* Por Junior de Paula
Dormir é para os fracos em Salvador. A ordem é aproveitar da hora que abre os olhos até a hora que eles insistem em fechar, cansados, depois de pular por horas e horas nos circuitos do Carnaval de Salvador. No Campo Grande, o mais tradicional da cidade, a festa começou cedo com a sensação do Carnaval, o BaianaSystem, que levou uma turma de descolados para curtir o trio, como Marina Morena e Riccardo Tisci, Fernanda Paes Leme, Pedro Tourinho e outros. Riccardo, aliás, ainda emendou uma passada pelo Camarote Expresso 2222 e o Camarote Salvador, sem perder o pique.
Já na Barra, uma das primeiras a atravessar a avenida foi Claudia Leitte com o Coco Bambu, que se mostrou um dos favoritos da turma GLS. O clima dentro das cordas era de vale tudo, principalmente dançar homem com homem e mulher com mulher. Tudo na paz, com respeito e tolerância. Bem que essa fantasia poderia ser eterna, né? Que esse microcosmos do Carnaval pudesse ser replicado Brasil afora, com um mundo mais aberto às diversidades. Claudia, aliás, deu seu apoio à pegação dizendo que “o que acontece no bloco, fica no bloco”.
Depois foi a vez de Bell Marques, fazendo sua estreia como cantor solo no Carnaval, mas sem deixar de levantar os guerreiros com hits do Chiclete com Banana, mas tendo o cuidado de evitar cantar o nome da ex-banda. Nos refrões que eram inevitáveis, ele omitia o Chiclete e cantava só o Banana da frase. Para Bell, a música do Carnaval é Rede do Amor, da banda Oito7nove4, que não por acaso é de seus filhos. A música é boa, simples, e cheia de coreografia, como todo mundo adora no Carnaval, mas nada deve tirar o título de Xenhenhem, do Psirico, que também arrasou na sua passagem pelo circuito Barra-Ondina nessa sexta.
Márcio Vitor, o líder do Psirico, carregou seu trio sem cordas com a força que a banda tem e o prestígio de ser a favorita de Caetano Veloso, já que Márcio foi da banda do baiano por muitos anos. Para quem não está ligando o nome à pessoa: é deles também o hit de 2014, o Lepo Lepo. Ou seja, força para emplacar mais uma, certamente eles têm. Mas ainda é cedo para a eleição, já que Gordinho Gostoso também vem com tudo na bolsa de apostas e é cantada por 9 em cada dez trios que atravessam as ruas de Salvador.
Daniela Mercury vai sempre na contramão do que é feito e é sempre uma atração à parte. Neste ano, ela encarnou a Rainha Má do Axé e se apresentou em cima de um caixão, rodeada de caveiras – meio inspiradas na festa dos mortos dos mexicanos – e até simulou a sua morte no alto do trio, que, na concepção dela representava a morte da arte. Uma coisa meio Marina Abramovic meets Deborah Colker no alto do trio com muito axé. Daniela é um mito e pode fazer o que quiser, mas, desta vez, injetando um pouco de filosofia existencialista na folia ela deu um passo à frente. E o público, que aplaudia e cantava tudo com vontade, parece ter apoiado o manifesto antropofágico.
E hoje tem mais!
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