Sucesso na cena independente do ES, Fepaschoal se prepara para lançar novo álbum e disponibiliza “Contém Glúten” online


Música é o primeiro single de divulgação do álbum “O Canto do Urbanóide I”, que sofreu influências de Tom Zé a Daft Punk

*Por João Ker

Marcado para lançar em março do ano que vem seu segundo disco de carreira, “O Canto do Urbanóide I”, Fepaschoal é nome conhecido na cena jovem e independente do Espírito Santo. Mas seu trabalho não se restringe apenas ao estado capixaba. Paulista de nascença, Fernando já fez turnê pelo Brasil, tocou em todo o Nordeste e inclusive se apresentou no extinto Studio RJ, durante os momentos áureos da casa noturna.

Nesta semana, ele divulgou o seu primeiro single de trabalho, Contém Glúten”.  Com uma mistura de referências que vão de Tom Zé a Daft Punk, a música traz aquele aroma de novo – que, como diria Elis Regina, “sempre vem” – destoando – e muito! – de grande parte de músicas que toca hoje em dia nas rádios, com um discurso que foge da manipulação de gravadoras e seus manequins robóticos. Como HT adora ver de carteirinha a ascensão de um talento de verdade, batemos um papo com o rapaz sobre o atual estado da indústria fonográfica (lê-se reality shows competitivos e divulgação gratuita e online de músicas), inspirações, projetos e o quê que o Espírito Santo tem. Vem ler (e ouvir!):

HT: Você tem várias referências a locais e gírias capixabas em suas músicas. Como o Espírito Santo influenciou no seu som, considerando que você é paulista?
FP: Eu cresci aqui. Cheguei adolescente e me enturmei com uma galerinha que ouvia rock. Começaram as bandinhas e as primeiras experiências com música em uma cena mais que underground em Guarapari. Depois entrei na universidade, e foi uma época de muita abertura auditiva. Foi quando fundei com amigos o coletivo Expurgação. Nós tocávamos improvisando pelos corredores da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). O Espírito Santo é um estado pequeno e isso permite que os artistas locais se conheçam e troquem figurinhas com frequência. Isso também influencia. Acho que todos esses períodos, desde que me radiquei capixaba, são importantes na música que faço.

HT: Suas músicas têm várias influências, do rock ao samba. Quais artistas você costuma ouvir para buscar referências e qual seria uma “colaboração dos sonhos”?
FP: Olha, eu não sou de fazer  top lists da vida, sabe? Há fases em que se escuta isso, fases em que se escuta aquilo… Para fazer O Canto do Urbanóide” ouvi um bocado de Frank Zappa, Fela Kuti, Medeski Martin and Wood, Beastie Boys, Daft Punk, Luís Melodia, Walter Franco… Claro que tenho alguns cânones, como [Gilberto] Gil, Caetano [Veloso] e principalmente Tom Zé. Tom Zé, tá aí um cara a quem eu me curvo respeitosamente e sonho em conhecer um dia.

Fepaschoal (Foto: Divulgação)

Fepaschoal (Foto: Divulgação)

HT: Como você vê o atual cenário da música no Brasil quanto à visibilidade dos novos artistas independentes, principalmente aqueles que estão fora do eixo Rio-São Paulo. Acha que a indústria é receptiva? Como faz para divulgar sua música?
FP: Produzir música nunca foi tão fácil. Músicas novas se proliferam com tamanha rapidez. Eu não sou do time preciosista que acha que isso é ruim. É claro que a probabilidade de músicas ruins se proliferarem é grande, mas isso não anula o surgimento de ótimo material. É inegável que o grande celeiro para isso tudo seja a internet. Acredito que hoje ser escutado está bem mais fácil para aquele artista que não vive no eixo RJ/ SP, como também é muito fácil para um músico do eixo RJ/SP ficar ecoando num limbo digital. A diferença se mostra no trabalho de quem tem uma boa equipe estratégica para dar amplitude ao seu produto ou naqueles que conseguem emplacar um hit genial. Meu caso não é lá esse exemplo de inserção no mercado musical do Brasil. Para divulgar meu som, conto com o método de semeadura digital e boataria: amigos que compartilham para amigos, que compartilham para amigos e por aí vai… E também e-mails a possíveis interessados.

HT: Você já tocou em vários lugares do Brasil, inclusive aqui no Rio, na época do Studio RJ. Qual foi seu show mais memorável e por quê?
FP: Pergunta difícil. Acho que as duas turnês pelo nordeste foram inesquecíveis. Mas, no final do ano passado, aqui em Vitória mesmo, fizemos um show memorável na Casa.Lab. Foi muito massa ver o público cantarolando junto minhas canções.

HT: Você participaria de um reality show como o “The Voice”, “Ídolos” ou “Superstar”? Por quê?
FP: Não. Não gosto do formato. Não gosto da proposta. Não gosto da estética. E sei que eles também não gostariam de mim.

Fepaschoal (Foto: Divulgação)

Fepaschoal (Foto: Divulgação)

 

HT: O que você vê de tão particular da cena cultural capixaba que não encontra em outros lugares?
FP: Vejo que aqui temos muitas pessoas fazendo trabalho autoral e, absolutamente, são todos diferentes entre si, não há tendências pré-estabelecidas. A cena atual é uma verdadeira salada, e, o que é mais lindo nisso  tudo, estão todos conectados de alguma maneira, seja no compartilhamento de integrantes de banda ou no de um baseado ou cerveja, rs. Há quem diga que isso é panelinha, eu discordo. Na minha opinião, são pessoas sensíveis que comungam do mesmo sentimento pela música.

HT: O que você acha sobre a disponibilização gratuita de músicas na internet e a pirataria online?
FP: Sou filho do napster. Ai de mim se cuspir no prato em que comi. Estou de luto pelo Pirate Bay

HT: Quais as diferenças entre “O Canto do Urbanóide I” e “Comando Guatemala”? O que mudou em você como artista e no seu próprio som durante esse quatro ou cinco anos?
FP: “Canto do Urbanóide” traz um som mais pesado que Comando Guatemala” e, por mais que pareça estranho, tem uma verve popular mais pulsante também, porque me permiti usar mais refrões e repetições nas letras e também fazer arranjos dançantes. Eu, como produtor, me sinto mais cuidadoso nos processos de criação e produção do que fui no disco anterior. Os convidados que trouxe para o novo disco [Edu Szjanbrum (percussão), Huemerson Leal e Henrique Paoli (bateria), Manel Fogo e Jackson Pinheiro (baixo), Jeremy Naud (teclados), Gil Mello (guitarra), Fernando Zorzal, Aline Hkrasko, Yuri Guijansky, Thiago Perovano e Manel 7Linhas (vocais e back vocals)] também fazem toda a diferença e devo dizer que, sem eles, o disco não sairia.