Veteranos dos palcos do Rock in Rio, os mineiros do Skank começaram os trabalhos do segundo dia do palco mundo elevando a temperatura ao disparar sua metralhadora de sucessos. É uma Partida de Futebol, Proibido Fumar, Ainda Gosto Dela, Jackie Tequila, Vou deixar, Garota Nacional, Saideira e assim por diante, em um set list enxuto de 14 canções. Uma delas, aliás, Indignação, do primeiro álbum da banda, eles não cantavam há muito tempo. Samuel Rosa, vocalista do Skank, explicou o motivo de ter trazido de volta essa pérola do cancioneiro do pop brasileiro.
“Queria fazer um apelo à classe política: que não tornasse tão ardua a missão de enxergar um pouco de moral neles. Acredito no Brasil, não acredito é na classe política. O nosso dinheiro está escorrendo pelo ralo, nesse leva e traz de malas, verba que devia estar indo para a educação, para estradas, para os hospitais, tudo sendo trocado por vantagens econômicas de determinados grupos. Os políticos brasileiros são piores que ladrão. Vocês matam gente. Por isso, a gente resolveu voltar a cantar essa canção, porque vocês, políticos, nos fizeram ficar ofendidos e indignados”, disse Samuel, sob o coro da plateia de “Fora, Temer”. Mas nem só de manifesto se fez o show, já que Samuel também se emocionou e fez declarações de amor ao público de 100 mil pessoas que esgotou os ingressos desse sábado.
“Vocês emanam vibrações incríveis que varrem o Brasil e o mundo. O planeta inteiro assiste a esse festival. É um desafio para qualquer banda, mas essa conexão que estamos vivendo agora é uma emoção sublime. Por mais tarimbados que estejamos e por mais tempo de estrada que tenhamos, é sempre incrível estar aqui”, sentenciou. Foi um show, de fato, com uma conexão forte com a plateia, que não parou de pular nem cantar por nem um segundo. Talvez a melhor apresentação do Skank no palco do Rock in Rio.
Ao fim do show, a banda recebeu o site HT para um papo rápido no bastidor. E, claro, começamos perguntando sobre o discurso político no meio da apresentação. “Foi algo natural, não tive a intenção de instruir alguma coisa. Basta apenas a pessoa ligar a TV e abrir um jornal que vai se indignar com as coisas que estão acontecendo no Brasil. Isto é muito perverso. Eles estão muito distantes da gente, é uma espécie de sub-raça humana. Eles não se parecem com nós, são outra coisa. Como um cara abdica da vaidade de deixar o nome na história por ser uma pessoa legal para roubar alguns milhões e comprar uma lancha e uma casa? Acredito ser melhor a lembrança no mundo por algo bom, deixando o legado para a família e amigos”, indagou o vocalista e também guitarrista.
Além de Samuel, a banda é composta por Henrique Portugal, Leo Zaneti e Haroldo Ferretti. Juntos, eles são veteranos quando o assunto é Rock in Rio já tendo participado da versão portuguesa do evento que rola em Lisboa. Por isso não existe mistério quando o assunto é festival já que eles conhecem a dinâmica da marca. Mas eles garantem que a emoção continua sendo a mesma ao subir no palco. “É muito difícil subir ao palco com tanta gente esperando por nós, pessoas na nossa frente e milhares nos assistindo pela televisão, e não sentir frio na barriga. O dia que nós não sentirmos mais isto é melhor nos aposentarmos porque já não faz mais sentido”, afirma o baterista Haroldo Ferretti.
Como eles já se sentem em casa, citaram alguns nomes que entrariam no dia perfeito para a banda como The Who, Led Zeppelin e John Lord. Mas não adianta sonhar muito e eles sabem disso. Por isso contaram quais são as atrações mais aguardadas pelos integrantes. “Queremos ver no palco Nação Zumbi, Ney Matogrosso, Red Hot Chili Peppers e The Who. Estamos ansiosos”, contou Haroldo.
O sentimento de carinho pelo evento não para por ai. Pelo fato dele ser sediado pela cidade maravilhosa aumenta a carga de importância que a banda dá ao festival. Afinal, os mineiros de Belo Horizonte respiram carioquice. “O Rio é a nossa cidade, somos da época do Canecão. Erasmo Carlos falou uma vez que nós somos os mineiros mais cariocas que ele conhece. O Skank tem muita coisa desta cidade no seu som. No primeiro álbum, por exemplo, temos uma música que se chama Baixada News que é uma crônica sobre o Rio de Janeiro. Temos a canção Balada Do Amor Inabalável que é uma verdadeira Bossa Nova de mineiros. Vivemos bons momentos aqui. O disco Calango foi gravado aqui e o festival é muito especial para nós”, relembrou Samuel que foi complementado pelo baixista Leo Zaneti: “Recentemente fizemos um show chamado Viva Jorge Ben Jor trazendo músicas dele. Temos uma veia carioca cultural muito forte”.
Para os fãs, cariocas ou não, a banda está programando uma grande novidade. Em comemoração ao aniversário do terceiro álbum do Skank, eles pretendem gravar um show do disco Samba Poconé, no Circo Voador. No entanto, o projeto ainda está em fase de criação. “Ainda estamos na fase de revisitar o início da nossa carreira. Não selecionamos totalmente o nosso repertório. Ainda existem algumas músicas que estamos mexendo no som. Foram poucos ensaios”, explicou o tecladista Henrique Portugal: “O Samba Poconé completou vinte anos e achamos que merece um registro ao vivo, mas ainda não sabemos o quanto este show terá deste disco e dos outros dois álbuns. A galera gosta muito do início da nossa carreira, da mistura com os ritmos jamaicanos”.
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