Por Rafael Moraes
‘Bom começo vira os sonhos pelo avesso’. A frase da música ‘Bom Começo’, define muito bem seu compositor, Rodrigo Suricato. Quem acompanha o artista em suas redes percebe que sua busca por novidades é constante e, dessa vez, ele levou essa pesquisa à máxima potência ao lançar seu primeiro álbum ao vivo, ‘Banda de um homem só’. E no melhor estilo ‘one man band’ brasileiro, modernizando o estilo criado por músicos de rua no início do século XIX. “Trata-se do maior desafio da minha carreira. Uma performance extremamente complexa e única que, finalmente, as pessoas terão a oportunidade de conferir. Ter me tornado um homem banda tem a ver com minha busca interna e espiritual. Meu corpo inteiro produzindo música me traz uma sensação divina de conexão. Há cinco anos pesquiso sobre esse formato. Sinto uma sensação de fechamento de ciclo”, explica.
Com a criatividade pulsando, em meio a essa pandemia causada pelo novo coronavírus, Suricato acaba de receber uma nova indicação ao Grammy Latino, além de três discos lançados e dois singles. Entre eles, ‘Astronauta’ com a banda Melim. Em agosto, o guitarrista fez uma live em que reuniu as principais canções dos três discos anteriores. O resultado dessa performance já pode ser conferido pelos fãs. O primeiro de dois EPs, contendo também três faixas inéditas e releituras inusitadas, como ‘Olhos Castanhos’, de Luísa Sonza, ‘Nosso estranho amor’, Caetano Veloso e o clássico ‘Purple Rain’, de Prince.
Ao longo dos quatro álbuns é possível perceber um processo de evolução musical do artista, mostrando um Rodrigo sempre vanguardista. “Sou minha cobaia. E um entusiasta da carpintaria do indivíduo. Com o amadurecimento percebi que escolhi o difícil caminho das artes justamente pela liberdade que ela me proporciona. Acredito que o processo seja a própria arte; nada se iguala à complexidade de transformar um vapor de pensamento numa canção de três minutos”, reflete.
A tradição da ‘banda de um homem só’ é forte em diferentes culturas. Para Rodrigo, mergulhar nessa experiência multi instrumentista foi altamente inovador, principalmente pela performance em si. “Estudei por seis anos uma maneira de me auto-acompanhar e incorporar em alguns momentos a mesma pressão sonora de uma banda. Fora isso fui movido pelo desejo de modernizar e afastar a vulnerabilidade de um estilo normalmente associado à dureza das ruas, à precariedade e busca pela sobrevivência. Sinto que é a primeira vez que a criatividade do Rodrigo guitarrista é usada ao meu favor”, ressalta.
Durante esse período de isolamento social, o artista começou a revirar seu álbum de memórias. “Assistir pessoas cantando nas varandas de casa foi muito comovente”, conta. Por isso Rodrigo mergulhou no baú de canções que fizeram parte de importantes momentos da sua vida e que originou o ‘Suricateando’. “Esse foi meu jeito de trazer algum conforto para as pessoas. Se você escutá-lo terá a impressão que estou dentro da sua casa. Fora isso, decidi que meu primeiro disco como intérprete deveria sair das minhas referências mais óbvias de blues e rock. Sou um roqueiro que ama Raça Negra“, brinca. E completa: “Essas músicas eu costumo cantar nas festas aqui em casa e todo mundo adora. ‘Deslizes’, por exemplo, ganhou carimbo de qualidade do próprio Michael Sullivan. Uma honra sem tamanho”.
O nome ‘Suricateando’ veio de uma brincadeira dos fãs para dizer que toda canção que ele acaba interpretando fica com a sua cara. “Fico feliz de ter um traço meu. Suricatear o Rodrigo é minha profissão”, frisa. A capa desse disco é uma fofura sem tamanho, ‘It Malia’ total. O artista segurando sua primeira ‘guitarra’. “Uma das maiores expressões da geração dos anos 80 era montar uma banda. Como filho caçula, temporão, observei meus irmãos com enorme entusiasmo pela música, tocando violão e escutando discos. Mas só decidi que era isso que queria pra vida ao escutar a guitarra de Eddie van Halen, que morreu esta semana. Ele foi meu primeiro grande amor”, revela.
Suricato mantém uma relação muito próxima com seus fãs pelas redes sociais. Em vários momentos ele cita: “Eu nasci guitarrista. Compositor, eu quis ser. O único talento que vi surgir em mim de forma natural foi como guitarrista. Todos os outros foram frutos da escassez e da necessidade. Ser um prestador de serviços para os artistas e não aflorar o artista que tinha dentro de mim seria auto-sabotagem. Feliz pelo artesanato constante do que sou”, conclui.
Artigos relacionados