Female power! No Video Music Awards 2014, Beyoncé é coroada Queen B. definitiva e as mulheres dominam a cena!


Lorde é a primeira mulher a vencer na categoria rock, Taylor Swift se rende ao pop, Fifth Harmony é a primeira girl band a ganhar um prêmio em seis anos, Nicki Minaj eleva hormônios às alturas e Bey mostra que, no pop, o feminismo está no topo!

*Por João Ker

Para qualquer ser humano com acesso às redes sociais, o único assunto comentado na noite deste domingo (24/8), em boa parte do mundo, era o VMA (Video Music Awards) 2014, a premiação da MTV que contempla o mundo da música a partir da produção audiovisual. Como nas edições anteriores, palavra de ordem do evento é sempre causar e, para tanto, nem é preciso se apresentar nem ganhar prêmio. O próprio red carpet do evento já é uma plataforma de divulgação à parte, como bem mostrou Katy Perry ao ir fantasiada de Britney Spears (a história toda faz parte de um desafio que a própria loira fez). Entre categorias compradas, artistas desmerecidos e performances eletrizantes (pareadas com outras nem tanto assim), vejamos um breve resumo daquilo de mais relevante que aconteceu nesta noite.

Era uma vez uma menina que não cortava o cabelo, uma ótima cantora que não conseguia fazer sucesso e uma rapper voltando aos holofotes. Elas então se uniram e fizeram uma música chamada “Bang Bang”, que serviu como parte da performance de abertura da noite. Mas, antes disso, a menina chamada Ariana Grande faz o favor de rebolar surpreendentemente no palco, em performance solo, enquanto atingia umas notas meio Mariah Carey em uma música chatinha e superficial chamada “Break Free”. Sai a garotinha, porque agora é hora de gente grande trabalhar: Nicki Minaj, sem a tal cobra assassina, faz a melhor parte da performance de abertura ao esfregar sua retaguarda na cara da plateia inteira, incluindo uma perplexa Jennifer Lopez e uma horrorizada Rita Ora que não conseguiram acompanhar a velocidade da “Anaconda”. Onika rebola tanto a coreografia que o vestido dessa apresentação (ao lado de Jessie J) parece não ter aguentado o tranco e a rapper precisou segurar os decotes o tempo todo, sob o risco de algum pedaço da moça pular fora. Mas, com um profissionalismo admirável e uma crença inabalável na doutrina de “o show tem que continuar”, ela consegue se manter em cima do salto e, de quebra, ainda dá uma aulinha para as novatas que perdem o rumo com erros técnicos (essa vai para você, Iggy Azalea).

  No próximo capítulo desse conto de fadas corrompidas, Taylor Swift apresenta a sua nova música “Shake It Off”, que é oficialmente a primeira da nova fase da cantora que começou no country e agora saiu do armário pop. Outra coitada, que acabou se envergonhando com uns passos duros e desafinação. Se fosse esperta, continuaria segurando o violão e deixaria a briga de verdade para os cachorros grandes. Afinal, não é só com Carrie Underwood e Miranda Lambert que ela vai competir se quiser emplacar hits no mundo da música pop. Ainda assim, justiça seja feita, o outfit escolhido, com inspiração periguética nos anos 1920 de O Grande Gatsby, estava sensacional, ainda mais seguindo o comprimento cropped, com barriguinha de fora, que tem sido a preferência número um das estrelas em geral, inclusive em eventos como o recente Comic-Con.  

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Swift tentando rebolar (Imagem: Tumblr)

Como uma vênus overloaded, Swift tenta rebolar  em ritual satânico (Imagem: Tumblr)

Gwen Stefani impressionadíssima com a performance

Na sequência, Sam Smith, o britânico que parece uma versão menor e masculina da Adele, canta seu maior sucesso até então, a baladinha romântica “Stay With Me”. Sam é uma dessas belas descobertas que raramente surgem na música pop, com talento, carisma e senso de humor capazes de lhe render longevidade acima do normal no mercado. Chega a doer o fato de o moço ter perdido o prêmio de ‘Melhor Artista Revelação’ para as genéricas do Fifth Harmony. E dói quase tanto quanto saber que Lorde foi a primeira artista a ganhar um astronauta de ouro por “Melhor Vídeo de Rock”. Provavelmente, em alguma obscura mansão de Los Angeles, Fiona Apple, Courtney Love, Kate Bush, Shirley Manson Beth Ditto estão nesse momento preparando seus bonequinhos de vodu, no melhor estilo “terceira temporada de American Horror Story“.

 

Falando em bandas genéricas, o VMA também teve quatro minutinhos monótonos com a nova tentativa de boyband do dia, 5 Seconds Of Summer,  de ganhar os holofotes. O melhor da apresentação? Um break maior para ir ao banheiro e fumar um cigarrinho. Outra banda dispensável na noite foi o Maroon 5 que, se não fosse pela gostosura do Adam Levine, já teria encerrado os trabalhos e parado de cantar a mesma música há quase dez anos. E, já que o tópico aqui é mediocridade, Usher também foi responsável pela sua parcela de chatice com uma música fraca, passos de dança requentados de algum DVD encalhado de Michael Jackson e um certo tom desafinado. De novo, Nicki Minaj salva os bocejos da noite.

Mas nem tudo são espinhos. A surpresa positiva da noite fica por conta de Iggy Azalea e Rita Ora, que finalmente apresentam a música “Black Widow” com uma temática coerente e bem superior à do clipe. Mesmo sem muitos malabarismos, coreografias ou cenografias, o número serve como um ótimo aquecimento para o público, que já estava aflito à espera de Beyoncé. O termômetro disso? Bom, o número chegou até a receber aplausos entusiasmados de uma Jennifer Lopez, tão estática quanto uma lancheira da Alladin, tal a quantidade de botox na cara.

 

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A dupla que finalmente acertou a dose (Imagem: Tumblr)

A dupla que finalmente acertou a dose em número que exagerou nos recortes do figurino (Imagem: Tumblr)

Depois de uma hora e 50 minutos de pré-show, chega da verdade: o momento mais aguardado da noite é a mega performance de Beyoncé, que foi homenageada com o “Michael Jackson Video Vanguard Award“. Não é à toa que essa mulher é chamada de Queen B. Por mais de 16 minutos ela canta, dança, chora, diva, ri, esperneia, recebe um caboclo e rebola em uma performance que entrará para a história e, certamente, ficará nos anais da possessão espírita. E, dessa vez, nada de falsa modéstia. Com um convite imperativo, a esposa de Jay-Z grita no início de seu número: “MTV, bem-vinda ao meu mundo!”. A frase vem carregada de duplo sentido: na apresentação, Bey cantou todas as músicas do seu álbum-visual autointitulado, repleto de carga emocional e pessoal para a cantora; e seu mundo, bem, é o showbizz, no qual ela reina confortável no topo, onde nenhuma outra artista contemporânea consegue chegar minimamente perto.

MTV, bem-vinda ao mundo de Beyoncé (Imagem: Tumblr)

MTV, bem-vinda ao mundo de Beyoncé (Imagem: Tumblr)

Ao longo da performance, Beyoncé mandou todas as mensagens que vem reafirmando ao londo da carreira e do disco: a importância da família, a liberação sexual da mulher, seu status de igual para o homem e a fragilidade e vulnerabilidade humanas. Há uma grande dose de poder imagético e conceitual quando uma cantora negra coloca atrás de si um discurso altamente feminista e depois se posiciona no centro da palavra. E, mesmo que ela admita em seguida ser a dona do pedaço e exigir respeito das iniciantes, o discurso é de autoapreciação. E se foi com lágrimas e sorrisos que ela recebeu de Jay-Z o título de “maior entertainer do mundo”, é porque tal declaração não passa da verdade. Afinal, desde Michael Jackson que não existe uma estrela tão perfeccionista, workaholic e treinada desde cedo quanto Beyoncé. Como já dizia Anderson Cooper, “este é o mundo dela e nós estamos apenas vivendo nele”.

 

 

Como considerações finais, é triste ver que o único troféu merecido da premiação – além do de Beyoncé e, talvez, o de Drake por “Melhor Vídeo de Rap” – tenha sido o de Miley Cyrus. A cantora, por sinal, conseguiu chocar mais uma vez o mundo, dessa vez por fazer algo nada chocante. Ao invés de dar pinta no palco, ela cedeu espaço para uma causa nobre e conferir visibilidade aos jovens sem-teto. Algo bem humanitário que vai um pouco além da atual onda do Ice Bucket Challenge. E mais: ainda traz à memória aquela vez que Marlon Brando abdicou sua presença no Oscar , nos anos 1970, e enviando uma índia para receber a estatueta em seu lugar. De qualquer maneira, é uma iniciativa bem melhor do que ver a cantora se constrangendo no palco, enquanto faz twerk ou fuma um baseado. Merece aplausos.

Miley fazendo a boa moça e cedendo espaço para uma causa humanitária (Imagem: Tumblr)

Miley fazendo a boa moça e cedendo espaço para uma causa humanitária, enquanto verte um litro e meio de lágrimas açucaradas (Imagem: Tumblr)

Apesar da coroação definitiva de Beyoncé, esta edição da celebração não chega a ser um VMA memorável. Com performances fracas, faltou tanto tempero quanto a presença maior da nata pop para abrilhantar a plateia. Lady Gaga e Britney Spears foram terrivelmente ignoradas pela premiação e, assim como Rihanna, nem se deram nem ao trabalho de comparecer. No lugar delas, foi a nova geração composta por Ariana Grande, Taylor Swift, Lorde, Katy Perry e Miley Cyrus os “grandes nomes” da noite. E nem Gwen Stefani, do alto de sua eterna fonte de juventude (a moça deve ter feito algum pacto e um quadro com seu retrato deve envelhecer em seu lugar, trancafiado em algum sótão por aí), teve muita paciência para que está começando. De qualquer maneira, está batido o martelo: entre anacondas, grupos de garotas, o pioneirismo de Lorde, a presença do elenco de Orange Is The New Black e a apresentação de Beyoncé, o Video Music Awards 2014 foi das mulheres.

Beyoncé mandando a mensagem da noite

Beyoncé mandando a mensagem da noite e provando que, nesta edição do VMA, os homens tiraram um ano sabático (Imagem: Tumblr)