Aos 62 anos, a cantora baiana Glória Bomfim integra o seleto time de intérpretes femininas, cujos trabalhos têm como ponto de partida o resgate das tradições afro-brasileiras. Nascida em Areal, interior da Bahia, a ex-manicure e empregada doméstica, consagrou-se no panteão do cancioneiro popular do Brasil em 2007, quando o casal Paulo César Pinheiro e Luciana Rabello, até então seus patrões, decidiriam tirá-la da cozinha a fim de iluminá-la na cena artística. Levaram-na para um estúdio, produziram-lhe um álbum (“Santo e orixá”) e apresentaram ao Brasil a sua voz singular e emocionante. O début foi tão aclamado que até Maria Bethânia, encantada, relançaria o disco anos depois pelo próprio selo Quitanda, via Biscoito Fino, sob o título de “Anel de aço”. Logo mais, Glória, a ialorixá Maria da Glória Bomfim dos Santos, sobe ao palco do Teatro Rival Petrobras para promover o segundo trabalho que traz um repertório inédito, composto somente por canções de Paulo César Pinheiro. Batizado “Chão de terreiro”, o álbum já pode ser considerado um dos mais belos e relevantes deste ano que ainda se inicia.
“É um trabalho que mostra quem, de fato, sou: uma mulher do interior da Bahia, com árduo histórico de vida, mas batalhadora e absolutamente crente na força de minha religião, o Candomblé, e na dos orixás. Eu sou dos terreiros. Nasci e me criei neles. As canções do Seu Paulo expressam a minha verdade”, diz a cantora, que, aos 13 anos de idade, foi doada pelos pais para uma família de Salvador criá-la.
“Chão de terreiro” é uma daquelas preciosidades que somente Paulo César Pinheiro é capaz de criar. Abre reverenciando Ogum (em “Malembe”), o orixá da guerra; saúda Xangô (“Xangô Irôco”), o rei da justiça; celebra Oxumarê (“Canto pra Oxumarê”), a cobra arco-íris, símbolo da continuidade e da permanência; presta homenagem à Mãe Stella de Oxóssi, uma das mais importantes sacerdotisas da Bahia, morta no fim do ano passado; e como em um verdadeiro xirê (festa de santo) encerra pedindo “a bença” e proteção a Oxalá. É um projeto extremamente simbólico na atual conjuntura do país, de ratificação da importância das religiões de matrizes africanas. É um grito de liberdade contra a intolerância religiosa e o preconceito etnorracial.
Glória, a quem muitos comparam a Clementina de Jesus pelo histórico de vida e pela forma como surgiu na cena musical, destaca que o novo trabalho é, na verdade, continuação de “Santo e orixá”, pois que mantém o conceito de preservação de memória da ancestralidade africana. Segundo ela, os dois são trabalhos que defendem o samba como música oriunda dos cultos e lamentos africanos. E já que público passou a identificá-la como uma legítima representante desse processo de resistência, as cobranças surgiriam incisivamente.
“Muita gente vivia me pedindo. Eu, então, cheguei para a Luciana e contei o que estava acontecendo. Disse a ela: ‘Fala pro Seu Paulo que eu quero gravar o segundo CD, pra ele me dar as músicas’. E ele, em resposta: ‘O segundo CD da Glória já tá pronto. Eu só tô esperando ela me pedir’! Seu Paulo me entregou 17 músicas inéditas, eu escolhi 14 e começamos o processo de gravação, resultando num disco com 13 canções”, conta.
No palco, Glória Bonfim estará bem acompanhada dividindo a cena com músicos de primeira, muitos integrantes em sua maioria do grupo 4×4.
Serviço
O que: Gloria Bomfim – “Chão de terreiro”
Onde: Teatro Rival Petrobras – Rua Álvaro Alvim, 33/37 – Centro/Cinelândia – Rio de Janeiro. Quando: 05 de fevereiro (Terça-feira)
Quanto: R$ 50,00 (Inteira), R$ 35,00 (Promoção para os 100 primeiros pagantes), R$ 25,00 (meia-entrada). Venda antecipada pela Eventim – http://bit.ly/TeatroRival_Ingressos2GIaEKp
Horário: 19h30.
Abertura da casa: 18h
Censura: 18 anos.
Informações: (21) 2240-9796
Capacidade: 350 pessoas. Metrô/VLT: Estação Cinelândia.
*Meia entrada: Estudante, Idosos, Professores da Rede Pública, Funcionários da Petrobras, Clientes com Cartão Petrobras e Assinantes O Globo.
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