“Sinto que hoje as pessoas estão mais no modo ‘meme’: mais debochadas, não dão tempo à emoção”, diz Letrux


A cantora lança o registro do seu show “Letrux – Em noite de Climão”, através do seu canal no YouTube. Com direção de Tata Pierry, a gravação realizada no auditório Ibirapuera eterniza o show que lotou plateias no Brasil e em Portugal nos últimos dois anos.no YouTube a gravação realizada no auditório do Ibirapuera do disco que a projetou em carreira solo, fala de curiosidades do trabalho, dos “climões” por aí e revela que o segundo álbum sai depois do Carnaval: “Quis dar continuidade com a minha galera. O que tem depois daquilo tudo? Do furacão? O segundo é mais sobre se emocionar. O primeiro é meio maluco, é climático, tem o gozo e tem a fossa”.

*Por Brunna Condini

Letícia Novaes, a Letrux, lançou nesta quinta-feira o registro do seu show “Letrux – Em noite de Climão”, através do seu canal no YouTube. Com direção de Tata Pierry, a gravação realizada no auditório Ibirapuera eterniza o show que lotou plateias no Brasil e em Portugal nos últimos dois anos. O trabalho, um disco com 11 faixas, marcou a estreia solo da artista carioca. “Esse trabalho mudou tudo. Me catapultou, fiz shows fora do Brasil. Transformou minha vida profissional e como ser humano. Ter esse registro é demais, se torna inesquecível”, diz Letrux. “Foi uma equipe deslumbrante. Não é um simples registro de um show ao vivo: é dramático, teatral, cinematográfico. E além disso, acho o auditório do Ibirapuera lindo. Tem a coisa do formato de teatro, de onde vim, tanto que meu show é performático, mas mistura a natureza no cenário. Um lugar perfeito. Fizemos muitos shows, mas não fomos para o Norte e para algumas cidades do Nordeste, por exemplo. Então, colocá-lo no YouTube é uma forma de sentir esse show ao vivo, pirar junto”.

Letrux no êxtase do palco em “Noite de climão” (Crédito: Sillas Henrique)

Tata Pierry, que tem em seu currículo trabalhos com nomes como Gal Costa, Chico Buarque, Maria Bethânia e Zeca Pagodinho, diz que o “Climão” possibilitou um registro “catártico e climático”, bem na vibe das músicas do álbum, que tem participações do músico e namorado de Letícia, Thiago Vivas, em “Amoruim”, e também de Marina Lima, em “Puro Disfarce”. “Marina é minha madrinha profissional e amorosa. Foi ela que me apresentou o Thiago. Então, ela não podia faltar”, diz Letícia. “Ela é inteligente, tem muito viço, é minha musa máxima”.

Com Marina Lima que faz participação no projeto: “Ela é minha madrinha profissional e amorosa” (Crédito: Sillas Henrique)

No registro, Letrux/Letícia leva para o palco músicas e letras dramáticas, com ironia e um pouco de tragicomédia, tudo para falar de amor. A intensidade dá o tom. Ela destaca a importância de falar de amor e sensibilidade, em tempos de retrocesso e ódio. “Sinto que hoje as pessoas estão mais no modo “meme”: mais debochadas, não dão tempo à emoção. Também sou piadista, sou do meme, mas gosto de mergulhar fundo nas emoções”, garante. “Choro com tudo. Se pegar filme no meio, choro. Choro de maltrato, de beleza, de saudade dos meus sobrinhos que moram longe”, confessa.

“Foi uma equipe deslumbrante. Não é um simples registro de um show: é dramático e cinematográfico” (Crédito: Sillas Henrique)

Ela aproveita para revelar algumas curiosidades sobre alguns “efeitos colaterais” do seu primeiro disco, que desde 2017, quando foi lançado, rendeu prêmios como o de “Melhor Disco do Ano”, pelo Prêmio Multishow, e “Melhor Produção”, pelo Women Music Event. “Quando coloquei o nome do disco de “Climão” acho que atraí essa coisa mais “climática” mesmo para perto de mim. Já tive situação de subirem ao palco, pegarem o microfone e falarem altas barbaridades”, conta. “Teve uma vez também que fui dar mosh, o público foi me levando e não consegui voltar para o palco, tiveram que me resgatar. Sou meio rainha do “climão”. Também já fui muito estabanada, cometi muita gafe, falei o que não devia, mas estou mais concentrada. É lindo ser espontânea, ser solta e livre, mas é bom ter cuidado senão você vive em estado de “climão””.

“Mais jovem, era mais impulsiva. Fui aprendendo com os erros, a vida é uma honra, uma dádiva” (Crédito: Sillas Henrique)

E na opinião da artista, qual o maior “climão” que vivemos atualmente no país? “ Nossa, no Brasil são muitos. Acho que a maior fria, é essa tríade de prefeitura, governo e governo federal. Temos um prefeito que é sinônimo de calote, e um governo péssimo, assassino. Esperava mais para a gente. Mas estamos aí: resistência e luta sempre”.

Letícia é direta, mas doce. Com discurso potente, a cantora conta que já sofreu muito bullying no passado. “Falavam de tudo: do nariz, do fato de ser alta, do cabelo, da minha existência’, lembra. “Não reagia. Guardava, fui ler poesia, fazer teatro e exorcizei. Mas na hora não tinha muita força para responder, achava agressivo. Anos depois, fui tratar”, confidencia. “Acho que as pessoas hoje estão com mais consciência corporal, das suas individualidades. As revistas que antes queriam adolescente iguais, hoje celebram “corpo livre”, “seu corpo, suas regras”. Eu não sabia me defender muito do bullying, mas acho que essa geração está mais atenta, mais preparada”.

Em cena: “Meu show é performático, dramático, vim do teatro” (Crédito: Sillas Henrique)

Ainda na linha “muito franca”, ela comenta sobre os radicalismos de posicionamento e polarização nas redes sociais. “Hoje as pessoas se sentem donas da verdade. Não é porque é sua opinião que você pode sair falando, tem que ter argumento. Tem uma galera que cheira cocô, porque a gente fala, apresenta argumentos, números e não adianta. Isso é perigoso”, aponta. “ Não costumo ter problemas nas redes. Tenho uma boa relação com meus fãs. Acho que percebem que sou esquisita e legal ao mesmo tempo. Não gosto de quem me chama de “fada”, “perfeita”. Digo: “Não sou, faço análise”. E tem gente que parece fã, mas não é. Na primeira coisa que você faz e ele não curte, diz: “Que decepção! ”. Isso não dá. Quero um amor forte, que perdoe a subjetividade humana, até de fã”.

“Sinto que hoje as pessoas estão mais no modo “meme”: mais debochadas, não dão tempo à emoção.” (Crédito: Sillas Henrique)

No melhor clima de resoluções de ano novo, Letrux conta que tem ficado mais cuidadosa com o passar do tempo e pretende continuar assim. “Mais jovem, era mais impulsiva. Fui aprendendo com os erros, a vida é uma honra, uma dádiva. Queria ter malhado, mas cedo, por exemplo”, diz, bem-humorada. “Me cuido muito mais hoje, aos quase 38 anos (ela faz em janeiro). Todo mundo acha que eu vivo uma rotina da noite, por ser cantora, fazer shows e tal, mas não. Gosto de acordar cedo, ir à praia. Amo show de dia. Sou solar, gosto de passeios diurnos, quando vai dando a noite, vou ficando cansada”.

A cantora revela também, como pretende passar a virada para 2020. “Talvez me mude, vá da Tijuca para Copacabana. Então, será um Réveillon entre caixas”, conta. “Mas gosto de mentalizar coisas bacanas. Falo em voz alta o que quero tirar da minha vida, e também, o que desejo que entre. Sou espírita. Meu pai é da umbanda, então me considero umbandista, mas também sou capaz de rezar para São Pedro, por exemplo. Sou aberta à positividade de todas as religiões e nada aberta as esquisitices de doutrinação”.

E o que vem por aí? “Já estamos trabalhando no disco novo, que será lançado depois do Carnaval. Quis dar continuidade com a minha galera. O que tem depois daquilo tudo? Do furacão? Meu segundo disco é mais sobre se emocionar. O primeiro é meio maluco, é climático, tem o gozo e tem a fossa”.

“Acham que eu vivo uma rotina da noite, por ser cantora, mas não. Gosto de acordar cedo, ir à praia” (Crédito: Sillas Henrique)