Quem tem humor é rico, milionário. Não estamos falando sobre ser comediante, mas de levar a vida – e seja lá o que você faça dela – com humor. Isso o cantor Leo Jaime tem de sobra. O magnetismo do seu humor o ajudou em todos os sentidos: amenizou os contratempos da vida e fez dele um artista múltiplo e versátil ao longo dos seus trinta anos de carreira. E as adversidades que foram passando no caminho servem de base para suas músicas e suas histórias atraentes. E, talvez, sabendo disso ele encontrou um formato encantador para uma noite agradável. Imagina um verdadeiro stand up comedy divertidíssimo, mas que não fica chato por excesso de piadas, porque no meio disso o artista seduz a platéia com uma música de primeira e uma banda inquestionável. Foi o que o Leo Jaime fez, conduzindo perfeitamente a hora de brincar e de falar sério com a musicalidade que tem, na noite de sexta na Miranda, relembrando os grandes sucessos da sua careira.
Leo Jaime arrancava gargalhadas com histórias como a do surgimento da música “As sete Vampiras”, que foi criticada por produtores que não queriam ela no álbum e ele insistiu até que a danada foi um grande sucesso da época. Ouvir as histórias do músico é ter uma noção dos caminhos e descaminhos de uma indústria fonográfica mais do mesmo no Brasil, dos anos oitenta até hoje. Não é a toa que um artista da sua categoria teve momentos em que provou do ostracismo e até mesmo sentiu de perto a famosa “pindaíba”, como ele mesmo contou e brincou com a platéia. “Todo mundo aqui tem cara de rico, de Itaú Personalité, vamos fazer uns testes para saber se vocês sabem o que é pindaíba. Quando abrem o iogurte vocês lambem a fita de lacre? Eu já fiz muito isso, já estive na pindaíba”, diz entre outras coisas que deixam o público aos risos. E depois faz todo mundo cantar junto clássicos como “A vida não presta” e “Gatinha Manhosa”, além de outros de Roberto, Erasmo e Tim Maia, seus grandes mestres, segundo ele.
No palco, a cada música ele contava histórias da própria obra ou que mostravam o que teve que fazer para driblar as dificuldades e, no camarim, ele nos recebe com uma camisa com os dizeres “Conquistador Barato & Rock Estrela & Modelo 3G”, contando como sobreviveu a este meio musical com seus altos e baixos. Ele assume que seus múltiplos talentos o ajudaram muito, afinal já atuou como ator, cronista, redator, assinou trilhas de filmes e novelas, entre outras participações na frente ou atrás das câmeras. “Tombos acontecem na vida de todo mundo, mas a forma como você lida com eles é que vai fazer a diferença. Não se pode acreditar demais nas críticas, nem nos elogios. Precisamos ter a plena noção do trabalho que fazemos, do que temos nas mãos”, conta. O músico também criticou a indústria fonográfica: “temos uma indústria fraca, de possibilidades limitadas, não se vê programas de música na TV, por exemplo”, explica.
A noite também tinha uma atmosfera sedutora, talvez pelas montagens mais contemporâneas dos seus clássicos dos anos oitenta, ou pela presença do saxofonista Rodrigo Sha, que deixou a música “Mensagem de Amor” irresistivelmente atraente. Não pelo louro ser um “pitéu”, mas pelo tempero que ele dava à power band da noite, composta pelo percussionista Marcos Suzano e o guitarrista Gustavo Corsi. Toda essa afinação de perto, no clima intimista da casa, era muito mais interessante, como se eles estivessem recebendo amigos numa grande sala de estar. Segundo o músico, este é um formato que ele utiliza neste tipo de casa de show. Realmente curtir esse show enquanto toma o Passion Souer é muito melhor. Tanto que os casaizinhos estavam empolgadíssimos, aos beijos, mostrando que a noite promete, a atmosfera era tão sedutora que o fim de semana certamente não será o mesmo depois desse upgrade. E Leo sabe disso, tanto que, com seu humor afiado, entre gritos como “ninguém tirou a roupa até agora”, organiza a brincadeira: “quem está sozinho aí levanta a mão, Ah! Quem levantou as duas é porque está em promoção. Vamos acender a luz para que vocês possam ver uns aos outros”, e ainda diverte-se com a dificuldade em falar “uns aos outros” depois de alguns drinks irresistíveis, que parecem ser mesmo a especialidade da casa, capitaneada pelo chef de bar Rogério Bastos e pelo cantor Zé Ricardo como diretor artístico da casa de shows da Lagoa.
O músico gosta tanto deste formato que ele diz desenvolver cada vez mais há alguns meses e pretende lançar um pack dos seus trinta anos de carreira, ainda sem data para o lançamento. Ele jura para o HT que a afirmação do refrão de um dos seus maiores sucessos não é autobiográfica e, de fato, o saldo desses trinta anos de carreira é de que a vida presta! E fala sobre sua contribuição para a música brasileira “É muito positivo porque, mesmo eu tendo ficado 18 anos sem músicas inéditas, a minha discografia e lembrada e cantada até hoje, não teve nada que explicasse porque elas não foram regravadas ainda”, finaliza.
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