*Por Tatiana Magalhães
Marina Lima é uma vitoriosa. Mesmo com a voz um pouco mais rouca e frágil, jamais perde a densidade no palco, ainda proporcionando momentos de arrepio. Foi o que o público conferiu nesta noite de segunda-feira no Theatro Net Rio em show intimista como é possível ser em uma casa desse porte. Sim, a cantora está de volta à cidade-maravilha, após se apresentar meses atrás no Miranda, Rio, e tendo voltado, de uns tempos para cá, a fazer shows pelo Brasil afora, todos com essa aura cult. Agora, ela demonstra de fato ter superado a tal depressão que já rendeu muitas notícia e que, felizmente, é página virada. Mais uma vez, os fãs correram para assistir e ver quantas anda o potencial da cantora depois de tantas perdas. Mas ela continua sabendo emocionar. Com novo show, intitulado “Maneira de ser”, totalmente inspirado em seu livro homônimo, ela traz releituras de seus maiores sucessos que, segundo a própria, “foram escolhidos a dedo seguindo um critério de identificação”. No caso, identificação dela com seu repertório, e também do público para com ela. Acompanhada pelo seu trio companheiro de longa data – William Magalhães no teclado, Alex Fonseca na bateria e Edu Martins no baixo – ela mostrou que ainda rende bons momentos. Aliás, ótimos.
Não deve ser nada fácil para uma cantora que assinou seu primeiro contrato com uma gravadora aos 17 anos (Warner Music, um gigante quase absoluto naqueles tempos) e que tem em seu currículo quase 20 álbuns lançados, sem contar com as coletâneas, se manter de pé, após tantos anos de estrada. Mas isso, ela mostra tirar de letra, escolhendo, dentre inúmeros sucessos, aqueles com os quais ela mais se identifica, até porque todas as suas músicas são auto biográficas. Mas foram feitas boas escolhas. O show já começa com um dos maiores hits da cantora, “Virgem” (“O hotel Marina quando acende…”). Quem, dos trinta para cima, nunca curtiu uma fossa com esse som que atire a primeira pedra. Em seguida, ela entoou algumas nem tão famosas assim, mas não menos intensas, como “Pseudo Blues” e “Minha Voz”.
Fotos : Vinícius Pereira
Ela começa quase sussurrando sucessos, praticamente declamando as músicas, como uma figura à meia-luz. Ou à meia-sombra, um espectro, já que o light design se encarrega de impregnar tudo com certa atmosfera de penumbra, que até convém a um espaço com o Net Rio. O local está cheio, composto majoritariamente por gente que compôs seu público fiel escudeiro nos anos 1980 e 1990, mesmo sendo uma segunda-feira, início de semana. Curioso até, já que esses sentiram o tempo passar, envelheceram (no físico) naturalmente, enquanto Marina ainda conserva a mesma silhueta esguia e elegante de sempre, como se os radicais livres houvessem desviado de caminho na hora de encontrar o corpitcho da artista. E a luz teatral, nessa hora, assume a função de destacar ainda mais que, não fosse a questão das cordas vocais, tudo está como antes, conservado no tempo como um delicioso pickles.
Um dos pontos altos do show é quando a cantora confessa sua paixão por Tom Jobim e surge então, em um telão atrás do palco, a projeção da primeira e única vez que cantou com o músico, uma homenagem aos 60 anos do maestro. Marina revela ao público o fato de este ter sido o momento mais importante de toda sua carreira. Motivo suficiente para quebrar o gelo da plateia, até então um pouco seca. Depois desse momento-nostalgia, é só alegria e o público, que até minutos antes ainda estava tímido, se entrega. A emoção flui em sua totalidade quando a sequência “Fulgaz”,“Charme do Mundo” e “À Francesa” fecha o espetáculo. Houve alguns que até se arriscaram a levantar da cadeira para arriscar uns passinhos, arrancando olhares de uns e aplausos de outros. Tudo bem. É noite de celebração, como quando uma amiga querida volta do limbo e alegra todos com sua presença. Marina volta para o bis já cantando. Dever cumprido.
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