Conhecida como uma das principais representantes da arte Drag no Brasil, Glória Groove, que já fazia sucesso como Daniel Garcia, explicou que não se reconhece com o gênero feminino nem com o masculino especificamente. Para ela, sua identidade é fluida e não está delimitada às suas roupas “de menina” ou “de menino”. Aos 23 anos, a artista já fez parte de uma das formações do programa Balão Mágico, além de ter uma consolidada carreira como dubladora, dando a voz em seriados como Hannah Montana, Digimon Xros Wars e Power Rangers: Megaforce. Ainda assim, fazendo uma retrospectiva de sua vida profissional, Glória admitiu: “2018 mudou completamente a minha vida”.
A rapper, que só descobriu o seu eu artístico depois de Glória Groove, não se enxerga como um personagem quando está montada. Assim como Larissa está para Anitta, Daniel está para Glória, sendo apenas uma versão mais artística da mesma pessoa. Ainda que hoje ela esteja muito bem resolvida com a sua identidade, em conversa com o site HT, assumiu não ser sempre assim: “Eu não tinha conhecimento do que é ser uma drag queen. Acreditava ser uma arte marginalizada e muito distante de mim, mas quando eu vi essa arte englobar tantas questões, eu me entendi dessa forma também. Drag desconhece barreiras de gênero”.
Crescendo cada vez mais no território e nos corações dos brasileiros, essa arte desperta nomes como Pablo Vittar, Lorelay Fox, Lia Clark e Aretuza. Além disso, traz protagonismo e relevância à temática, por meio do reality RuPaul’s Drag Race, sucesso no Brasil, e da mais recente série da Netflix, Super Drags, primeira animação brasileira da plataforma. Para Glória, o atual contexto é importante: “A partir do momento que a arte drag passa a invadir a cultura de massa e se populariza, isso tem uma importância maior do que o cultural, porque estamos falando da vida de várias pessoas. Ser drag queen, apesar de ser uma arte que não se encaixa em um recorte específico, conversa com o recorte de muitas pessoas, de muitas minorias. A importância está em trazer um sentido, uma possibilidade para a vida de alguém que pensava não ser possível. Eu acho que me encaixo nesse lugar”.
Inspirada por artistas como Flora Mattos, a cantora, que compõe a maioria de suas músicas, contou que suas referências vêm daqueles que passam mensagens importantes com facilidade. “Eu me inspiro em compositores que brincam com as palavras. Tenho uma loucura nisso de encher uma música de referências”, afirmou ela, que fez uma participação no single “Provocar” da cantora Lexa. A funkeira, por sua vez, demonstrou muito orgulho da participação autoral de Glória: “O talento e o brilho dela me chamaram muita atenção. Eu pensei ‘nossa, tem tudo a ver! Acho que vai encaixar de uma forma sensacional’. Então, ela escreveu a parte dela, fazendo um flashback da minha vida e eu quase caí para trás. Eu e Glória trabalhando juntas foi o casamento perfeito”. Assumindo estar em constante aprendizado, a drag contou que nem sempre tem essa facilidade para compor sucessos. “Foi um desafio na época da gravação de ‘bumbum de ouro’. Tive que me redescobrir enquanto alguém que pudesse fazer algo popular. Eu quebrei muito a cabeça até chegar a algum lugar, uma verdadeira escola para mim, me forcei a enxugar a minha linguagem para me conectar”, afirmou.
A cantora, que já foi fã da atual parceira, trouxe para o hit a relevância de misturar ritmos, inserindo o tipicamente brasileiro pagode baiano. Para ela, alguns anos atrás seria impensável um gênero musical como esse fazer sucesso no mainstream. Com ousadia e confiança, a artista fez uma aposta: “Qual será o próximo estilo legitimamente brasileiro a ser trazido para o mainstream? Estou disposta a ser a pessoa responsável por isso”. Focada em difundir o sucesso de “Provocar” pelos próximos meses, Glória não falou especificamente sobre novos sucessos, mas quer continuar trabalhando pela representatividade. “Precisamos de cada vez mais expressões de gênero, identidades, expressões artísticas, quanto mais diverso melhor. É tudo que eu quero para mim”, finalizou.
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