Vanessa da Mata é um dos nomes mais consagrados da atual geração de cantoras na Música Popular Brasileira. Desde que surgiu no mainstream em 2002, com o single “Não me deixe só”, a matogrossense foi conquistando seu espaço, mas em escala meteórica, caindo na graça de nomes como Maria Bethânia, Ana Carolina, Daniela Mercury, Gilberto Gil e Ivete Sangalo, além de ter participado da trilha de várias novelas da Rede Globo, o que aumentou ainda mais seu sucesso entre o público em geral e ajudou a consolidar o nome como uma referência para novos artistas.
Vanessa da Mata – “Não me deixe só”
Seu sétimo e mais recente álbum, “Segue o Som”, lançado no início do ano passado, lhe rendeu duas indicações ao Grammy Latino e uma turnê que vem rodando o Brasil inteiro, com passagens pelo Circo Voador e a Fundição Progresso, no Rio. Até Chris Blackwell, produtor britânico responsável por lançar gente como Bob Marley, U2 e Grace Jones, ouviu o disco em recente viagem da cantora à Jamaica e se surpreendeu com a qualidade musical. Agora, a “Filha das Flores” dá uma pausa na divulgação do trabalho para apresentar na Miranda – e, posteriormente, no Teatro J. Safra, em São Paulo – um show completamente intimista, de repertório cuidadosamente escolhido, no qual ela passeia por hits, gêneros inusitados, covers e músicas do início da carreira ainda inéditas nos palcos: “Eu estava sentindo uma certa necessidade de cantar músicas que não canto há muito tempo, em um roteiro que fosse surpreendente para mim e eu pudesse ficar despreocupada com o disco atual. Hoje, o mercado dá ao artista essa mobilidade de um show mais intimista”, comenta a cantora em entrevista exclusiva ao HT.
Apesar de estar aproveitando ao máximo a oportunidade de cantar acompanhada apenas por um violão (ou guitarra, ocasionalmente) e piano, Vanessa frisa que esse é um momento pontual na carreira, sem previsão de ser repetido ou prolongado. “Também não é uma intenção minha fazer um disco intimista – acho até que está muito cedo para pensar nisso”, disse a cantora, que costuma levar cerca de dois anos para preparar um CD. “Quando eu começo a me cansar, gravo outro disco. Algumas músicas, eu devo confessar, tenho pena de largar. “Amado”, por exemplo, é uma que não dá para ficar de fora”, comenta sobre a música que integrou a trilha sonora da novela “A Favorita” (João Emanuel Carneiro), em 2008, e foi uma das mais tocadas nas rádios naquele ano.
Vanessa da Mata – “Amado”
Esse não é o primeiro “respiro” que a artista dá em seu próprio repertório. Ainda em 2013, Vanessa da Mata fez uma turnê a convite da Nívea, na qual cantou apenas músicas de Tom Jobim, uma iniciativa que se tornou um sucesso de crítica e de público. O show, posteriormente, se transformou no disco “Vanessa da Mata canta Tom Jobim”, um alento para os fãs que não puderam comparecer às apresentações. Mas, quando subir ao palco da Miranda amanhã, dia 20, e sábado, a cantora irá levar muito além da influência de Tom para o público: “Vai ter uma brincadeira da misericórdia onde eu farei um pot-pourri só de música caipira. Tem “Vá pro inferno com o seu amor”, de Milionário e José Rico, por exemplo, que está toda rearranjada com guitarras em uma pegada mais rock. Eu sinto que as pessoas vão entender que conhecem de algum lugar, mas vão demorar a saber qual é”, afirma com voz divertida só ao pensar na surpresa para a plateia, que ainda ouvirá canções de Carole King, Marcelo Camelo, Renato Russo e muitos mais .
De acordo com Vanessa, essa opção “intimista” de se apresentar – uma característica que se potencializa no Espaço Miranda – é uma forma de “se rebelar contra essa tendência da indústria”. Ela explica melhor: “Esses shows com megaproduções, telões e projeções são uma tendência internacional. Até os funkeiros fazem isso hoje em dia. Algumas coisas, eu acho bonitas. Mas considero que, no Brasil, o palco é mais puro e o show com poética e poesia. Hoje, a gente perde muito [com esse tipo de espetáculo]. É muito individualismo e pouco contato. Está tudo muito frio”, analisa.
Outra tendência da indústria que Vanessa não parece se agradar muito é a disponibilização gratuita de músicas online, apesar de admitir que ainda é cedo para avaliar com certeza os efeitos disso. “Eu ainda não consegui ser impactada com um resultado final, bom ou ruim. Ao mesmo tempo, acho que você perde o contato físico com aquele assunto: a letra, quem cantou, a fotinha de quem fez, o encarte… Você perde o afeto. Fica algo superficial e, na relação musical, eu acho que existe algum dano nisso. Mas, sei também que facilita muito para a galera jovem chegar e descobrir música nova na internet”, diz, admitindo que é uma das artistas nacionais mais tocadas no mundo online.
O sucesso de Vanessa da Mata na web é algo que se estende para além das músicas e chega com força total em suas redes sociais. No Twitter, ela acumula quase 140 mil seguidores; no Instagram são outros 108 mil; e, no Facebook, já são mais de 2 milhões de curtidas. Em todos esses perfis, principalmente no Twitter, a artista costuma se comunicar com seus fãs – a quem chama carinhosamente de Passarinhos Cantantes – através de orações e mensagens positivas que dedica a Deus, Jesus Cristo, Xangô, São Jorge, Virgem de Nazaré e quem mais lhe der forças, num sincretismo à la Jorge Amado de encher os olhos. “Minha família é muito espiritualizada. Nós fomos criados na educação católica, mas todo mundo é meio médium e espírita. O que eu tento fazer com essas mensagens é trazer o lado espiritual das pessoas, algo que nós estamos deixando de lado cada vez mais e, assim, fica mais difícil até de se encontrar. Eu tento levar até as pessoas uma reflexão sobre elas mesmas. E não precisam concordar comigo. Mas, só de responderem, elas já estão falando algo além do jornal da TV que está noticiando a guerra lá não sei onde”, comenta com tranquilidade, frisando que a espiritualidade não precisa estar necessariamente ligada a alguma religião.
Atenção passarinhos: momento de oração, luz,proteção divina total e providências divinas também,organização interna e externa,amor e proteção
— Vanessa da Mata (@vanessadamata) March 19, 2015
Religião, por sinal, não é o único assunto delicado no qual Vanessa da Mata toca sem medo – característica rara hoje em dia. O “novo feminismo”, por exemplo, é algo que a cantora de opinião forte e presença imponente não tem receio de comentar: “O feminismo, assim como qualquer outro tipo de luta contra o preconceito, é algo que precisa existir. Lutar pelos direitos é o básico, ainda mais com o mundo tão inadequado como está hoje. É muito violento o que vem acontecendo com a mulher, então acho natural que o outro lado venha com tudo. O que eu vejo acontecendo é uma grande falta de diálogo, uma ausência de presenças masculinas defendendo o que a mulher precisa. Eu sou meio pós-feminista, porque já nasci com os meus direitos. Mas, por exemplo, li que algumas mulheres na Inglaterra estão tomando testosterona para não terem crise e não demitirem ninguém, algo assim. Acho isso errado. É aí que está o nosso diferencial. O ser humano não é essa coisa fria!”, diz.
Vanessa da Matta – “Toda Humanidade Nasceu de Uma Mulher”
Há mais de 20 anos na carreira musical, Vanessa da Mata já acumula cinco indicações ao Grammy Latino – tendo vencido uma -, quatro discos de platina, um de platina dupla e um de ouro, além do grande público que conquista na estrada com suas turnês. Ou seja, dizer que ela já atingiu o sucesso é algo mais do que certo. Ainda assim, a cantora comenta que isso não é algo fundamental para ela, ou que seja uma estratégia planejada na qual pensa enquanto está compondo: “Eu não conseguiria fazer música de jeito nenhum se fosse assim. Tenho que me desprender muito disso. Não acho que a música sincera seja desse jeito. A letra de quem quer muito fazer sucesso é mais direta para ter refrões fáceis. Eu vejo e admiro quem consegue, mas não sou assim. Eu não conseguiria isso e ficaria muito superficial”, aponta.
Lidar com a fama é uma característica do sucesso, por exemplo, que ela admite ter demorado um pouco a saber administrar: “Foi um problema no início da minha carreira, mas hoje em dia voltou a ser estranho. Eu preciso ressaltar que os fãs são maravilhosos e me entendem. Mas, algumas pessoas chegam como se eu fosse um patrimônio público. E se o próprio patrimônio público já é tão maltratado, imagine uma pessoa! Tem gente que chega e fica feliz com uma foto, um carinho. Agora, algumas pessoas não se importam se você vai perder um voo. Elas querem tirar 15 fotos, gravar um vídeo para passar no telão do casamento da irmã, e outras coisas que eu não posso fazer. Elas não se colocam no seu lugar, e eu acho que isso é muito necessário, ainda mais na hora de pedir algo ao próximo”.
Ela volta a ressaltar que isso acontece com uma parcela mínima dos fãs e conta um caso divertido que aconteceu em Portugal, quando um homem havia terminado um casamento de 27 anos oferecendo sua parceria com Ben Harper, “Boa Sorte”, para a (ex) esposa: “A mulher me achou na rua e queria que eu falasse com o ex-marido de qualquer maneira pelo telefone, porque assim ele voltaria para ela. Eu disse que se ele havia terminado com ela daquele jeito, já era para ter largado o cara há muito tempo”, conta, entre risos.
Vanessa da Mata – “Boa Sorte” (Part. Ben Harper)
Quem vê ou ouve Vanessa percebe que o bom humor e o espírito leve são partes intrínsecas à sua personalidade. Assim como a opinião forte, que ela sabe não ser tão fácil para o resto das pessoas articularem, ainda mais quando se está sob os holofotes e tudo o que você diz pode ser mal interpretado: “O famoso não pode erra ou quebrar uma expectativa do público. Isso cria um vício da opinião artificial, de uma coisa diferente de quem você é. E a pessoa nem vai poder ser inteligente, tem que dar uma resposta blasé e agradar a todo mundo. É uma expectativa muito grande do outro”, explica, com a voz preocupada. A [boa] sorte é que, de alguma maneira, Vanessa é uma das artistas que conseguem transitar nesse espaço entre o “agradar todo mundo” e ainda assim não se transformar em uma marionete da mídia. E isso, assim como suas performances musicais, merece muitos aplausos.
Serviço:
Vanessa da Mata – show ‘Delicadeza’
Data: 20 e 21 de março (sexta e sábado)
Horário: 21h30
Abertura da casa: 20h
Setor Um Tom Acima: R$ 200
Setor Notável: R$ 180
Pista: R$ 80
INFORMAÇÕES MIRANDA
End: Espaço Lagoon – Avenida Borges de Medeiros, 1424 – Piso 2 – Lagoa – Rio de Janeiro (21) 2239-0305
Capacidade: 320 pessoas
Classificação: 16 anos
Formas de pagamento: dinheiro, cheque e todos os cartões de crédito e débito.
Ar-condicionado central
Mais informações em: www.mirandabrasil.com.br
Facebook: https://www.facebook.com/mirandabrasil
Twitter: @mirandabrasilrj
Artigos relacionados