Expoente do novo milênio, Tame Impala revive a psicodelia setentista que, no Brasil, volta a ser representada pelo Boogarins!


Seja no som dos australianos ou na vibe dos goianos, a loucura dos anos 1960/70 volta pouco a pouco ao gosto popular e encontra eco no Brasil, com os recentes shows de ambos os grupos

*Por Yuri Hildebrand Mais de 40 anos já se passaram desde a loucura dos anos 1960/1970. The Doors, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Rolling Stones, Led Zeppelin, entre outros. Retrato exato da época: lisergia, excesso de cores e luzes, além do som  extravagante. Entretanto, a onda musical que parecia distante, obsoleta e confinada a vinis empoeirados, parece voltar a florescer. Novas bandas vêm crescendo nesse meio e já começam a atrair os holofotes dos grandes festivais. Nesse meio, surge a exata psicodelia do novo milênio, definida sobretudo pelo sucesso do Tame Impala. Vindos da Austrália Ocidental, mais precisamente de Perth, a banda é composta por jovens músicos que se conheceram ainda adolescentes, tendo uma formação para gravações em estúdio – Kevin Parker, vocalista, guitarrista e principal compositor; Jay Watson, baterista e tecladista; e Dominic Simper, guitarrista, baixista, entre outros atributos – e outra para apresentações ao vivo – Cam Avery no baixo e Julien Barbagallo na bateria. Lançaram o primeiro álbum em 2010, o “Innerspeaker”, que introduziu de vez o grupo ao cenário internacional. Entretanto, foi apenas com o segundo álbum, “Lonerism”, que eles conseguiram maior status: apareceram pela primeira vez na lista das 200 melhores bandas eleitas pela Billboard em 2012. Se no exterior o grupo já encaminha seu sucesso, no Brasil o reconhecimento tem destaque neste ano de 2014, comprovado pelos shows realizados no Rio e em São Paulo, com ingressos esgotados e público respondendo positivamente.

Tame Impala voltou ao Circo Voador na noite desta quarta-feira (Foto: Ermando Neto)

Tame Impala voltou ao Circo Voador na noite desta quarta-feira (Foto: Ermando Neto)

Com um repertório cativante e espetáculo visual condizente com sua essência sonora, o Tame Impala vem conquistando cada vez mais os ouvidos dos brasileiros. Em Goiânia, uma banda inspirada nos australianos vem se destacando no âmbito nacional: o Boogarins que, com seu primeiro álbum, “As plantas que curam”, despertou a curiosidade daqueles que já acompanhavam o renascimento do rock psicodélico internacionalmente. Com forte presença de elementos da cultura brasileira, o Boogarins tem nisso uma importante característica, nos levando de volta às obras de arte da época de Mutantes, Secos e Molhados, entre outros. Se o Tame Impala é o nome de maior destaque nessa volta da música psicodélica ao cenário internacional, o Boogarins promete aumentar o sucesso do estilo, com aquela pitada única do som tupiniquim. Boogarins – “Lucifernandis” Antes de embarcar para São Paulo, onde tocou com nomes como Rodrigo Amarante, Cat Power e o próprio Boogarins, o Tame Impala teve uma missão em solo carioca: show próprio, patrocinado pelo site “Queremos!” (que merece sempre os parabéns pela atenção dada aos pedidos de internautas – o público compra ingressos antecipadamente, financiando a vinda da banda). Pela segunda vez no Rio de Janeiro, os australianos não desapontaram os fãs que encheram o tradicional Circo Voador na noite desta quarta-feira (26/11). Luzes, música e uma energia incomparável tomaram conta da tradicional casa de shows na Lapa, com o público acompanhando atentamente cada detalhe das melodias e improvisos que a banda preparou para o espetáculo. Durante o show, pausas para reverenciar os cariocas – e a cidade, considerada pelo próprio vocalista Kevin Parker um de seus destinos prediletos –, solos de bateria acompanhados de projeções e sintetizadores, além das letras simplistas, cotidianas e o retrato lírico de sentimentos que voltam a surgir nos jovens. O público, ao ouvir sucessos como “Feels like we only go backwards” e “Elephants”, fez coro, dançou e aplaudiu com veemência a banda, que promete voltar em breve. Tame Impala – “Feels Like We Only Go Backwards” Ainda não se sabe exatamente o que trouxe de volta o estilo psicodélico da música das décadas de 1960/1970, abafada pelo movimento pop e outros estilos que surgiram em seguida. Tão logo será possível dizer se a cena voltou para ficar ou se é somente um surto de época. O tempo permitirá a devida análise. Ao que parece, bandas como o Tame Impala e o Boogarins estão se firmando nos charts e no gosto popular, provando ter qualidade e criatividade suficientes para honrar nomes clássicos da música. Após alguns anos em reciclagem, a psicodelia volta aos palcos do mundo com ainda mais  novidades, porém mantendo o ingrediente essencial: a simplicidade do sentimento.