Intolerância, racismo e empoderamento feminino foram alguns dos conceitos que Thiago Pach quis abordar em seu primeiro álbum. Canto de Aruanda possui uma visão crítica sobre elementos da sociedade, colocando uma lupa sobre os brasileiros. Mas não pense que a ideia do cantor é apenas levantar questões, a intenção primordial deste CD é falar sobre a diversidade cultural e retratar cada minoria. Quem puxa esta avalanche de questionamentos é ninguém menos do que Elza Soares. A talentosa artista é a personalidade exaltada por trás do primeiro single divulgado de Thiago, Gata Elza. A homenagem foi escrita por Bil-Rait Buchecha e Nelson Freitas e, agora, poderá ser ouvida com o toque especial do novo músico. “Ela representa todo o Brasil, é uma mulher negra que veio de uma origem pobre. Em sua carreira, fala sobre o preconceito, luta e a força de vontade do nosso povo. Sempre escreve sobre política e racismo em suas canções, conversava sobre empoderamento feminino antes mesmo deste termo existir”, informou Thiago. O álbum tem previsão de lançamento para março e conta com inserções da música eletrônica e influências da cultura afro e do blue notes.
Site Heloisa Tolipan: Você não é um dos compositores por trás de Gata Elza. Como esta letra chegou até você?
Thiago Pach: O Nelson Freitas é o produtor musical do meu álbum. O meu CD fala sobre a música brasileira, por isso foi super coerente quando ele me falou sobre a Gata Elza. Originalmente, ele queria apenas que eu cantasse este single, não era para fazer parte do disco. No entanto, como quero trazer uma trilha sonora que fale sobre o povo, nada mais justo do que trazer uma artista que esteja inserida neste assunto.
HT: Esta música acabou se tornando o carro chefe do seu CD. Por que escolheu Gata Elza para ter esta função?
TP: Comecei a formatar o disco quando fui para o Nordeste e reencontrei alguns parentes distantes meus. Naquela viagem, me reconectei com a minha ancestralidade e com um Brasil que às vezes só ouvimos falar. Este foi o primeiro episódio no qual passei a pensar neste disco, a Gata Elza foi o segundo momento. Fiquei apaixonado pelo tema por perceber que a Elza Soares é uma cantora que, de certa forma, resume todo o povo. Mesmo tendo sofrido muito, ela caia e levantava. A minha ideia era trazer um olhar positivo sobre esta ideia. Além disso, foi uma pessoa que agregou muitas informações ao samba. Era contundente falar sobre ela, já que representa tudo isto. Quis gravar e acabamos lançando como o primeiro single, antes do álbum. Inicialmente, a música principal era Canto de Aruanda, mas Gata Elza se tornou tão forte que todos os arranjos foram repensados por causa dela.
HT: Pensa em convidar a Elza Soares para fazer uma participação especial em algum show?
TP: Seria a realização de um sonho. Desde um primeiro momento tivemos a ideia de mostrar para ela e, inclusive, queríamos que ela falasse a última frase da canção, mas acabou não rolando. Gostaria muito de ter esta honra em algum momento.
HT: O videoclipe foca no rosto das pessoas e cada um possui a pele marcada por diversas tonalidades de cores, sempre muito fortes. O que estas cores representam?
TP: Além de cantor, também sou ator e diretor de teatro, por isso ao dirigir o clipe tive a intenção de trazer dez pessoas para a cena. A minha ideia era colocar a voz da Elza na boca de outros, porque ela representa todo mundo. Além disso, é uma mulher guerreira, que passou por muitas coisas. Sendo assim, na minha concepção, estas cores são o sangue dela. No entanto, as feridas são coloridas, porque ela nunca se deixou abater. Acrescento também que ela nunca quis esconder qualquer cicatriz, afinal contam a sua história.
HT: Existe alguma outra faixa que você não compôs em Canto de Aruanda?
TP: Apenas duas músicas não são minhas neste disco, a própria Gata Elza e Desamuá. Esta última foi escrita por Ralphen Rocca, Nelson Freitas, Bil Rait Buchecha e Xandim Dêraudê. Além destas duas, contei com a parceria de Wladimir Pinheiro na letra de Podem Avisar.
HT: O disco possui influências brasileiras, da cultura afro e do blues. Qual foi o processo de definição deste estilo musical?
TP: Gosto muito de tudo, escutava diferentes estilos em casa. Isto, inicialmente, foi uma grande dificuldade para mim, porque queria unir tudo no meu disco. O Nelson Freitas foi muito importante no momento de definir quais vertentes eu ia trabalhar, ele soube ver a minha diversidade.
HT: Sendo assim, fica difícil identificar o seu gosto musical?
TP: Acho que estou entre o Jazz, Samba e um pouco dos ritmos afro.
HT: Ao mesmo tempo em que temos uma grande diversidade de estilo musical, como você mencionou, acha que falta sensibilidade e empatia das pessoas para saber aceitar todos os gostos? Temos cantoras pops como a Anitta e a Pabllo Vittar que são muito criticadas pelo seu gênero e muitos até alegam que elas não sabem cantar.
TP: Esta discussão vai além dos gostos, vivemos em um momento de intolerância e esta ideia esteve muito presente no meu CD. A Elza Soares sempre falou sobre isto, o que também me fez falar sobre ela. Quando as pessoas criticam muito de forma agressiva, estamos falando muito menos de música. Temos dificuldade de aceitar as diferenças e a internet abriu espaço para as críticas. Acredito que tem espaço para todos, não me interessa qual o meu gosto.
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