Tati Pinheiro, ex-Abelhudos: Agora volto a levar a sério viver de música, já que não pagou minhas contas há tempos


A cantora divulga o novo trabalho que celebra a retomada da carreira solo. Em papo aberto, Tati relembra a trajetória como criança prodígio e a determinação para manter a música no caminho. Fala também do transtorno de ansiedade, revela o desejo de participar de uma reality musical como cantora e sobre a questão que virou a história dos fãs pedirem que o Os Abelhudos regravassem algumas canções com ela na formação também: “Era mais simples eles dizerem, ‘peitarem’ o que queriam fazer: gravar sem mim. Virou uma ‘treta’ entre adultos, mas com comportamento infantil. Acho que são as nossas ‘crianças interiores’, que não sararam e cresceram, gritando. E se comunicam ainda com as ‘crianças’ dos fãs (risos)”

*Por Brunna Condini

“Vê qual é o nome do Dono da Terra
Inventor do céu e do mar
Pega o telefone, liga para esse homem
Diz que é pra ele… reinventar”

O trecho da canção ‘O Dono da Terra’, de Nair De Candia e Renato Correa, eternizada nas vozes infantis de Tatiana Pinheiro e dos irmãos Rodrigo e Diego Saldanha, que juntos criaram o grupo Os Abelhudos, nos transporta imediatamente para a década de 1980, mais especificamente 1985, ano em que o grupo foi revelado no Festival dos Festivais da Globo. A memória afetiva vem com tudo. O cenário era propício para os trios e grupos infantis como Trem da AlegriaA Turma do Balão Mágico, que surgiram na mesma época. Crianças prodígio vivendo seu sonhos e ansiando pela ‘promessa’ da vida na música. Tati Pinheiro vive esse sonho até hoje, investindo há 40 anos nele. E embora honre sua história, a ex-abelhuda trabalha em uma nova etapa da carreira, lançando em 13 de agosto o sucesso ‘La Puerta’, do repertório de Luis Miguel, com roupagem bossa-novista. Nesta quinta-feira Tati participa de uma live com Mauricio Branco em seu Instagram, as 21h para falar do trabalho.

Em entrevista exclusiva ao site, a cantora fala do novo momento, e também desfaz mal entendidos em relação aos ex-companheiros de grupo. “O rompimento com Os Abelhudos não foi exatamente um rompimento, não foi algo oficial. O que aconteceu é que não fui convidada para regravar clássicos do grupo. Era um pedido dos fãs que a gente regravasse inclusive ‘O Dono da Terra’, uma canção da minha época, mas a estratégia adotada por eles neste retorno, tem sido de fazer músicas da época da formação com a Renata Benévolo. Fiquei triste, porque é um presente que eu gostaria de dar para os fãs, mas não sou detentora da marca ‘os abelhudos’, então não tenho essa autonomia. Isso, de certa forma, foi bacana, porque me impulsionou a recomeçar”, desabafa.

"O rompimento com Os Abelhudos não foi exatamente um rompimento, não foi algo oficial. O que aconteceu é que não fui convidada para regravar clássicos do grupo. Mas isso me impulsionou a recomeçar" (Divulgação)

“O rompimento com Os Abelhudos não foi exatamente um rompimento, não foi algo oficial. O que aconteceu é que não fui convidada para regravar clássicos do grupo. Mas isso me impulsionou a recomeçar” (Divulgação)

“É um novo momento profissional. Agora estou lançando esse e outros singles, vem videoclipe por aí também. Tudo isso está me realizando. E de certa forma, só aconteceu agora, porque estou sendo obrigada a vivenciar esse ‘luto’, essa espécie de rompimento com Os Abelhudos. É claro que é uma história que faz parte da minha vida, eu honro e agradeço todos os dias, mas estou fazendo muita coisa boa para trazer para os fãs, acho que vão ficar felizes”.

Tati hoje no passado: "É claro que é uma história que faz parte da minha vida, eu honro e agradeço todos os dias, mas estou fazendo muita coisa boa para trazer para os fãs, acho que vão ficar felizes" (Reprodução)

Tati hoje no passado: “É claro que é uma história que faz parte da minha vida, eu honro e agradeço todos os dias, mas estou fazendo muita coisa boa para trazer para os fãs, acho que vão ficar felizes” (Reprodução)

Tati também será jurada da nova temporada do programa Canta Comigo Teen, da Record, em que ajuda a escolher novos talentos. “É uma experiência maravilhosa com a música e com um público que conheço de perto. Respeito muito todos os candidatos e minhas falas são sempre no sentido de motivá-los a seguirem em frente com esse sonho”, conta ela, que foi apadrinhada por ninguém menos do que Roberto Menescal, seu parceiro até hoje.

A artista realiza seu trabalho com cuidado, chamando à atenção para  o ‘peso’ que ser uma criança prodígio pode ter.  E divide a própria experiência. “Começar muito cedo, é lembrar do período como acordar de um sonho. As memórias são vívidas, reais, mas também entram num plano da fantasia. Tenho lembranças muito reais, como as idas ao programa da Xuxa Meneghel, por exemplo. De estar com a Glória Maria nos bastidores do Festival dos Festivais, que foi algo mágico, grandioso, me soa como um sonho, tinha 10 anos. Depois, fiz muito Video Show, o programa da Fátima Bernardes e de vez em quando faziam um ‘por onde anda’ comigo. Na época do Espaço Tatibitati, que foi minha escola de música por oito anos, muitos filhos de artistas faziam aula comigo, então saiam matérias. Mas só agora volto a levar a sério viver de música, já que ela não paga minhas contas há muito tempo, então abro um ciclo novo de fato”, compartilha.

"Tenho lembranças muito reais, como as idas ao programa da Xuxa Meneghel, por exemplo. De estar com a Glória Maria. Mas o Festival dos Festivais, que foi algo mágico, grandioso, me soa como um sonho, tinha 10 anos" (Arquivo Pessoal)

“Tenho lembranças muito reais, como as idas ao programa da Xuxa Meneghel, por exemplo. De estar com a Glória Maria. Mas o Festival dos Festivais, que foi algo mágico, grandioso, me soa como um sonho, tinha 10 anos” (Arquivo Pessoal)

“Fiquei nos ‘Abelhudos’ até os 13 anos, depois segui em trabalho solo. Até a minha experiência em Nova Iorque, onde fiquei por três anos gravando quatro CDs para o Japão, mas com produção americana. Ainda tenho uma memória misturada com realidade e ilusão disso tudo. Outro dia estava conversando com a Vanessa (de Carvalho), do Trem da Alegria, ela é muito minha amiga, e perguntei se para ela era assim também. Vanessa diz que as memórias mais recentes ficam com cara de memórias realmente, e as de criança, ficam com cara de sonho mesmo”.

Em nome dos fãs e da paz

A saudade das décadas de 80, 90 reacenderam os pedidos pela volta dos grupos da época. E foi nesse movimento que os fãs começaram a pedir para Tati nas redes o retorno da formação original para regravar alguns sucessos. “Uma coisa que aprendi com a maturidade e tanta busca por autoconhecimento, é que sempre existem duas versões dos fatos. Cada um vê do seu lado. A minha versão da história é essa e conto com sinceridade. Há cerca de três anos, fiz contato com o grupo, inclusive com a Renata Benévolo (da segunda formação), propondo regravar algumas canções e que até fizéssemos um quarteto. Até porque a Renata marcou história no grupo também. Propus a ideia, uma coisa intimista acústica, vi teatro, o Rodrigo fez lista de repertório. eles toparam, mas a gente começou a ter dificuldades de agendar ensaios e a ideia morreu. Agora, com a pandemia, eles lançaram uma música da época da Renata. Na ocasião, voltei a falar com eles e comecei a sentir que eu não fazia parte do projeto. Neste tempo, regravaram mais duas músicas. O Rodrigo deixou claro que não estava no planejamento regravar comigo, mas os fãs não paravam de pedir que fizéssemos uma versão de ‘O Dono da Terra’, que foi a música que lançou o grupo. Eles dizem que não teve volta do grupo, mas já regravaram três músicas…tem pix rolando nas lives para um possível show, dão entrevistas juntos…o que pensar? Tem uma volta, nem que seja pontual, não sei porque não admitir”.

"Eles dizem que não teve volta do grupo, mas já regravaram três músicas...tem pix rolando nas lives para um possível show, dão entrevistas juntos...o que pensar? Tem uma volta, nem que seja pontual, não sei porque não admitir" (Divulgação)

“Eles dizem que não teve volta do grupo, mas já regravaram três músicas…tem pix rolando nas lives para um possível show, dão entrevistas juntos…o que pensar? Tem uma volta, nem que seja pontual, não sei porque não admitir” (Divulgação)

O que acha que aconteceu para te excluírem? “Olha, não perguntei. Até porque, a todo tempo saíram pela tangente com essa história de planejamento, de marketing. O grupo nasceu da nossa convivência, com cada um de nós envolvido em tudo, então é como um ‘filho’ meu também. A Renata é uma ‘madrasta’, amorosa, claro, mas quem gerou esse ‘filho’ fui eu com eles, não é porque se apoderaram da marca que eu não fiz parte disso”, lamenta a cantora. “Lembro que na época fiquei muito chateada e talvez tenha sido até um pouco imatura quando falei tudo em uma entrevista, porque na verdade, meu objetivo era que os fãs soubessem o que estava acontecendo de fato. Acho, mas é só achismo mesmo, que o Rodrigo ficou magoado quando eu sai do grupo lá atrás, para seguir carreira solo. Cheguei a pedir desculpas pra ele. Éramos crianças, os pais resolviam tudo. Bom, ele disse que estava em paz com isso, mas pode ser uma mágoa antiga, vai saber?”.

Tati segue lamentando, o que para ela, poderia ter sido resolvido de outra forma, já que o passado é importante na trajetória de todos os envolvidos. “Tudo tão desnecessário. Até a Renata ficou chateada, parou de falar comigo e gosto dela. O Diego dizendo que quero aparecer em cima do grupo…gente, estou na TV, não preciso disso. A verdade é que ficou tudo muito chato. Os fãs se dividiram, alguns ainda pedem que a gente faça um show, nós quatro. Não vejo como isso seria possível, mas não descarto. Quero total a paz. Mas sei que tenho muita personalidade, o Rodrigo também, sempre ‘batemos de frente’ em algumas ideias, são dois líderes em um grupo e é difícil. E ali eu sabia que estaria sempre em desvantagem porque eles são irmãos, não por mal, mas porque era assim, desigual. Faz parte, foi o que foi possível, mas falo para os fãs a verdade. Ficou tão chato que o Rodrigo e o Diego me bloquearam no Instagram, porque os fãs me marcavam nos comentários e eu respondia, claro. Era mais simples eles dizerem, ‘peitarem’ o que queriam fazer. Virou uma ‘treta’ entre adultos, mas com comportamento infantil. Acho que são as nossas ‘crianças interiores’, que não sararam e cresceram, é que estão gritando. E se comunicam ainda com as ‘crianças’ dos fãs (risos)”.

E finaliza, dando o assunto por encerrado: “Tive que fazer um novo processo de ‘luto’ em relação ao grupo. Não posso usar nada da marca Os Abelhudos, que faz parte da minha história. Então, isso tudo me obrigou a criar uma Tatiana que se desvincule disso com o tempo. Tenho total competência para criar uma nova história musical no país. São quatro décadas, de uma forma ou de outra, semeando uma trajetória na música. Estou me profissionalizando novamente. Foi difícil, mas foi bom, encerrei um ciclo, sem apego”.

Reality musical

A cantora revela também o desejo de participar de um reality musical. “A visibilidade é boa. Não participaria de qualquer um, claro. Já tentei o The Voice no passado e adoraria fazer o Popstar. Alô, Boninho! (risos)”, diverte-se. “Já de um Big Brother não tenho vontade participar. Nem A Fazenda. Seria tentador, mas para a saúde mental, é um lugar cheio de ‘gatilhos’, feito para isso. Tenho transtorno de ansiedade. Não me colocaria neste lugar, porque não seria bom para mim. Mas em um programa de música, seria uma alegria imensa. Então, por mais que me deixassem tomar meu antidepressivo, meu remédio SOS, e também tenho a ferramenta do Reike comigo, que ninguém me tira, posso usar a qualquer momento, mas fico pensando no porquê de uma exposição à uma crise pública, sabe?”.

E completa: “Tive minha primeira crise de ansiedade aos 13 anos, mas na época, chamavam de estresse. Só de uns anos para cá diagnostiquei e trato. Com a pandemia, tive novas crises, até porque meus ‘gatilhos’ envolvem a falta de autonomia, doença, tudo que estava no ar. Como estava medicada, tinha outros recursos, administrei melhor. Foi aí que comecei a fazer as lives, sobre saúde e bem-estar, para ajudar quem estava vivendo o mesmo, e os fãs chegaram até mim, pedindo uma volta. Me senti muito querida e amada e vi que posso voltar. Tem quem me queira, sinta minha falta e queira minha arte. Nessa época, em uma live da Andrea Sorvetão, a produção da Record me chamou para o programa. A partir daí, veio tudo à tona, nasci para isso, trabalhar com a música. Temos que estar atentos aos sinais. Estou trabalhando, mas agora deixo o universo se movimentar. Quero utilizar da minha arte para levar um pouco de alegria e esperança para o mundo”.

"Temos que estar atentos aos sinais. Estou trabalhando, mas agora deixo o universo se movimentar. Quero utilizar da minha arte para levar um pouco de alegria e esperança para o mundo" (Divulgação)

“Temos que estar atentos aos sinais. Estou trabalhando, mas agora deixo o universo se movimentar. Quero utilizar da minha arte para levar um pouco de alegria e esperança para o mundo” (Divulgação)