*Por Simone Gondim
A 16ª edição do Festival Multiplicidade, que começou nesta quinta (21) em formato totalmente virtual, teve a abertura salva pela irreverência de Tom Zé, a segunda atração da noite. O espetáculo foi gravado para ser exibido no YouTube, e antes de começar o show, o cantor e compositor de 84 anos deu um recado. “Há muito tempo que a humanidade está de luto. E a gente está, a cada dia, ficando mais de luto. Mais enlutados. Espero que isso comece, alguma hora, a modificar e a nos levantar”, afirmou. “Mas eu vou tocar uma música que não tem nada com isso, senão fica um desastre”, completou, rindo e emendando em “Tô”, parceria dele com Elton Medeiros.
Usando a técnica conhecida como video mapping, que permite projetar imagens em uma estrutura tridimensional, a apresentação de Tom Zé transformou em tela a fachada do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, cujo prédio foi destruído em um incêndio, em 2018. O Festival Multiplicidade apoia a campanha de mobilização Museu Nacional Vive e celebra a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), gestora do espaço, que completou 100 anos em 2020.
Entre uma música e outra, Tom Zé também brindou o público com diversos comentários relacionados às letras ou ao momento em que as escreveu. Antes de cantar “Língua brasileira”, por exemplo, o artista falou de Olavo Bilac e contou a história de personagens citados na letra, como é o caso da nobre Inês, que ficou com a corte de Portugal quando o rei foi à guerra e acabou assassinada. Ao voltar, o rei fez com que ela fosse desenterrada e obrigou toda a corte a beijar a mão da morta.
O baiano gravou o show do Multiplicidade na casa onde mora, em São Paulo. Ele está em quarentena desde março do ano passado, por causa dos riscos relacionados à Covid-19, e se apresentou acompanhado pelo produtor Daniel Maia. Além de tocar violão, Maia ajudava a estrela da noite a lembrar de algumas letras. Foi o caso, por exemplo, de “Sabor de burrice” e da inédita “Clarice Clariô”, composta especialmente para o festival, em homenagem à escritora Clarice Lispector.
Mas o grande problema do show foi causado pelos organizadores do evento, que tiveram a péssima ideia de cortar o ritmo da apresentação com depoimentos em vídeo de Russo Passapusso e Gregório Duvivier. Ainda que os dois tenham rendido homenagens ao artista, as interrupções só prejudicaram, em vez de acrescentar.
Para encerrar o espetáculo, a bela “Menina, amanhã de manhã (O sonho voltou)”, lançada em 1972 no álbum “Se o caso é chorar”. Mesmo com o fim abrupto após o último acorde, o público, assim como Tom Zé, deixa a transmissão embalado na mensagem de esperança da letra, torcendo para que a felicidade desabe logo sobre os homens.
O Festival Multiplicidades vai até domingo (24), com transmissão no canal oficial do YouTube. Entre os artistas que vão se apresentar estão a drag queen Uýra Sodoma, a brasileira Ana Frango Elétrico, o mexicano Moisés Horta Valenzuela, o japonês Daito Manabe e Dillon Bastan, dos Estados Unidos. Na sexta e no sábado, as apresentações começam às 20h. No domingo, tem performance às 17h, a única que não ficará disponível depois.
Veja a lista de músicas do show de Tom Zé:
1 – Tô
2 – Sabor de burrice
3 – Politicar
4 – Língua brasileira
5 – Parque industrial
6 – A babá
7 – Clarice Clariô
8 – Minha carta
9 – Todos os olhos
10 – Botaram tanta fumaça
11 – Hein?
12 – Augusta, Angélica e Consolação
13 – Ui! (Você inventa)
14 – Menina, amanhã de manhã (O sonho voltou)
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