Em setembro de 2019, o rapper Thiago Elniño lançou seu segundo álbum ‘Pedras, Flechas, Lanças, Espadas E Espelhos’, considerado um relicário da produção contemporânea de música preta brasileira, afinal, o disco conta com as participações de Luedji Luna, Rincon Sapiência, Tássia Reis, Projeto Preto e Ricardo Aleixo. Por conta do isolamento social, pela emergência sanitária causada pelo novo Coronavírus, o músico pode levar essa ode a pouquíssimos palcos do Brasil. Uma novidade é que hoje, (11), às 19h, o músico faz uma live-show a convite do projeto Arte em Cena do Sesc RJ, unindo muita mandinga, ritmo e poesia para documentar, verso a verso, a jornada de um homem negro que alimenta sua fé pelo direito de continuar sonhando, sendo honesto com a arte que faz, responsável, ciente da sua ancestralidade e espiritualidade africana. “Esse trabalho é feito sob o signo da generosidade. A mensagem que eu deixo é de que precisamos priorizar os nossos, buscando referências de saúde social e autocuidado. Precisamos nos defender, sem sentir culpa ou medo”, enfatiza.
Natural de Volta Redonda, Thiago com 32 anos é educador popular e pedagogo e começou a se envolver com a música aos 15. Sua sonoridade mistura o rap tradicional, com influências dos toques de terreiro trazendo um olhar contemporâneo para a música popular negra, no Brasil. Para o artista suas músicas trazem um sentido de cura, pois as batidas dialogam com pontos orgânicos dos cultos a natureza e as religiões de matriz africana, sua a poesia que discute o racismo, masculinidade tóxica, violência institucional, que se espalha como um mantra de amor para encantar os corações trazendo esperança de dias melhores.
“Eu acho que seria inocente da minha parte não entender essa popularização do rap como um momento que vem se dando principalmente porque existe uma estrutura branca que entendeu que pode ter enormes lucros com ele. E isso nem de longe significa que por estar lucrando com rap, essa estrutura deixa de ser racista, muito pelo contrário – são só negócios”, dispara. E completa: “Por outro lado, a música urbana está se popularizando cada vez mais, e alcançando mais lugares fazendo com que mais gente conheça e que mais gente produza, impulsionando uma maioria que repete o que vende, mas também muita gente experimentando e enriquecendo o gênero musical de forma acelerada”.
Seu segundo disco, que estará no palco virtual do Sesc RJ, hoje à noite, debate temas altamente contemporâneos como racismo, padrões da masculinidade tóxica, a objetificação do corpo negro, funcionando como um ‘manual antiracista. “Todas as discussões que proponho são feitas tendo a questão de raça como ponto de partida, por isso, traz um recorte constante sobre o atravessamento por informações quanto à masculinidade tóxica que até muito pouco tempo atrás eu não tinha acesso, ou, talvez, eu tivesse sim acesso, mas não tinha a sabedoria, coragem e vergonha na cara de ter acessado. É inconcebível imaginar uma comunidade preta saudável sem que em algum momento o homem preto reveja suas posturas e sentimentos diante a si mesmo, entendendo que nosso melhor vem do feminino preto, que está dentro de todos nós. Então, como muitos irmãos, eu também estou nessa caminhada e confesso que não é fácil, mas tá rolando e ele acaba atravessando a minha produção”, explica.
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