Tuny: cantora trans e bissexual lança trilogia ‘Eu sou’ para com a arte lutar pelo respeito às pessoas LGBTQIAP+


“No país que mais mata LGBTQIAP+, escancarar a não-normatividade de gênero e sexualidade é também uma forma de lutar contra essa onda conservadora que toma o nosso país com a arma mais poderosa do mundo: a arte”, frisa ao apresentar o seu trabalho que lançará a cada mês, começando agora, em agosto, três singles acompanhados por videoclipes

Tuny (Foto: Gabriela Perez)

“Eu sou o Tuny”; “Eu sou… Tuny”; e  “Eu sou a Tuny”. Viva a liberdade e todos os holofotes para a cantora independente e compositora de música pop que defende as causas LGBTQIAP+, como trans e bissexual. Tuny acaba de lançar  “Eu Sou – uma trilogia musical”, que, através de sua arte como cantora enfatiza a luta pela igualdade e respeito às pessoas LGBTQIAP+. “É sobre autodescoberta e transformação. A escolha de celebrar a minha vida nesse momento tão conturbado e cheio de retrocessos é um ato político e de amor próprio. No país que mais mata LGBTQIAP+, escancarar a não-normatividade de gênero e sexualidade é também uma forma de lutar contra essa onda conservadora que toma o nosso país com a arma mais poderosa do mundo: a arte”, frisa ao apresentar o seu trabalho que lançará a cada mês, começando agora, em agosto, três singles acompanhados por videoclipes.

Nos três trabalhos musicais, Tuny mostrará toda a sua sensibilidade ao abordar amores e experiências. O primeiro single batizado “Um sonho com você”, retrata um passeio entre a realidade e o sonho. O clipe mostra um sonho erótico e o desejo entre duas pessoas. TUNY canta com eu lírico masculino e contracena com o ator trans Henrique Bulhões.

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O segundo, “Tão diferente”, usa o eu lírico feminino, já mostrando uma mudança sobre sua identidade de gênero. Ela contracena com Naíma, atriz negra e bissexual. O terceiro, “Pink Money”, contrasta com os anteriores, apresentando uma linguagem mais agressiva na letra, no arranjo e na produção audiovisual e critica o oportunismo de marcas e artistas com a causa da comunidade LGBTQIAP+. Num cenário bem urbano, TUNY caminha pelas ruas com um vestido pink, salto alto e maquiagem forte, cantando diretamente para a câmera. Ao final da música, ela entra num carro e segue para um parque, onde encontra Henrique e Naíma, personagens dos clipes anteriores, à sua espera em um piquenique romântico a três.

Carioca, moradora do Humaitá e professora particular de aulas de canto, Tuny, aos 29 anos, conta que usa este nome como artístico e social e a história começou na infância. “Era um apelido que eu tinha na época da escola. Mais tarde decidi seguir carreira de cantora e defini como nome artístico, porque achava diferente. Tem uma sonoridade pop, e hoje, veio como nome social, pois não apresento mais meu nome de registro. É um nome que me dá uma liberdade”.

A respeito da trilogia com o tema “Eu Sou”, Tuny fala quem é ela: “Uma artista independente que ama o que faz. Meu sonho é viver da música e poder chegar em todos os lugares do Brasil e poder realizar muitos shows. Sou aquariana, sempre falo isso, e acho que a minha luta maior é pela liberdade, é usar a arte contra o preconceito e a favor do amor, do sentimento…”.

Apaixonada por arte desde criança, ela revela que chegou a integrar o coral do colégio. “Eu era muito das artes plásticas, fazia aula de desenho, e, mais tarde, resolvi cursar teatro. Quando eu tinha 18 anos, entrei em um coral no Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, onde estudei e me apaixonei. Aí fui estudar a teoria, fui fazer aula de canto, cursei música na UNIRIO. Trabalhei muito com vocal, daí eu comecei a compor e querer investir na carreira solo de cantora”, relembra.

Há dois anos, realizou o seu primeiro single independente, “Sinto muito, mas não sinto nada”, retratando um amor não correspondido. Indagado sobre ter vivenciado alguma situação amorosa que a inspirou nessa canção, afirma não ter sido exatamente uma história dela, e que está sempre atenta às coisas do mundo para realizar suas músicas. “Às vezes eu vejo uma frase que eu gostei em uma série, às vezes me vêm em uma ideia na cabeça quando tô andando na rua ouvindo música… as inspirações vêm dos mais variados lugares.”

Embora se sinta hoje privilegiada por ser aceita e acolhida na família, Tuny relata preconceitos que já sofreu, mas, segundo ela, nada comparado com a realidade de milhares de pessoas LGBTQIAP+ no Brasil afora. “Postei há pouco tempo sobre a experiência em sair do armário pela segunda vez. Na primeira, eu saí assumindo a minha sexualidade, como uma pessoa bi, e depois, uma pessoa trans. A gente vive uma situação tão triste e pesada onde pessoas trans são expulsas de casa, são espancadas, os pais param de falar… Nunca vivi nada tão violento assim, mas tem sempre barreiras, preconceitos, falta de formação, e, ao mesmo tempo, reconheço que dentro das vivências de pessoas LGBTQIAP+ eu tive o privilégio de estar em uma família mais aberta que me aceita e me acolhe.”

Morando atualmente com a mãe, a cantora ainda abre o coração: “Me dou muito bem com o meu irmão, com as minhas primas, com as minhas tias, com os meus avós, mas sim, a gente sempre vive preconceito. Crescendo, eu ouvi muita coisa, até dentro de casa, na escola, comentários do tipo: “não seja assim” ou “não haja dessa forma”. Acho muito difícil as pessoas da minha geração não terem ouvido comentários homofóbicos e preconceituosos durante a infância e adolescência”. Ela ainda enaltece a importância de nomes como Pablo Vittar e Glória Groove com a finalidade de muitas pessoas se enxergarem nesses artistas. Possuem uma força muito grande nessa representatividade e é muito importante uma referência para verem que é possível você ser bem sucedido e ter sucesso”, pontua.

Elogiando as conquistas da comunidade LGBTQIAP+, Tuny diz haver um caminho longo pela frente a ser percorrido ainda na luta por igualdade. “A gente vive em uma era onde é possível ter uma drag queen tão famosa como a Pabllo Vittar. Há alguns anos não seria. Acho muito importante a gente valorizar essas conquistas, mas, de forma realista, não parar de lutar. Por mais que muito se conquistou ainda há muito chão pela frente. A gente ainda vive em um dos países onde se mata mais pessoas LGBTQIAP+ no mundo. Sou uma pessoa trans e tenho muito privilégio de poder trabalhar com o que eu gosto, mas existe um número alto de pessoas trans, travestis, mulheres trans, que trabalham com prostituição não por escolha, mas por não terem espaço no mercado de trabalho. O índice de suicídio dessas pessoas é altíssimo também. Percebo uma grande evolução em vários quesitos, mas, ao mesmo tempo, ainda há muita luta.”

Um sonho de Tuny? “Trabalhar muito, muito mesmo, para investir em minha carreira na música”. Toda a sorte do mundo, Tuny.