. E espero que daqui para frente, vivamos em um mundo menos materialista, mais conectado com a família, com melhores valores reais de que somos passageiros aqui, e os sentimentos de amor, união, consciência, caridade e gratidão sejam realmente aprendidos e vividos por cada um de nós”.