*Com Bell Magalhães
Rapper, cantor popular, cantor lírico autodidata, compositor e que ‘toca razoavelmente violão e cavaco’. É assim que se define Triz Rutzats, artista paulista de 21 anos, promessa do rap contemporâneo. Ele está à frente da faixa “Sem Limite”, que recentemente ganhou clipe. A letra narra a vivência, superação e a chegada ao sucesso na perspectiva do cantor, morador de Pedreira, na periferia da zona sul de São Paulo. Sobre os desafios em produzir o single, principalmente em contexto de pandemia, Triz comenta: “O próprio desenrolar do processo foi desafiador. Pegamos uma diária para rodar com algum norte em mente, mas as coisas foram acontecendo de forma inesperada. No fim, o acaso acabou levando a gente por outros caminhos e acabamos encontrando lugares e pessoas que fizeram toda a diferença no resultado final”.
As influências do cantor são variadas e o faz caminhar pelos mais diversos ritmos. Mesmo tendo construído uma base forte no rap, Triz não gosta de ser rotulado. Ser apresentado como “rapper” faz jus ao compositor? “Acredito que não, afinal canto desde os cinco anos. Fiz três anos de aula de canto, cheguei inclusive a realizar um show em tributo a Noel Rosa. Realmente me aventuro no canto. Adoro samba, MPB e música clássica e o rap entrou em minha vida só aos 16 anos. Eu venho de uma longa jornada na música cantada, fazendo parte de bandas e corais. Então, prefiro não me referir só como cantor, nem só como rapper. Sou os dois. E, na dúvida, sou apenas ‘Triz’”, afirma.
O primeiro holofote chegou ao cantor aos 18 anos, com a música “Elevação Mental”. O hit de 2017 focou na realidade e marginalização sofridas por membros da comunidade LGBTQIA+, do qual faz parte pois se identifica como uma pessoa trans não-binária. Tanto no trabalho mais recente quanto na faixa atual, a representatividade é um tema constante nas composições de Triz, e ele explica: “Melhorar sua própria vida e as dos seus pares move a esperança e dá propósito ao homem. Se a minha existência enquanto uma pessoa periférica e fora dos padrões exige uma representatividade, o que mais poderia fazer senão correr atrás dela para conseguir viver do que amo? Meu grande desejo é conseguir viver de música e fazer o que sei”, diz o cantor.
Viver uma realidade não aceita pelos frágeis padrões normativos da sociedade pode ser um desafio constante para quem está na mídia. Triz sabe da possibilidade de ataques, mas a própria identidade e essência são maiores vão além: “Não fico pensando no fato de ser não-binário 24 horas por dia. O meu gênero não é pauta dentro da minha subjetividade e dos meus pensamentos cotidianos. Sobre o preconceito, acredito que deva haver alguns comentários desse cunho em algum vídeo meu, afinal chegou em muitas pessoas e pessoas são diferentes. Impossível não ter algum comentário opositor, mas ainda não vi, felizmente”.
O preconceito também pode vir de lugares nos quais menos se espera. Desde muito tempo, membros e ativistas em prol da causa LGBT debatem a discriminação que surge no próprio meio queer. O artista fala das formas para tentar driblar essa triste realidade: “O preconceito existe, claro, e pode se apresentar de diversas formas. Quando se trata de lidar com algo indesejado, prefiro tentar evitar antes para justamente não ter que chegar ao ponto de enfrentar. Às vezes, ser solitário e ter contato com poucas pessoas pode te proporcionar uma vida mais tranquila”, nos conta.
Por outro lado, o músico não tem a mesma percepção quanto ao mundo do rap, majoritariamente composto por homens cisgêneros e heterossexuais. O cantor diz que não encontrou obstáculos ao entrar no meio: “Talvez possa parecer desafiador para certas pessoas de fora e ao olharem para mim, enxergam apenas o estigma da androginia, da não-binariedade ou ‘whatever’ e se questionam de imediato sobre ‘como poderei enfrentar o mundo com toda minha autenticidade e toda essa disparidade com os padrões’, mas no meu íntimo não passam essas questões”, e acrescenta: “Quando a pessoa se ama, tem auto estima e confiança, ela nunca vai pensar na possibilidade de ser desafiador fazer algo no qual ela é boa – independente das suas características, gênero ou qualquer outra coisa… Isso não prejudica em nada a sua atuação e a qualidade do seu trabalho. E no limite, quando a música é boa e ‘laça’ alguém, talvez pouco importe as características físicas de quem a faz”.
Como avisado pelo próprio músico nas redes, Triz disse que o lançamento seria um ‘retorno ao rap’. O que vem por aí? “Podem sempre esperar uma variedade de experiências sonoras. Nesse álbum, teremos boom bap, trap, dancehall, funk…Enfim, estilos para muitos gostos. Gosto muito de todos esses gêneros musicais por isso componho em todos eles. Pretendemos fazer o lançamento até junho deste ano. E mais: teremos uma participação bem especial já mais que confirmada”.
Veja o clipe de “Sem Limite”:
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